Larissa:
A casa era grande, enorme eu diria. Subi as escadas bem atrás dela, e quando ela entrou no próprio quarto, entrei junto, fechando a porta atrás de mim.
-Ohana: Pode sair do meu quarto. - ela disse baixinho, paciente comigo, mas enraivecida com a situação. Ainda havia educação nela, se é que isso era possível.
Eu permaneci silenciosa, era assim que seu pai havia me instruído. Sem dó, relacionamento amigável ou nada do tipo. Eu só tinha de mantê-la na linha e ser os olhos e ouvidos dele, além de protegê-la a qualquer custo.
-Ohana: Eu falei pra sair. - pela primeira vez ela olhou-me nos olhos, e o meu sustentar fez ela desviar logo em seguida. - Ótimo, era só o que faltava. Uma muda.
Inevitavelmente eu sorri de canto, e foi o suficiente pra ela sorrir pra mim, sem deixar de desviar o olhar. Ela sentou-se na própria cama e continuou me encarando.
-Ohana: Você sorriu. - ela disse baixinho. - Poxa... fala alguma coisa. - insistiu. - Já que vai passar o dia atrás de mim... tem que pelo menos falar comigo. Eu não gosto de estar em silêncio.
Aparentemente não era a primeira vez que ele fazia aquilo com ela. Basicamente eu estaria presente em todo o seu dia. Desde o café da manhã até o deitar na cama. Se ela fosse ao banheiro, eu estaria na porta, esperando-a. Seria sua sombra, e os olhos e ouvidos dele.
Ela ergueu-se da cama, pondo-se de pé enquanto olhava para mim. Fitei todo seu corpo bem desenhado e escultural. A pele bronzeada, os cabelos longos e castanhos misturados ao loiro. A face límpida e bela, como a do pai, e os olhos castanhos e bárbaros que lembravam os dele. Ela usava um vestido longo, branco, que ressaltavam todas suas curvas. Deixava bem visível seu colo bronzeado, e as correntinhas de ouro em seu pescoço.
-Ohana: "Olhos de cigana, oblíqua e dissimulada." - ela citou o verso de um livro, a medida em que deu passos curtos até mim. Ficando bem próxima.
"Eu não sabia o que era oblíqua, mas dissimulada eu sabia". - completei o fim do verso em mente.
-Ohana: "Eu não sabia o que era o oblíqua..." - ela recitou a medida em que levou a mão macia a tocar meu rosto. E quando tentei afastar, ela empurrou minha mão com brusquidão, mantendo o contato. - "Mas dissimulada eu sabia."
Seu dedo deslizou por minha face, acariciando minha bochecha, e tocando meus lábios. Enquanto ela olhava-me estando bem próxima.
-Ohana: Seja boazinha, hum? - ela pediu falsamente dengosa, e logo vi um sorriso maquiavélico surgir em seus lábios. Era mesmo uma maldita dissimulada.
Engoli em seco quando ela colocou-me alguns fios atrás da orelha, e repousou a mão delicada sobre meu ombro esquerdo. Aproximou o rosto de mim, e levou os lábios a sussurrarem no meu ouvido, com a voz rouca ainda que doce.
-Ohana: Seja boazinha. - sua mão deslizou por todo meu braço, tocando minha mão de relance, antes dela sair em passos em direção pela porta, levando-me a segui-la. - Vamos... eu quero beber alguma coisa.
(...)
Entramos no carro após ela entregar-me as chaves do Bentley preto com perolado embranquecido. Jogou a localização no GPS e eu passei a dirigir com calmaria. Eu tinha a senha do cartão, e somente eu poderia passar. Bem, ela dependia da minha presença de qualquer forma. Seu pai havia colocado-a naquela posição.
-Ohana: Você é a primeira mulher sabia... - ela disse paciente, enquanto eu dirigia. - Deve ser boa mesmo no que faz. - ela tentou tirar-me do silêncio na base do elogio, e eu apenas sorri discretamente. - Porque convenhamos... aquele babaca que eu chamo de pai, tem um lado machista.