Ohana:
Ainda parecia um ínfimo delírio, compreender que o assalto ao banco no Canadá, qual era capa de matéria, tinha sido orquestrado pela mulher que dormia ao meu lado, enquanto eu assistia um filme tedioso na TV. Só depois da notícia de que tudo havia dado certo, Larissa tinha conseguido fechar os olhos e de fato, dormir. Ela dormia como um bebê. Enquanto os homens do papai descarregavam em algum lugar do México, a quantidade absurda, de dinheiro em nota, roubado. Eram notas de antigas movimentações, ou seja, impossível do banco central rastrear caso fossem usadas.
Eu ainda estava perplexa com tamanha ousadia.
(...)
Passei a noite em claros, e quando a manhã chegou, Larissa estava intacta. Como se tivesse renascido das cinzas, com um sorriso hilário a esboçar. Depois do café da manhã, decidi que faltaria a aula teórica da faculdade para acompanhar Larissa até um lugarzinho do México.
Assim que saímos do helicóptero, em Tijuana, dirigimos por uma cidadezinha chamada Mexicali, ao leste. Em um carro de família, simplório, pelo qual passamos pacientemente por todos os postos policiais, sem problema algum. Mais algumas horas no carro, e tínhamos passado da reserva biológica na Califórnia baixa.
-Larissa: Estamos perto... - ela disse baixinho, enquanto fitava o GPS, e mantinha-se dirigindo.
Mais alguns longos e quase intermináveis minutos, e finalmente chegamos a San Felipe. Uma pequena cidade na baixa Califórnia, ainda no México. A praia era tremendamente grande, afinal, era no litoral. Ainda assim, não era uma das melhores, San Felipe não era uma área valorizada. Era uma pequena cidade de pessoas rurais e de baixa renda.
Saímos do carro e entramos em um restaurante de beira de rodovia, em um posto de gasolina extremamente decadente. Até agora eu me perguntava do porquê diabos, havia insistido em acompanhá-la.
-Larissa: Juan... - ela disse paciente ao único funcionário do lugar, aparentemente. - ¿Está? ¿Puedes llamarlo por mí? - por Deus, a voz dela ficava ainda mais linda em espanhol.
O garoto assentiu, e então esperamos de pé mesmo. Não demorou muito para que um outro rapaz saísse do interior do âmbito, e sorrisse ladino. Ele entregou a Larissa um pequeno papel, com alguns números e... escrituras. Seja lá o que fosse, era o que ela queria.
-Larissa: Me ajudaram a chegar em San Diego. - ela disse enquanto voltávamos para o carro. - A mãe deles morreu de câncer no ano passado, na Guatemala, era uma boa senhora.
Eu não sabia o que dizer. Larissa já tinha passado por tantas, tantas coisas difíceis. Que na posição dela, eu não saberia lidar, ou sobreviver um se quer dia.
-Larissa: Lavei os banheiros desse maldito posto por dias... - ela disse sorrindo ladina, depois de entrarmos no carro e ela travar as portas. - Mas eles cuidaram bem de mim. Até onde puderam.
-Ohana: Até onde puderam? - questionei querendo saber o desfecho.
-Larissa: Não tinham renda estável, bem... não têm. - ela disse paciente, enquanto tornava a rodovia, dirigindo calmamente. - Juntaram o pouco que tinham, e me ajudaram com a passagem. Foi melhor assim.
Mais um tempinho no carro, em uma estrada de chão e em um silêncio terrível. Larissa tinha jogado os números escritos do pequeno papel, no GPS, era uma coordenada de localização. E aí, chegamos a uma cabana pequena numa área gramada.