Capítulo 74

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• Fernando •

Quando meu celular tocou pela manhã, com alguns sócios mandando diversas mensagens e me ligando eu sabia que havia algo errado.

Na medida em que lia as informações em meu celular, uma boa dose de frustração descia amarga, misturada a incredulidade. Ao ódio brutal que parece ferver o sangue em minhas veias e encerrar qualquer nuance de bondade dentro de mim, pois quando eu descobrir quem fez isso eu vou destruir até não sobrar mais nada.

Exatamente como agora assisto fazerem comigo. É o sonho da minha vida profissional, para o qual perdi noites de sono, tornei-me ausente diversas vezes e centrei toda a minha energia. As únicas vezes em que não penso nele são com Maiara.

Encaro a tela subindo com cada vez mais notícias até que percebo a ligação que eu menos desejava. Bernardo. Eu falhei.

A sensação de inutilidade, de incapacidade... ele poderá esfregar qualquer coisa na minha cara, pois será absolutamente justo, pois de alguma forma que não compreendo, eu errei. A notícia de que Almeida ganhou o contrato com Giordano consta em todos os lugares e as ações da Zor já começaram a cair em um prejuízo bilionário.

Não, não porque perdemos o contrato, mas sim porque o projeto que Almeida apresentou é o meu.

Aquele filho da puta desgraçado apresentou o meu projeto, o trabalho de uma vida e ganhou tudo que deveria ser meu. Provar que é meu custará um tempo que em termos acionários pode ser irreversível. Não é apenas um contrato que eu perdi, mas sim toda a empresa agora está em risco. Cada filial, subsidiária e parceira.

Quando chego à empresa, acionistas e membros do Conselho já estão me esperando, prontos para me jogarem as bestas e salvarem o que restar do seu patrimônio após esse escândalo. Um colapso no mercado financeiro.

Entro sem cumprimentar ninguém e vou direto para a minha sala. Sento-me em minha mesa e tento encontrar ar para respirar. Sei que muitos querem falar comigo, mas sabem que provavelmente matarei o primeiro que aparecer.

Abro o computador e analiso em quais lugares o projeto estava salvo. Quais as equipes envolvidas. Quais nomes aparecem em cada etapa. Eu cuidei de cada passo da segurança e tenho certeza de que não há um furo visível. Quem fez isso cuidou para que eu ficasse cego ante as evidências.

Sorocaba me encontra com cara de luto, pois sabe o que esse colapso representa para mim.

Fernando: Maria!— Grito minha secretária, praticamente vociferando.

Maria: Sim, senhor. — Ela está pálida, pois em anos de trabalho já vivenciou muitos ataques de mau humor e até mesmo de fúrias meus. Mas ela jamais me viu como se me levasse o demônio.

Fernando: Quero todos, absolutamente todos que trabalharam no projeto aqui em uma hora. Não me interessa se algum engenheiro esteja em Tóquio. Uma hora, entendido?

Maria: Sim, senhor. O senhor Bernardo ligou e...

Fernando: Claro que ele ligou. — Digo de forma dura. — Envie-o ao inferno e faça o que eu mandei. Agora!

A mulher foge espantada, enquanto Sorocaba apenas permanece em silêncio. Pensa tanto quanto eu. Ele vai atrás de Maria e avisa em tempo que chame os advogados e contate os responsáveis pelo registro do projeto.

Fernando: Acabou tudo. Almeida conseguiu o maldito contrato e levou todo o conglomerado junto! Passo a mão pela mesa, jogando tudo no chão, no auge da minha raiva.

Sorocaba: Vamos tentar resolver antes de declarar que não tem jeito. — Ele diz, mas percebo ser da boca para fora. Os prejuízos financeiros já podem ser vistos por simples acompanhamento da bolsa de valores.

Um Contrato de NoivadoOnde histórias criam vida. Descubra agora