Capítulo 71

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• Fernando •

O assunto que minha mãe tanto urgia em falar era sobre a certeza que eu tinha sobre o caráter de Maiara, pois teme que eu tenha o azar dos Zorzanello em seus relacionamentos. Age com preocupação, mas eu sei que há culpa. Ela só perde cada vez mais de mim, ao intervir justamente em um assunto que se tornou zona proibida.

E ela perde relevância quando a voz trêmula e apavorada parece me cegar por tudo o que me cerca, inclusive a mulher de sobrancelha erguida que me encara com cobranças, as quais não tem direito. Enquanto ela se curava, eu prossegui a minha vida.

Filomena: Aconteceu alguma coisa?

Fernando: Sim, estou indo resolver.

Filomena: Meu filho, precisamos...

Fernando: Mãe. Eu amo você. Mas, isso... — aponto ao redor da sala, na qual ela retirou todos os elementos que identificam Maiara. — Apenas não faça.

Filomena: Fernando eu realmente preciso conversar com você.

Fernando: Você já se curou. Minha vez agora. — Quase me arrependo do que disse, pois os olhos magoados da minha mãe demonstram que pisei em sua ferida exposta. — Eu me virei com minha avó e sobrevivemos a ele. Você foi se curar dele, mas por favor não seja como ele para mim. Não se interponha por mais que acredite fazer o bem.

Filomena: Espero que esteja certo, filho.

Fernando: Até logo.

Cegamente, saio de casa, atravessando a cidade em alta velocidade, a raiva mais uma vez nublando meus sentidos ao cogitar que os Almeida estão por trás disso.

As ligações para Sorocaba parecem inúteis e não sei onde ele se meteu. Inferno!

Em seu prédio, o elevador jamais esteve tão lento e inútil, sei que cheguei tarde quando Sorocaba aparece, olhos arregalados, cabelos desgrenhados, como quem passou a mão diversas vezes em claro sinal de ansiedade e estresse.

Noto a decepção em seus olhos ao notar que ele esperava fosse outra pessoa.

Sorocaba: Onde elas estão? — Ele me pergunta atordoado.

Fernando: Eu vim saber a mesma coisa. Maiara deveria estar aqui.

Sorocaba: Cheguei e a porta estava aberta, a banheira transbordando...

Fernando: Seu celular. Maiara ligou...

Sorocaba: Eu o esqueci na empresa... que merda!

Fernando: Maiara disse que alguém denunciou Biah. Que droga, ela não atende! — Digo, quando tento falar com ela mais uma vez.

Ouvimos um suave toque na porta e a moça da recepção surge com olhar assustado.

XX: Senhor Sorocaba, boa noite. Um morador encontrou essa bolsa no oitavo andar. Pelos documentos vi que é uma visita constante desse apartamento.

A moça parece sentir a tensão do ar e fala com receio, mas meus olhos logo identificam a bolsa que Maiara portava quando saiu da minha própria casa fugindo da minha mãe.

Por um segundo preferia que minha mãe estivesse fora do país e não aqui. Sua ausência por tanto tempo já era habitual e eu deveria estar com Maiara quando ela recebeu essa maldita mensagem. Eu já perdi muito tempo e estou acostumado a isso. Ela não pode agora me privar da única coisa boa depois de tudo.

Pego a bolsa e abro correndo, encontrando um celular diferente dentro dela. Não é o de Maiara, mas a bolsa sim.

Fernando: Por que estava no meio do corredor?

Um Contrato de NoivadoOnde histórias criam vida. Descubra agora