Capítulo 65

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• Fernando •

Ciúmes. Eu simplesmente morri de ciúmes ao ver aquele médico tão perto da minha florista. Irracional, por óbvio, mas ele sequer esconde a admiração por ela. Em uma realidade na qual eu tivesse menos sorte, Maiara o teria conhecido primeiro e eu jamais teria chance.

O cara é médico, cuida da avó dela, não mentiu e não tem um histórico de escândalos maior do que uma lista de compras. Não tem o meu avô tentando agir como uma dose de veneno letal.

Desde que meu avô saiu do escritório, a minha ideia era contar que eu impedi o empréstimo que ela obteria, como forma de trazê-la ao meu lado e implorar perdão. Mas, tenho medo de fazê-la perceber que minhas imperfeições sobrepassam o que ela acredita ser perfeito.

A tenho visto florescer na sua vida profissional, nos seus sonhos e minha vontade é entregar-lhe todos os degraus que precise. Minha vontade é sempre ser o que ela precisa e negar o que me consome. Minha família é tão torta, que minha mente sopra a todo instante que tudo pode ruir, bastando uma nuvem cobrir o céu.

O sentimento de perda é voraz e consome corroendo a carne de dentro para fora. Mesmo ela parece reconhecê-lo em mim, pois não é novidade tudo o que Bernardo já conseguiu tirar, dentre eles o meu pai. As pessoas sempre se vão, mas, dessa vez, eu não saberia existir aceitando isso.

Encaro o anel brincando em minha mão, digladiando para saber a medida certa de tempo. Os motivos certos. Estamos juntos a tão pouco tempo, porém insuficiente para a minha certeza. Comprometi-me há muito tempo a não ceder a ninguém e, com isso, não perder mais ninguém. Mas, com ela, eu quero esse risco.

Encaro meu celular tocando e me surpreendo. Suspiro e olho a sala na penumbra, apenas a luz indireta próxima a minha mesa iluminando meu ponto de trabalho, mantendo-me focado e penso que ninguém saberia se eu apenas a ignorasse. Meses.

Fernando: Mãe? — Rendido, atendo a minha mãe.

Filomena: Fernando Zorzanello, que história é essa que vai se casar de verdade? A última coisa que soube é que você contratou a moça!

Fernando: Vó Stella já abriu a boca. — Resmungo, pois ela me ajudou a escolher o anel.

Filomena: Mas não vou deixar isso acontecer, nem pensar! Aquele velho maldito não vai levar você de jeito nenhum!

Fernando: Mãe, eu preciso...

Filomena: Te vejo logo, pois não vou deixar esse absurdo!

Fernando: Mãe não é isso...

Filomena: Você vai se casar com a menina que contratou. Fernando Zorzanello, não vou deixar você destruir a vida da coitada apenas porque deu vontade naquela raposa velha infernal!

Fernando: Posso falar?

Filomena: Se vai defender essa conduta horrenda, não gaste saliva. A culpa é minha, eu devia ter ficado. Eu não podia...

Fernando: Eu a amo! — Solto em um só fôlego. Não me lembro da minha mãe falar tanto e muito menos manifestar raiva.

Filomena: Você o quê? Isso é pior... chego na próxima semana, Fernando.

Ela desliga sem sequer me permitir uma despedida. Suspiro, decidido a voltar ao trabalho, ignorando nossa breve e escassa interação, como fiz a vida inteira. Após guardar o anel no devido lugar, pego uma dose de whisky, antes de seguir o meu trabalho noturno. A textura seca, misturado ao sabor adocicado parecem me despertar do cansaço que a salvação do projeto tem me custado.

Um Contrato de NoivadoOnde histórias criam vida. Descubra agora