Ohana:
Depois que cheguei da faculdade, tomei banho como de costume, estudei um pouco e descansei. Gregory havia ido me buscar, depois de ter saído das empresas maquiladoras. Ele e Vicente eram mais velhos, já tinham uma vida financeira garantida com os trabalhos dados pelo papai.
Já haviam se passado quase dez dias desde que ela tinha encontrado o maldito Lorenzo dentro do meu armário. Bem, desde o acontecido eu não tinha ouvido mais sua voz. Nem mesmo para agradecer-me por algo. Ela não me olhava mais de relance ou expressava nada, só... fazia o seu trabalho e aquilo me deixava extremamente culpada.
Caminhei até o sótão, depois de subir o elevador. E encontrei a ruiva. Ela tinha uma arma completamente desmontada sobre a mesa, e limpava uma das partes.
-Ohana: A melhor mercenária de San Diego. - relatei o título pela qual era bem conhecida em meio aos burburinhos, tentei chamar sua atenção como naqueles últimos dias. - E olha só... eu tenho ela dentro de casa.
Larissa olhou-me de relance pela primeira vez desde tudo, e então tornou a atenção ao que fazia. Ela tinha cortado qualquer forma de empatia comigo, tinha se tornado basicamente uma sombra, de fato.
-Ohana: Aqui. - entreguei-lhe o óleo de limpeza para armas, e ela permaneceu calada, apenas recebeu-o. - Vai passar meses aqui comigo, e uma hora vai ceder... eu sei que vai. - eu sorri de canto. - Nove dias em silêncio não é o suficiente?
Ela olhou toda as peças da arma posta sobre a mesa. Estavam devidamente limpas, bem limpas por sinal. Eu apenas observava calada tudo que ela fazia, era encantador ainda que simplório, pra realidade que vivia. Encarou o guia por alguns segundos, e aí eu a vi montar toda a peça com uma rapidez invejável.
Era muito boa no que fazia.
-Ohana: Uau... - sorri surpresa. - Eu diria que foram quase 3 minutos. Rápida.
Ela permaneceu silenciosa, e eu respirei fundo.
-Ohana: Você não é só um robô que faz tudo que o meu pai manda. - salientei em um sussurro, após olhar em volta e certificar-me de que estávamos sozinhas. - Eu conheci um pouquinho de você...
Sentei-me na mesa, e ela permaneceu estática. Fitando as próprias mãos, que repousavam também sobre a mesa.
-Ohana: Olha pra mim quando eu falar com você! - eu segurei seu rosto, pelo queixo, obrigando-a olhar-me.
-Joe: Ei... o que está fazendo? - a voz bem conhecida por mim soou, e eu logo soube que ele havia entrado no sótão.
-Ohana: Nada demais. - respondi-o convicta, ainda segurando-a o rosto.
O vi se aproximar, ele tinha em mãos esparadrapos, pomada cicatrizante e um medicamento pra dor. O observei colocar sobre a mesa, e olhar pra ela. Como se aquilo a pertencesse a partir de agora.
-Ohana: Se machucou? - questionei a ela, e ela permaneceu calada. Não falava nem sozinha, quem dirá com ele ali. - Onde ela se machucou?
-Joe: Um trabalho. - ele respondeu. - Acontece...
-Ohana: Se ela é minha segurança, deveria pedir a mim.
-Joe: Não. - ele rebateu.
-Ohana: Sim, óbvio que sim! - reclamei. - Se ela fizer algum trabalho externo, vamos ter problemas. Hum?
-Joe: Desde quando se importa com isso?
-Ohana: Desde que espero ter uma segurança por inteiro. - respondi-o rapidamente, enquanto ela apenas olhava-me. - Ou quer correr o risco dela estar machucada, não conseguir me proteger... e você ir parar a sete palmos do chão?