Capítulo 81

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• Fernando •

Estou no quarto com três mulheres e minha cabeça gira. Minha mão aperta uma gravata embolada com força e a visão turva não consegue captar seus rostos. Ouço seus risos e gargalhadas altas e, logo, a voz de Maiara invade seus sentidos até o instante em que ela se materializa, pequenos girassóis espalhados pelo seu caminho.

Mas, ela não está só. Luiz tira uma pequena mecha do seu cabelo que caiu próximo aos seus olhos e ela beija sua mão, logo me encarando. Ela se aproxima e encara as três mulheres e depois a mim, seu sorriso morrendo lentamente. Quero me levantar, mas não tenho forças, então apenas olho, percebendo que as flores murcham lentamente e a tinta amarela começa a manchar as minhas mãos. Escondo-as, a cor me provocando dores e olho a todos ao meu redor. Encaro-os até que todo resto desapareça.

Inclusive ela.

Que barulho é esse? Parece uma orquestra de fole irlandesa contratada para me punir. Levanto-me e vou ao banheiro em busca de água fria. Ainda posso sentir o sabor do destilado na minha boca. Olho ao redor e percebo que estou no meu quarto, sem ter ideia de como cheguei até aqui. Percebo que até os lençóis são diferentes, mas no canto, como uma trouxa de roupa suja, noto aqueles que estavam na manhã anterior, quando... dói pensar. Os lençóis estão jogados em um canto, embolados, como se tivessem sido arrancados na raiva.

Não me lembro de fazer isso. O som no apartamento fica cada vez mais alto e encontro Agda com um liquidificador aos berros aumentando a minha dor de cabeça e irritação.

Agda: Sai para lá! — Reclama, religando o aparelho que desliguei.

Fernando: Não deveria estar aqui. — Praticamente expulso-a.

Agda: Sorocaba não podia ficar e você estava um lixo... preciso te deixar inteiro, pois o meu tio...

Fernando: Eu quero que ele vá para o inferno. — Digo resmungando, a cabeça latejando e meu corpo agradecendo a aspirina.

Agda: Ele está tentando ajudar, Fernando.

Fernando: Ajudar? — Sorrio ironicamente, uma raiva parecendo crescente sem o torpor alcoólico. — Ele já ajudou o bastante!

Agda: Ele não tem culpa do que aconteceu, primo...

Fernando: Aquele que escarnece é tão culpado quanto. Não dos problemas, mas do meu inferno. Ah, e você pode adorá-lo o quanto quiser, Agda, mas isso não humaniza o demônio que ele é.

Agda; Ainda assim, ele não tem culpa do que ela fez! Fernando, eu sei que vocês não se dão, mas ele apenas mostrou a você a verdade. A forma que fez foi... péssima. Mas do que importa a forma se iria te ferir do mesmo jeito?

Fernando: Eu preciso reverter o problema que isso causou.

Agda: Vai conversar com ela?

Fernando: Falo da empresa.

Agda: Mas não acha melhor conversarem? Sabe, ela não é a minha pessoa favorita no mundo agora. Você sabe que para mim vocês são tudo e nunca escondi a minha predileção. Mas família é família, não importa a origem.

Fernando: E o que isso tem a ver com falar com ela? — Sequer consigo pensar no seu nome.

Agda: Fer... — ela me encara chocada. — Você lembra que ela esteve aqui, certo?

Fernando: Ela esteve... — como uma nova pancada, encaro Agda entendendo ou ao menos compreendendo que minha mente confusa fez eu achar que nada daquilo aconteceu. — Ela... — eu me viro em direção ao elevador, minha mente reproduzindo o momento exato em que suas palavras se formaram em uma oração que não deixava dúvidas. "Estou grávida".

Um Contrato de NoivadoOnde histórias criam vida. Descubra agora