Otto:
Já tinha quatro dias que eu estava com aquele peso morto no porão de um mercadinho localizado no subúrbio da Colômbia. Talvez ela lembrasse-se bem, do passado ali.
-Otto: Colômbia... lembra? - eu sorri ladino e ela me olhou paciente, sabia se controlar nem. - Sabe... - virei-me de costas para ela, enquanto aparentava sofrida. - Me disseram que você gosta de fogo... demorou um pouco para dizerem, mas disseram. - fui sincero com ela.
Ela não havia dito uma se quer palavra, desde que tínhamos jogado-a naquele "buraco". Larissa era valiosa para mim, sabia mais do que parecia saber. Era mais do que uma só jovem garota, envolvida em crimes distintos.
-Otto: Você não é a cabeça dessa máfia, eu sei disso. - fui me aproximando aos poucos. - Mas você vai me dizer quem é, logo logo.
Ela permaneceu calada, e eu ajudei-a relembrar-se um pouco do passado, apenas com minha voz.
-Otto: Foi aqui na Colômbia... que você foi assediada e estuprada, depois que sua mãe ficou devendo a máfia colombiana, hum? Ela te jogou a esses imundos, sem pensar duas vezes. E o dono dessa máfia americana, pagou-os depois de um tempo, para que deixassem sua mãe e seu irmão em paz. Você já estava com eles em San Diego. Eu estou chegando chegando perto, Larissa... você vai precisar me contar, se quiser ter um acordo.
Larissa:
"A dor é temporária, Larissa. Ela só existe na sua cabeça." - recordei-me da frase dita pela psicóloga contratada por Ohana, logo depois que ela tirou-me do jovem Martinelli.
-Otto: Não faça isso ser difícil... hum? Você tem um rosto bonito, não deixe-me estraga-lo.
-Larissa: Como fez com o resto do meu corpo? - foi a primeira coisa que eu disse, desde que tinham me colocado ali. Eu não tinha a mínima ideia de quanto tempo já havia se passado, mas eu não aguentava mais ouvi-lo falar.
-Otto: Você deve ter algo bem importante lá fora, pra se colocar tão irredutível desta maneira. - ele disse estando próximo. Enquanto eu permanecia amarrada naquela cadeira, tendo visão apenas dele. Já que ao meu redor, haviam inúmeros refletores, banalizando minha visão, tornando-a confusa. - Meus homens vão descobrir o que te afeta.
Eu aguentaria tudo calada, ainda que esse sofrimento continuo me levasse a morte. Nas horas vagas, em que estava ali, depois de horas de tortura, eu me pegava pensando em como seria o rosto do nosso neném. E isso me confortava um pouco, saber que o meu sofrimento no fim, era válido. Nossa criança cresceria segura, e Ohana teria uma vida livre para mantê-lo bem.
-Otto: Já usamos de... pano no seu rosto e gasolina, deixando você se afogar... - ele pontuou. - Afogamento em água, choque elétrico, ataque físico... quem sabe agora, queimaduras, te deem uma relembrada, hum?
-Larissa: Pode, fazer uma tatuagem com elas? - questionei baixinho, e ele sorriu ladino, antes de acenar em direção as luzes, e um dos homens de aproximar, desamarrando-me.
Tentei relutar, e ele logo me impediu, algemando-me de pé, nas correntes fixadas ao chão, com concreto. Era pior do que meu trauma passado, eu não sabia se aguentaria aquilo.
-Otto: Ótimo, vamos pelo início, hum? - ele pontuou.
-Larissa: Eu gosto do silêncio. - argumentei baixinho.
-Otto: Eu sou o diretor da CIA, tenho todo o tempo do mundo pra você. - ele disse-me em um sussurro, ao ouvido. - Hum?
Otto:
Aquilo era uma batalha sem fim, ela era de fato, inabalável. Quanto mais eu a queimava, mais ela sorria ou se fechava. Olhava fixamente para meus olhos, como se houvesse um motivo claro em sua mente, para não desistir. Cessei as queimaduras quando vi que ela já não tinha forças, eu não podia matá-la. Ela me era uma fonte de informações, ainda que agora fosse um peso morto e calado.