• Fernando •
Lembro-me que hoje é o dia que o meu pai me prometeu que me levará até Ubatuba, uma pequena praia que pertence ao interior de São Paulo para passarmos o domingo.
Quase não ficamos juntos, pois ele e meu avô apenas trabalham e não sei exatamente por que o fazem tanto. Minha avó prometeu que não iria, pois seria um dia entre homens, e estou ansioso. Sequer consegui dormir.
Coloco a roupa que vó Stella separou e saio correndo pelo corredor, quase derrubando a minha prima Agda. Ela está com sono e assustada, pois percebeu antes os gritos que fazem eco no ambiente.
Meus pais estão brigando de novo?
Sempre brigando, gritando e eu odeio isso. Dou a mão a Agda, e seguimos juntos em direção ao som quando percebo minha avó nos afastando, impedindo que a gente escute o que está acontecendo.
Fernando: Vó, meu pai vai se atrasar para o nosso passeio! — Reclamo.
Stella: Eu sei, querido, mas os adultos precisam se resolver. E se você e Agda forem para o jardim? A primavera está chegando, e aquela semente de girassol que plantamos vai florescer. — Noto seus olhos vermelhos e o seu sorriso treme com pouca confiança. Algo está acontecendo, mas se eu perguntar sei que dirá que não é coisa para crianças.
Fernando: Mas...
Bernardo: Fernando! Saia daqui! — meu avô, Bernardo, surge na porta com a voz rouca de tanto gritar, e ouço a minha mãe chorando e nem um pio do meu pai.
Fernando: Papai? — Arrisco chamá-lo.
Bernardo: Saiaaa! — Ele grita de novo e, por mais que eu tente esticar o meu pescoço, não consigo vê-lo. Dou um pulo para trás, assustado com a fúria do meu avô.
Agda me puxa em direção ao jardim, mas sinto uma coisa doer dentro de mim e não sei o que é.
Stella: Querido, assim que resolvermos um problema, nós conversamos, tudo bem?
Fernando: Promete dizer ao papai para me encontrar no jardim? Ele vai adorar ver como eu sou talentoso como ajudante! E aí vai me levar para ajudá-lo na empresa! Já sou um homem, sabia? — Estufo o peito, mas logo murcho ao perceber que minha avó está chorando.
Ela está fingindo, mas por quê? Mentira é feio, segundo ela, mas ela está mentindo.
Bernardo: Eles ainda estão aqui? — Meu avô grita, minha mãe chora e minha avó empurra nós dois para fora.
Na área externa, ainda escutando as vozes exaltadas que duram pouco, logo pairando o silêncio. A primavera está chegando, mas sinto um frio dentro de mim, como se estivesse congelando.
Encaro, por alguns momentos, o girassol que plantamos até que minha avó se aproxima e me conta que meu pai não poderá ver o meu trabalho, nem me levar para a empresa.
Parece que o domingo em Ubatuba não vai mais acontecer. Nunca mais.
A última coisa que me lembro, depois dos gritos, são as minhas mãos manchadas de amarelo dos girassóis que destruí.
A primavera não faz mais sentido quando tudo começa a ficar preto e branco, e eu não posso me despedir do papai antes do seu último suspiro.
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Um Contrato de Noivado
FanfictionIntrigas de família. O que você faria por dinheiro? Ela precisa de dinheiro para quitar suas dívidas. Ele precisa fechar um contrato bilionário com a nata do automobilismo e, para isso, requer uma noiva. Ela tem sonhos. Ele cumpre objetivos. E...