Capítulo 36

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• Maiara •

Áurea: Conheço esse olhar. — Tia Áurea comenta quando me vê com ares de sonhadora arrumando algumas coisas para a viagem. Minha mala de verdade, na versão "noiva do homem rico" está na casa de Fernando.

Maiara: O mesmo de sempre... — desvio.

Áurea: Só temo por você, meu amor. Você nunca entrou em nada para não se comprometer. Sempre foi tudo ou nada. Poderiam ir um pouco mais devagar. Eu sei que hoje em dia vocês já... enfim... — faz careta — Quer dizer... e se apenas está deslumbrado...?

Maiara: Comigo? Convenhamos que ele tem mais potencial para deixar alguém deslumbrado, não? — Sorrio. — Não tenho como te garantir a mudança dele.

Áurea: Que garantias você pode dar ao seu coração?

Maiara: Que enquanto durar eu aproveitarei o máximo possível. E se um dia acabar, ficarei apenas com as melhores partes. Ele não é Luiz, tia.

Áurea: Você com toda certeza mudou.

Maiara: Meu sobrenome é cautela. Eu não vou entregar meu coração, nem mesmo para Fernando, se eu não tiver certeza de que ficarei apenas com as melhores partes. — Meu coração é inegociável e jamais posso esquecer que a premissa que nos une é essa: um negócio. Uma mentira.

Áurea: Como pretende se casar com ele se ainda não deu o seu coração? — Ela me pega em uma pergunta capciosa, mas a verdade é que mesmo que um dia eu esteja com alguém e me apaixone, meu coração será a última coisa que irei oferecer.

Maiara: Não vou repetir o erro, mesmo que já esteja casada com Fernando. Eu preciso de muito mais que uma aliança para entregar tudo.

Áurea: Não seja tão dura, mas não seja boba também. Ele parece ter bom coração, mas não sabe exatamente como é ter um compromisso. Sabe, Stella conversou comigo.

Maiara: Sobre o que?

Áurea: Tudo. Eles têm um certo desajuste com o amor e acredito que jamais tenham o conhecido sinceramente. Minha filha, você é justamente o que faltava a eles. Todos eles. Stella diz que você traz cor e hoje eu entendo aquela doida. Fernando vai ensinar você a ter confiança em alguém de novo, a ponto de se doar inteira. E você, vai ensiná-lo sobre o amor.

Maiara: Responsabilidade demais, não acha? Podemos apenas viver um dia de cada vez e nos esforçar para dar certo. — Até o contrato acabar, penso.

Áurea: Não ponha grades no seu coração. Basta escolher bem quem você deixa entrar. Ele parece bom, mas precisa não ser muito mimado. Então, se imponha! Prometo não ser a tia chata que finge que não sabe que você... enfim. Apenas, cuidado.

Maiara: Prometo ter cuidado. Obrigada por confiar em mim tia.

Áurea: Sem problemas. Apenas me ligue todos os dias, não se perca e tire muitas fotos. Deus te abençoe, menina. — Ela faz o sinal da cruz diante de mim e me dá um beijo na testa, exatamente como fazia quando eu era menina.

Maiara: Não se esqueça que Nete chega amanhã cedo para te ajudar e que Agda encontrará você para visitar Biah. Se comporte, hein, dona Áurea!

Áurea: Vou ter o dia das meninas. — Diz ajeitando o cabelo.

Maiara: E não coma doces, pois sua cirurgia está próxima. — Digo, sobre a biópsia que ela tem que fazer. Enfim teremos um diagnóstico.

***

Fernando surge imponente em um carro escuro, o qual percebo ser o seu favorito entre todos. A roupa casual não o deixa menos elegante e bonito. Quem está acostumada a aquilo tudo de homem? Talvez Afrodite, porque nós, mulheres mortais, nunca nessa existência.

Abre a porta do carro para mim, após ouvir todas as recomendações de Áurea, e não dispensa um leve roce sedutoramente calculado quando passo por ele, fazendo-me titubear os passos. O homem pega minhas expectativas e brinca com elas como se fossem dados.

Sinto o olhar dele sobre mim a cada segundo que pode, como se tivesse olhos em todo canto e, somente abandona aquele jogo de sedução, quando paramos próximos à pista de pouso, onde um Jato nos espera. Sequer sabia que veículos podiam entrar ali.

Stella: Achei que mudaria de ideia. — Stella confessa ao se aproximar.

Maiara: Eu também. — Assumo, mas não pelos motivos que ela acredita.

Stella: Está sendo difícil?

Maiara: Ele é mandão. Tipo, muito mandão. Quer me arrastar de lá para cá a todo instante, mas eu supero.

Stella: Ainda está se acostumando com o fato de ter uma "noiva". Ele melhora. Já aviso. Todos estão desconfiados, então vocês precisaram ser mais convincentes essa semana.

Maiara: Mais? — Digo, lembrando de hoje cedo.

Penso no nosso contato puramente carnal, as vezes envolto na gentileza quando ele me olha daquela forma tão dele, tudo perfeito como pecinhas que se encaixam em um jogo contratual.

O fator de risco entre nós é mínimo e eu sempre fui uma investidora de baixo risco.

Stella: Por uma semana, imagine-o como o amor da sua vida. Haja, pense e fale como se ele fosse. Não basta dizermos que vocês estão juntos. As pessoas precisam ver isso. Use palavras, toques sutis e olhares. Quando uma expressão de desagrado surgir, pegue uma bebida, experimente um doce, mergulhe. Faça algo que te distraia.

Maiara: Como sabe disso tudo?

Stella: Experimente esconder suas expressões de desgosto durante trinta anos de coquetéis na família Zorzanello. Sou perita!

Fernando: Vamos nos acomodar? — Fernando surge e noto Andressa nos observando.

Maiara: Claro! — Digo tomando-o pela mão. O gesto é um pouco possessivo partindo de mim, mas dadas as circunstâncias, é útil. — Matheus não viria? — Pergunto, por mera curiosidade, mas o olhar que recebo me arrepia a espinha.

Fernando: E por que você está interessada?

Maiara: Curiosidade. Ele disse que viria. — Dou de ombros.

Fernando: Vamos combinar uma coisa? — Ele diz, enquanto ajeita meu cinto, a mão próxima demais de onde não deve.

Maiara: Hum? — Pergunto, o raciocínio concentrado na mão.

Fernando: Nós, como casal, não gostamos de Matheus. — Diz sussurrando, a boca próxima ao meu ouvido com uma intimidade particular. Quando termina a frase, ele simplesmente me dá um selinho na boca como se fosse a coisa mais natural do mundo.

Maiara: Que bom que concordamos.

Um Contrato de NoivadoOnde histórias criam vida. Descubra agora