Capítulo 93

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• Maiara •

A saudade de São Paulo tem afetado o meu humor. Eu tento rir de bobagens, principalmente depois que Tia Áurea disse que meu bebê pode sentir tudo.

Eu não o quero sentindo essa opressão que eu tenho no peito ou a saudade de tudo antes dele existir. Não quero que pense que não é desejado e amado apenas porque antes de eu saber dele, tudo estava perfeito.

Estou no fim do primeiro trimestre e os enjoos que deveriam ser matinais, eram vespertinos, o sono que eu deveria sentir se tornou insônia e agora meu corpo parece finalmente estar se adequando à sua nova condição. Os hormônios estão em festa e me fazem sentir uma saudade dilacerante daquele... argh! Eu não quero sentir falta dele.

Lucas tem sido um amor e insistiu diversas vezes que ligue para São Paulo, mas me recuso. O medo de que Luiz me descubra ultrapassa qualquer sentimento, pois o terror de vê-lo em minha varanda é fresco na minha memória. E se eu ligasse falaria o que? "Oi, Fernando, ainda me odeia? Bem, eu estou magoada, mas queria ouvir sua voz. Eu não, o bebê."

Maiara: Hei, raposinha, é possível você sentir falta de quem nem conheceu? — Pergunto à minha protuberância.

Áurea: Falando sozinha?

Maiara: Questionando meu bebê sobre os dilemas do universo.

Áurea: Boba! Você está com saudades?

Maiara: Eu odeio Luiz por me obrigar a fugir.

Áurea: Você deveria falar com o...

Maiara: Eu pedi que ele se afastasse, tia. E falava sério. Eu não vou suportar sentir aquilo de novo. Quando nascer, não vou negar que ele participe... — ela me encara. — Eu sei o que eu disse para ele. Queria feri-lo e não pensei no que dizia. Se ele não quiser, não o forçarei...

Áurea: Acha realmente que Fernando não iria querer?

Maiara: Ele questionou a paternidade. — Suspiro. — Ele poderia ter me atingido de diversas formas, mas não essa. Então eu tenho o direito de duvidar dele o quanto eu quiser.

Áurea: E vamos nos esconder até quando?

Maiara: Não tinha um plano. Eu só queria me sentir menos exposta e desprotegida como estava.

Áurea: Foi apenas de Luiz que você fugiu?

Maiara: De tudo. Você e a raposinha são tudo e eu não suporto perder mais nada.

Áurea: O que adianta nos manter sob suas asas se você está pela metade?

Maiara: Pretende defende-lo agora?

Áurea: Querida, do que eu sei nessa vida? — Ela suspira. — Vou confessar uma coisa.

Maiara: O que aprontou?

Áurea: Liguei para Stella...  Marquinhos.

Maiara: Tia!

Áurea: Eu precisava saber como as coisas andavam. Liguei de um telefone público, fique tranquila. É que... — ela dá um tapa na perna, com raiva do que vai dizer. — Ela deixou a mansão.

Maiara: O quê?

Áurea: Aquela velha teimosa passa por mil coisas e acha que tem a saúde de uma menina. Eu me preocupei... sonhei com ela e você sabe que não ignoro essas coisas. — Tia Áurea me encara sabendo que nunca, jamais uma Pereira deve ignorar um sonho.

Um Contrato de NoivadoOnde histórias criam vida. Descubra agora