Capítulo 45

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• Maiara •

Se eu pudesse iria justamente para a direção contrária a qual estamos indo: tomar café na mesma mesa que Luiz, enquanto todos fingem não terem lido nada nos jornais e isso é aterrador.

Apenas consigo imaginar os olhares de Andressa sobre mim, a curiosidade de Angela e a condenação de Bernardo. Talvez ter toda essa atenção distraia-me daquela a qual eu não desejo de forma alguma. Mas, é justamente ele que nos recepciona quando chegamos ao restaurante, a mão de Fernando apertando a minha.

Stella: Queridos! — Stella se achega, olhar preocupado e um claro sinal de pesar. Ela não sabia de nada e com certeza se culpa por ter lançado sua família nessa confusão, quando decidiu que eu era uma boa escolha. — Estamos apenas esperando os Giordano.

Bernardo: Ele foi surpreendido nesta manhã. — Bernardo afirma com tanto veneno que é melhor darmos todos uns passos para trás, sob o risco de morrermos de mal súbito.

Fernando: Eu imagino. — Fernando afirma com a expressão de tédio.

Ambos ignoramos a presença de Luiz e presto atenção em tudo, apenas para não correr o risco de encará-lo.

Luiz: Maiara. — Ele me chama.

A sensação física é de congelamento súbito, enquanto o sabor amargo parece tomar a minha boca. Meu cérebro provavelmente se esqueceu como se anda, e vinte e sete anos de criação não fora o bastante para me recordar como devo seguir caminhando.

Fernando: "Senhorita Maiara". — Fernando o corrige para meu alívio.

Luiz: Acho que seria formalidade demais, não acha? — Ele se dirige diretamente a mim.

Maiara: Me deixe em paz. — Minha voz soa baixa demais e eu adoraria ter a imponência de Fernando nesse segundo.

Luiz: Apenas quero conversar. O que aconteceu entre nós já não é mais segredo.

Fernando: Sempre a escondeu de todos e de repente deseja fazer seu segredo conhecido. Eu me pergunto suas intenções, Luiz. Boas, dispensa esclarecer que elas não são. — Fernando o enfrenta.

Luiz: Não fale como se eu a escondesse como um segredo sujo. Mas esse é assunto para ser debatido entre nós. Maiara?

Maiara: Eu não sou sua sujeira para você esconder ou limpar. — Afirmo, mas um caroço em minha garganta demonstra a fragilidade que tanto odeio. — Apenas pare de falar sobre mim. Esqueça que eu existo.

Luiz: Acha que eu soltei a nota? Não poderia fazer isso com você. Jamais deixou que eu explicasse e acredito que seja o momento.

Fernando: Bem, parece que seu tempo de ser compreendido passou, Luiz. — Fernando corta o contato e me puxa para trás da sua proteção. — Não importa quem soltou a fofoca para a imprensa. Não importa quem Maiara teve ou não no passado. Não importa sequer se você existe, porque isso tudo é absolutamente indiferente. Sabe em que momento tudo será relevante? — Luiz o olha com deboche. — Quando eu correr o risco de matar você apenas porque decidiu se dirigir a ela.

Luiz: Desde quando resolve as coisas assim, Zorzanello?

Fernando: Não queira descobrir. Mas, não se preocupe. Primeiro vou afundar vocês em uma mesa de negociação com o projeto risível da montadora Almeida, lembra-lo que você é um inútil até mesmo para sua família e fazer questão de assistir enquanto você desaparece da mídia, dos negócios e da alta sociedade de São Paulo.

Fernando vira-se de costas e me leva consigo.

Stella: Queridos, o que foi? — Vó Stella demonstra seriedade. — Maiara, meu bem, sinto muito...

Maiara: Desculpe por esse problema... — Interrompo-a.

Stella: Não! Jamais assuma uma culpa que não é sua. Esse homem... bem que sua tia sempre o odiou! Prometo que essa viagem acabará logo e não precisará mais vê-lo. Fernando, se precisar eu mesma cuido disso.

Fernando: Entrará na disputa comigo, vó. Apenas, não a deixe sozinha, quando eu estiver em reunião.

Maiara: Do jeito que falam, sinto-me uma criança. — Tento rir. — Eu sei que devo algumas informações a vocês e vou dar.

Fernando: Não hoje. Não temos pressa Maiara. — Ele me olha com seriedade, o castanho dos seus olhos trazendo-me uma calmaria que eu não sinto desde que entrei aqui. — Com toda a certeza você precisa esclarecer alguns pontos sobre tudo, mas o mais importante eu já sei.

Maiara: Que é?

Fernando: Nós, como casal, o odiamos.

Ele repete a frase que me impôs sobre Matheus no avião e eu sorrio. Ele está disposto a lutar, assim como exigiu que eu fizesse. Se eu digo não a alguém, ele assume a resposta por nós dois.

O valor do seu gesto me faz ignorar parcialmente meu ex, que segue à espreita, fingindo que não foi abertamente ameaçado por Fernando Zorzanello. Encaro-os e vejo como eu era inocente, e pior, o quanto eu me desvalorizei no passado.

Aceitar as esmolas de tempo, de valor, de planos e de família que Luiz me ofertava foi baixo mesmo para mim. Se ele alegava planos de família e não me levava, eu achava que estava tudo bem. Se eu pedia uma foto e seu argumento era não gostar, lá estava Maiara dizendo tudo bem. Sempre estava tudo bem e sempre era o bastante, mesmo que fosse tão pouco.

Eu nem sei em que momento coloquei Luiz em um lugar tão alto na minha vida, mas quando me dei conta não sabia mais tirá-lo de lá. Coloquei-o acima de mim, enquanto recebia ecos de amor ao invés da sua voz firme e imponente me colocando no lugar em que eu mereço.

Encaro o homem ao meu lado e que me oferece firmeza. Fernando não tem meias palavras, ainda que nossa relação seja essa coisa sem nome. Ele segura firme em minha mão e diz "nós". Ele pergunta "você" e em poucos momentos refere-se a si mesmo. Como alguém que julguei tão egoísta pode ser a pessoa mais altruísta nessa mesa? Aquela que vem em minha defesa mesmo com seu contrato em risco.

Fernando é uma bonita incógnita que não faz a menor questão de se manter assim. É como se ele tivesse se mostrando de propósito e quisesse que eu visse para muito além da casca que nele colocaram.

É como se desejasse que eu visse o Fernando Zorzanello, homem, e não o CEO. A pessoa para além das notícias e a pessoa que ele mesmo está descobrindo ser.

A sensação de que ele faz por querer, começa a me inundar de uma forma diferente, pois significaria dizer que ele o faz por mim. Significaria dizer que ele desvenda suas muitas camadas e se mostra um ser mais complexo e admirável porque ele quer ser assim comigo.

Fernando: Tudo bem? — Pergunta, quando se sente analisado.

Maiara: Obrigada.

Fernando: Ele não merece nem isso.

Maiara: Por tudo. Obrigada por tudo.

Fernando: Tenho maneiras mais divertidas de cobrar. — Dá-me uma piscadela e rouba um beijo que aparenta displicência, quando nota que somos observados. Mas, sinto-me reivindicada.

Um Contrato de NoivadoOnde histórias criam vida. Descubra agora