Capítulo 60

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• Fernando •

O trabalho tem sido exaustivo, pois o trabalho que deveria ser perfeito agora deve apontar o ideal. Giordano comunicou-se comigo pessoalmente e decidiu suspender as negociações, pois não quer sua empresa vinculada a escândalos com a polícia.

Se Felipe acreditou que tudo impediria apenas Zorzanello de ganhar, enganou-se. A decisão de Giordano foi para ambos, mas eu sei que ele não tem outras. Ou será a Almeida ou será a Zor e se suspendeu é para ganhar tempo ou nos deixar acuados.

Mas, eu não recuei. Fiz uma reunião com os líderes das principais equipes e exigi o melhor trabalho de suas vidas, oferecendo bônus e todos os incentivos possíveis para que deem o seu melhor. Esse é o trabalho da minha vida e se antes era uma meta, ganharei a qualquer custo. Bem, quase qualquer custo, pois Maiara não está inserida no risco. É a zona neutra e intocada das negociações.

Bernardo e eu não mais nos falamos, apesar das diversas tentativas dele. Minha mãe, Filomena entrou em contato um pouco desesperada demais depois que soube do ocorrido e pediu desculpas pela ausência. Nosso relacionamento sempre foi assim, pois compreendo que foi mais saudável para ela ficar longe de Bernardo.

Vó Stella segue na mansão ao lado de alguém tão cruel e não compreendo. Será que ela já teve o mesmo sentimento de ter sido comprada, como Maiara? Minha mãe?

Nunca pensei em como elas se sentiam dentro dessa família, mas hoje entendo que, o que para mim é apenas um papel, para ela é uma placa que lhe põe um preço. Um preço em nós. Maiara se encontrava distante desde que tudo aconteceu e a insegurança era traduzida em seus olhos. Por isso compreendo a relevância da missão que me entrega.

Sentado na nossa rede, resumindo a extensa varanda àquele ponto cercado de verde, encaro as páginas em minhas mãos, enquanto aprecio a chuva que nos surpreendeu. Ela escreve tanto quanto fala em uma letra calma, de quem tem paciência e uma doce loucura. Maiara me pediu em namoro.

Quando eu imaginei que seria pedido em alguma coisa por alguma mulher? Ela tomou a situação em suas mãos e não fugiu. Eu já me imagino contando isso para nossos filhos.

A primeira Zorzanello que não se deixou comprar. A primeira Zorzanello que não se deixa dominar. A primeira Zorzanello que não viveu uma vida miserável dentro dessa família, que se tornou abominável porque regida por Bernardo.

Filhos?

Céus, eu consigo imaginar isso com Maiara, quando na verdade meses atrás eu sequer cogitava procriar de forma alguma. Deixaria que Agda cuidasse da perpetuação do nome ou sei lá. Qualquer coisa que não envolvesse um compromisso pessoal.

E agora penso na história que contarei para eles.

Inclino-me, preparando-me para seja lá o que for que Maiara tem a me dizer.

"Fernando,
Eu aprendi muito cedo sobre o afeto, o abraço e sobre o quanto eles são inestimáveis. Aprendi sobre o amor, vivendo-o e experimentando as suas nuances. Olhava meus pais materializá-lo diante dos meus olhos e naquela época acreditava que era assim, calmo.
Mas aprendi que o amor é multifacetado. Ele se chama amor, mas na verdade tem tantos apelidos que às vezes nos perdermos. Ele é alma, que é o mais íntimo de nós mesmos. Ele é alegria, daquela esfuziante e leveza, daquela que nos apazigua.
Ele pode ser ciumento e é como uma flecha que mata quem a lançou no vento. Ele pode pender para os lados e tornar-se raiva em um piscar de olhos, escondendo-se nas camadas mais profundas e mostrando sua face mais feia. Ele às vezes é orgulhoso sabia? Esse você deve ter conhecido, pois arriscar-se a dizer que ama sem saber se o terá de volta requer ousadia.
Ele é o carinho que nos faz dar as mãos e apenas andar juntos. Eu conhecia até mesmo o amor apaixonado, que despertei há alguns anos. Achava-o prazeroso, mas não compreendia muito bem, e honestamente, o considerava sobrevalorizado.
Mas com você eu descobri alguns outros e aprendi algumas outras faces. Podemos chamar nomes? Conheci alguns nomes do amor. Conheci o desejo, que se me permite, classifico em algo acima da paixão.
Paixão é como fogo na palha que logo se consome. Fogo é a matéria bruta, que jamais se apaga. Ele queima e se alimenta uma e outra vez, tal como a ave mítica, um desejo fênix que se renova apenas porque não tem outra alternativa senão existir. E mesmo quando vira cinzas, dela se faz vivo e acende, incendeia e queima a tudo a sua própria destruição. Uma destruição que nos levou juntos tantas vezes que talvez entenda o que digo. Porque renascemos todas elas.
Com você, meu amor, conheci o amor reflexo. Como ondas que vem e vão entre nós e se espalham onde for. Não é um amor muito egoísta, mas sim aquele que pode ser visto. Sei que tantos falam de nós, acreditam que eu seja inadequada, mas qualquer um que olhe seus olhos, saberá que somos encaixe perfeito.
Conheci o amor oceânico. Uma vez você falou sobre isso. Já mergulhou na praia durante a noite? Perigoso, eu sei. Mas pacífico. O mar está por todos os lados, inteiro e dominador, não deixando espaço para mais nada. O oceano parece ter ares de infinito e debaixo dele, quando imersos, não há o barulho daqueles que o apontam como inexistente.
Ele existe apesar de nós.
E é assim que eu sinto, como se tivesse mergulhado nele e ele me tragou completamente. Mas não me afogo, porque você está aqui, meu lar, meu porto seguro e a minha âncora.
Basta me aferrar em você e não ficarei à deriva de novo. Fernando.
A âncora me foi tirada tempos atrás e fiquei naufragando sozinha demais e me sentindo menos do que eu realmente sou. Aprendi a boiar e temi abraçar um novo lar, pois se me for tirado de novo... será cansativo. É cansativo ficar como um náufrago sem destino, sem porto e sem a confiança de que as coisas podem dar certo.
Tive medo da terra firme, pois poderia cair em penhascos. Nela, eu poderia ver que estava andando sozinha, então me acomodei e tive medo.
Não mais. Conheci o amor leal com você. O amor que se lança e dá um passo de fé, antes que haja estrada. Um amor que alça voos, mas tem para onde voltar. Um amor que tem sua âncora e navega por todos os oceanos, pois jamais estará perdido.
Com você, eu entendi que me apoiei em uma âncora frágil demais antes e a comparava com a única que eu poderia confiar.
Você é a minha âncora e eu sou a sua. E até ontem já havia entregue a você todo meu amor, exceto esse que agora deposito para que você zele. Meu amor por você é um passo de fé que você me ofereceu. E a chave é esse papel, o contrato. Queime-o e me livre para ser sua completamente.
Entrego tudo a você e prometo zelar por tudo o que entregou a mim.

Eu te amo, meu amor.

Sempre sua,
Maiara".

Como uma dança guiada por uma música silenciosa, embalo-me no crepitar das chamas que consomem a nossa mentira. Queimo-o até que nada reste. Hoje eu sei que nos unimos completa e absolutamente. O que sinto por Maiara é como um pacto irrevogável que selamos e, hoje, nos pertencemos mutuamente.

Com todos os nomes do amor que ela quiser inventar.

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Maratona: 6/6

Estão gostando? ❤️.
Amanhã volto com mais capítulos.

Um Contrato de NoivadoOnde histórias criam vida. Descubra agora