Capítulo 7

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• Maiara •

Deus, como eu odeio isso. É só o que eu consigo pensar ao chegar no bar que fica à beira da estrada, no qual os caminhoneiros fazem parada para comer, descansar e procurar alguma garota para ter alívio.

O problema é que sempre acham que eu sou esse tipo de garota. Por sorte, o local está vazio essa noite e posso me preocupar com meus próprios problemas.

Maiara: Tadeu, posso falar um instante? — Chamo meu chefe.

Tadeu: Se não for adiantamento, pode tudo. Inclusive, aquele trabalho extra.

Meu estômago embrulha, lembrando-me do extra. Basicamente, eu deveria trepar em qualquer muquifo com os clientes. Ele indicaria, eu faria o serviço e dividiríamos a grana. Provavelmente, por isso fiquei tão revoltada quando Fernando Zorzanello disse que pagava.

Não condeno quem faz. Talvez eu mesma faria se estivesse à beira do precipício. Não posso dizer nunca, pois apesar de tudo, Tia Áurea e eu ainda temos um teto e alguma saúde.

Mas e se tudo acabasse?

Provavelmente, fingir um noivado com um bilionário de São Paulo seria menos humilhante que... não gosto nem de pensar.

Maiara: Sim, adiantamento.

Tadeu: Já disse que não! Se for demitida, ficará me devendo. Já sabe como eu vou cobrar. Ou pega o serviço ou esquece a história de adiantamento.

Maiara: É uma questão de saúde!

Tadeu: Negócios, gracinha. Aqui sempre foram negócios. Você pode cobrar cem reais a hora e fica com cinquenta. Se quiser cobrar mais é por sua conta. Da última vez que verifiquei, eu ainda não tinha a cara de banqueiro. Peça um empréstimo ou faça nos meus termos. — Ele nega enquanto ri. — Agora vá fazer o seu trabalho.

***

Arrasada, terminei o meu expediente encarando como Tadeu me olhava, como se eu fosse um investimento. Agora, ele sabe que estou desesperada e aguarda apenas um vacilo meu para me convencer a aceitar o seu negócio sujo. Se não fosse tão difícil arrumar um emprego noturno, eu jamais pisaria aqui de novo.

Meu consolo é minha amiga Biah. Cozinheira de mão-cheia, ela usa toda a sua jovialidade e ideias para manter a lanchonete como a preferida da rota de caminhoneiros, oferecendo comida, com gosto de casa, para aqueles que moram na estrada.

Um talento subutilizado aqui neste lugar, mas que nos garante acolhimento uma no colo da outra.

Biah: Ele está com aquela cara de novo. — Ela comenta, enquanto faz um nó nos seus cabelos e repõe a touca.

Maiara: Me ofereceu de novo.

Biah: Amiga, você sabe que se precisar eu...

Maiara: Nem ouse! Esse dinheiro é seu e muito suado. Biah, eu sei que você está disposta, mas não posso aceitar.

Biah: É pela origem?

Maiara: Céus, não! — Biah fez alguns programas no auge do seu desespero, e isso lhe rendeu algumas economias. Ela parou quando conseguiu essa vaga na cozinha. Tem dias que não liga, mas em outros sente muita vergonha. Eu apenas a acolho, pois nem de longe posso imaginar o que passou até aqui. — Amiga, jamais se envergonhe da sua história. Não é por isso que eu não aceito. Apenas acho que você deve manter uma reserva.

Biah: Desculpe, estou sentimental. Saudades de... do Jonathan.

Maiara: Ele tem dado notícias? — questiono, pois ela tem o relacionamento à distância mais estranho que já vi.

Um Contrato de NoivadoOnde histórias criam vida. Descubra agora