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Ohana:

Me acomodei ao lado de Hassam, depois do jantar em família. Ele estava sentado no sofá da varanda, sozinho, enquanto observava a lua. Ele olhou-me de relance e eu sorri ladina.

-Hassam: Vão me mandar embora? - ele questionou baixinho, parecia preocupado.

-Ohana: Por que mandaríamos você embora?

-Hassam: Não sei... vocês são família e eu... eu cheguei recentemente. - ele disse.

-Ohana: Hassam, você me manteve segura por todos esses terríveis dias. - eu sorri ladina e segurei sua mão. - Quero que mantenha meu neném tão seguro quanto me manteve.

-Hassam: Então vai me manter aqui?

-Ohana: É da minha vontade e de Larissa. - respaldei.

Hassam me observou mais tranquilo, e eu me senti aliviada. Ele era só um garoto, querendo ou não. Ainda que terrível como Larissa na sua idade, ainda era um garoto. Só tinha 17 anos, e tinha muito a aprender.

-Ohana: Tem vontade de voltar a estudar?

-Hassam: As coisas não foram fáceis... mas tenho.

-Ohana: Podemos ver uma faculdade, algo que se interesse. - mencionei e ele sorriu ladino, assentindo. - Me conta sobre o seu passado?

-Hassam: Nada por nada. - ele disse baixinho, fitando a lua. - Fui um assassino pago pra matar e desde então nada que me foi passado, é bonito de recordar.

-Ohana: O seu passado te condena. - eu disse e ele assentiu milimetricamente.

Hassam ficou pensativo, antes de decidir me contar. E isso nos custou alguns minutos em silêncio.

-Hassam: Família pequena, uma boa mãe e um pai excelente. - ele sorriu ladino ao recordar. - O perdi quando tinha dez anos. O Iraque nunca se foi um lugar seguro para viver. - o sorriso cessou.

-Ohana: Posso saber o que houve? - questionei pacientemente e ele respondeu-me sem receios. Ao que parecia.

-Hassam: Meu pai morreu em um acidente de bombardeio. - disse baixinho. - Minha mãe logo em seguida. - dissera. - Eu não tive irmãos então... bem, foi difícil. Passei por muitos lugares antes de chegar a América.

-Ohana: Como foi?

-Hassam: Doloroso. - ele resumiu de forma óbvia. - Tive que assistir minha mãe morrer, como um espírito... um fantasma. Tomando remédios, fazendo até mesmo sessões mediúnicas e me deixando assustado.

-Ohana: Ela não suportou perder seu pai...

-Hassam: É, perdê-lo foi o nosso deslize na ladeira. - ele disse baixinho. - A muito tempo eu não sentia medo... senti quando olhei nos seus olhos, e vi que se Larissa não voltasse, novamente eu desceria  ladeira abaixo e você me acompanharia.

Eu apenas o ouvi, ele era tomado por medos e traumas, que somente ele mesmo os conhecia. Eu via um pouco de Larissa nele. Ambos sem os pais, numa vida nada correta, sem suporte ou apoio familiar.

-Hassam: No funeral eu percebi uma coisa... - ele tornou aos pais. - Eu morri naquele bombardeio. Desde então tudo que veio é lucro. Eu não entendia, mas hoje sei, que quando você já está morto, você é livre.

(...)

Conversei com Miguel sobre a mudança de escola, e concordei com Hassam sobre ele pensar em algo que lhe interessasse, para dar início a uma formação acadêmica digna. Outro ponto bem importante era o sonho de Miguel, eu passei o horas trocando mensagens com seu treinador, visando a mudança dele para um time suíço. E a possibilidade foi aberta, Miguel acabava de ser transferido para um time de base, suíço, semi-profissional. Era uma alavancada e tanto, e claro, eu não tinha movido nada. Queria que o garoto soubesse que tudo que tinha acesso quanto ao futebol, era do seu próprio esforço.

Í𝔫𝔣𝔦𝔪𝔬 𝔡𝔢𝔩í𝔯𝔦𝔬 - ᴏʜᴀɴɪᴛᴛᴀOnde histórias criam vida. Descubra agora