Capítulo 58

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• Maiara •

Momentos de calmaria parecem finalmente nos alcançar nas semanas que se seguem. Luiz finalmente acordou e prestou seu depoimento contra Fernando, deixando-o de mau humor durante todo esse tempo. Ele praticamente me relembra todos os dias que a culpa não é minha, mas é impossível não notar sua frustração quando Giordano suspendeu as negociações.

Mas, teimoso, ele seguiu trabalhando no projeto, pois se Giordano não quiser, arranjará outro comprador, ainda que por algum bilhão a menos. Terminar esse projeto tornou-se uma questão de honra. Mas de uma coisa eu estou certa: Fernando não pode encontrar um Almeida tão cedo.

Pelo que eu entendi, ele conseguiu o cargo de CEO justamente em função desse projeto, a longo prazo, de inserir-se na Fórmula 1 e essa pausa é uma pausa em toda a sua meta de carreira.

As palavras de Felipe parecem penetrar minha mente, lembrando-me que os negócios deveriam estar fluindo normalmente não fosse eu um grande desvio de percurso.

Não quero dar razão a ele e muito menos a Bernardo, mas como não o fazer quando vejo meu amor cada dia mais frustrado com aquilo que mais ama: o trabalho? Ele está se equilibrando em uma corda bamba, seu avô e o conselho puxando-o por todos os lados, enquanto o silêncio ensurdecedor de Giordano faz mais barulho do que deveria em sua mente. Estamos em um momento em que nada mais pode puxá-lo, pois ele irá cair.

Recebi mais cinco projetos de mulheres da alta sociedade e seus jardins sem graça, mas comecei a me questionar se era por talento ou apenas um desafio... como se questionassem minha capacidade nesse trabalho.

Seria terrível descobrir que nem mesmo aquilo no que sou talentosa serviu para me fazer valer algo entre essa gente.

Percebo que estou olhando para o nada, quando Tia Áurea solta um pigarro. Estamos na floricultura, onde ela gosta de passar o tempo, cansada de ficar acamada.

Maiara: O que?

Áurea: Eu que pergunto? A bezerra passa bem pelo menos, não é?

Maiara: Que bezerra?

Áurea: A que morreu. O ditado... esquece. O que está acontecendo?

Maiara: Apenas distraída. O que acha desse projeto? — Mostro o desenho do jardim da senhora Mendes, uma socialite que conheceu meu trabalho por Stella.

Áurea: Troca essas margaridas por algo mais chamativo. — Ela me orienta. — O restante, perfeito como sempre. Agora, diga.

Maiara: Apenas preocupada... o negócio de Fernando é importante.

Áurea: Ele sobrevive a uma frustração querida. Não fique se preocupando com esse tipo de coisa. Não o vejo desesperado por conta das suas plantas, certo?

Maiara: É diferente. A história de Luiz...

Áurea: Não é culpa de ninguém. Sabia?! — Ela levanta com dificuldade, exaltada. — Eu sabia! Você está se sentindo culpada! Minha filha, se ele perder o contrato de sei lá o que, ele vai trabalhar para conseguir outro. Você age como se ele fosse culpar você!

Maiara: Não vai! Só que...

Áurea: Só que nada. Para, apenas para! Você está vivendo e remoendo essa culpa. Acha que eu não vejo a forma com que está se distanciando dele? Acha que ele não percebeu? Ele está te dando um tempo e não quer invadir o seu espaço. Está tão afundada nessa culpa que não viu os dias passarem. Mande os Almeida para o inferno para que sejam levados pelos cavaleiros do apocalipse. Não perca o amor, minha querida. Fernando sabe as coisas que falaram para você?

Um Contrato de NoivadoOnde histórias criam vida. Descubra agora