Ohana:
Era manhã de domingo, a exato um mês antes das férias. Eu mal sabia como sair do quarto e encarar meu pai lá fora, que provavelmente já tomava café da manhã com todo o resto da família. Levantei da cama, tomei um banho gelado, e de toalha mesmo permaneci a observar através da janela. Era uma bela vista. Morávamos no sul da Califórnia, em San Diego. A gestação da minha mãe tinha sido planejada aqui, eu tinha nascido aqui, e aparentemente também morreria aqui.
As gramíneas tomavam conta de toda a vista, misturadas ao verde do capim que se estendia até a beira da praia, que eu poderia até dizer que estava no nosso quintal.
Dada as condições, sim... éramos uma família de biliardários, e não, isso não era nada bom. O dinheiro não vinha de uma empresa rentável ou de um acerto grandioso na loteria. Vinham de cargas e mais cargas de armas e narcotráfico pelas maquiladoras do México. Eram empresas quais os trabalhadores ganhavam menos do que aqueles que trabalhavam nas matrizes. Empresas quais transportavam seus produtos estrangeiros para receptores, como grandes marcas de veículos, computadores ou seja lá o que mais. Basicamente meu pai dominava parte delas, com sua avassaladora forma trágica de passar carradas e carradas de drogas e armas. Como se brincasse de mágica na frente da polícia e sorrisse deles ao conquistar seu império. O México era sua fonte, a Califórnia, sua área de venda. E como isso parecia tão fácil? Simples, ele era dono de parte dessas empresas maquiladoras. Um amigo descarado do presidente, que ganhava uma parte mantendo o silêncio e a integridade do homem que eu chamava de pai, ao menos.
-Gregory: Papai está esperando por você. - ouvi o soar da voz rouca, do garoto de olhos claros.
-Ohana: Virou assistente dele? - questionei com um esboçado sorriso idiota.
-Gregory: Achou que sairia escondida na madrugada e ele não saberia? - ele sorriu da mesma maneira. - Você só pode ser burra, ou cínica.
-Ohana: Como você aparentemente... eu não fui a única a sair na madrugada, não é Gregory? - eu aproximei-me, dando-lhe um leve empurrão no peitoral.
-Gregory: Vai se dar mal... - ele soou óbvio, antes de sair e bater a porta com força.
Ele era assim, um tremendo estúpido, arrogante que queria se achar o certinho. Igual o papai. O imbecil de um playboyzinho mimado e extremamente irritante. Eu o odiava? Diria que quase sempre, ele estava sempre me perturbando. Mas me protegia, me protegia como ninguém. Isso... quando queria.
(...)
Desci as escadas e assim que passei pelo corredor e adentrei a sala de estar, fitei o mais velho no sofá. Ele moveu a cabeça em um assentir milimétrico, e logo vi Joe, sem capanga favorito deixar a sala. Seu olhar maquiavélico fixou-se em mim e eu senti como se toda minha estrutura pequena pudesse balançar. Ele era um maldito, tinha se tornado, desde que assassinaram minha mãe no salão de estar... minutos após o casamento.
-Yoseph: Gosta de chamar atenção, ou quer se fazer de idiota enquanto sai na madrugada? Literalmente debaixo do meu nariz. - ele soou ríspido e eu engoli em seco.
Fitei o corte de cabelo, um exemplar Undercut anos 90, castanho claro. Os olhos bárbaros e dissimulados como os dos meus irmãos. A mandíbula bem marcada, o rosto bem feito, e a estrutura óssea e muscular bem desenhada. A pele bronzeada e macia. Diziam que eu tinha toda a beleza física vinda dele. Eu daria tudo pra que não tivesse.
-Yoseph: Senta aí. - ele mandou e eu obedeci, ainda corroendo-me em rebeldia. - Nunca deixei que te faltasse nada, sabes bem disso. A única coisa que pedi a você.... Foi respeito.
-Ohana: Eu respeito você.
-Yoseph: VOCÊ ME DESRESPEITA E DESRESPEITA O NOME DESSA FAMÍLIA! - sua voz soou tão alta e ignorante que eu senti-me arrepiar por inteira.