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Uma semana depois.

Larissa:

Passei a noite sem dormir, como de costume. Eu tinha insônia desde os 18, sentia medo de estar sozinha desde os 14. Bem, eu não gostava nada da vida que tinha. Eu só tinha vinte e três anos e estava do outro lado do continente tentando ganhar estabilidade financeira pra minha família, ainda que fosse de maneira ilegal e totalmente errônea. Meus pensamentos não me deixavam dormir, o medo de não conseguir deixá-los bem e seguros, também não facilitava em nada.

Eu só precisava que arrancassem metade do meu corpo, do meu coração, dos meus sonhos. Que tirassem um pedaço de mim, qualquer coisa que me desfizesse. Que me recriassem, porque eu não suportava mais estar em todos os cantos e nunca pertencer a lugar algum. As minhas dores perto de outras, talvez não significassem nada. Mas dentro de mim elas eram o suficiente pra me desmoronarem em questão de segundos no meio da madrugada. Eu tinha 23 anos e sentia que ninguém me conhecia de verdade. Nem minha família, nem qualquer outra pessoa. Perceber esse fato me causava um vazio tão imenso e profundo, que eu podia sentir-me o último ser humano da terra orbitando em um buraco negro. A única sensação que eu havia ganho desde que saí do Brasil, era a qual: Ainda que multidões me rodeie, eu não tenho ninguém, e a solidão é a única realidade existente em mim.

Sentei-me na cama durante a madrugada e levei um cigarro eletrônico aos lábios. As janelas estavam abertas, a brisa entrava resfriando o ambiente e também levando a fumaça que aquele pequeno objeto fazia. Só assim eu conseguia sentir-me mais firme. Talvez estivesse se tornando um vício, mas era o único vício que matava e me dava vida ao mesmo tempo. Eu conseguia respirar fundo, tragar, levando a fumaça até meus pulmões, matando-me fisicamente. Mas mentalmente, aquilo aliviava-me a sensação de sufoco.

(...)

Ohana:

Era 7 da manhã quando desci as escadas, depois de tomar banho e vestir-me medianamente apressada. Eu tinha consulta marcada aquela manhã. E dado ao caminho longo, eu precisava acordar mais cedo.

-Ohana: Bom dia. - mencionei a ela, e ela apenas assentiu milimetricamente, sussurrando também depois de olhar em volta e certificar-se de que estávamos sozinhas. Ela sempre fazia isso. - Meu pai é um idiota se acha que pessoas conseguem passar meses em silêncio. É só: Bom dia.

Eu ainda estava aprendendo a lidar com o fato de que: ela não fazia o que queria. E olha que estávamos no início da segunda semana.

-Larissa: Então seu pai é o idiota que não só as regiões ilegais, como as empresas maquiladoras e metade do México, temem. - ela foi específica, ao salientar o poder econômico e social que ele tinha.

Ela outra vez teve o controle do Bentley que pertencia à mim. Eu sempre o usava por mais que tivéssemos outros, ele me era seguro, blindado e discreto. Demoraríamos chegar ao consultório, mas ainda assim passamos metade do tempo em silêncio.

-Ohana: Você está diferente... - relatei e ela perguntou-me o porquê. - Não sei...

Ela sorriu. Eu nunca conseguia lutar contra um sorriso, e normalmente aquele estava me acertando, e sempre que acertava eu deixava o caos de confiar... acontecer. Ela me trazia curiosidade, de alguma forma.

-Ohana: Você está bem? - me veio à mente, a necessidade de perguntar, e ela assentiu silenciosa como sempre. - Ei.. não quero que seja só uma sombra atrás de mim. Podemos ser amigas, não acha?

-Larissa: Não. - ela respondeu em instância, parecia já ter um pensamento concreto sobre aquilo. - Eu sou passageira.

-Ohana: Como assim?

Í𝔫𝔣𝔦𝔪𝔬 𝔡𝔢𝔩í𝔯𝔦𝔬 - ᴏʜᴀɴɪᴛᴛᴀOnde histórias criam vida. Descubra agora