Capítulo 51

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• Maiara •

Maiara: Tia, tem certeza de que ficará bem?

Questiono pela milésima vez, culpada, por deixa-la sozinha de novo. Ficaremos na França apenas um fim de semana e volto em tempo de levá-la à biópsia e prosseguirmos seu tratamento.

Por ser uma doença rara, acabar com esse martírio se mostra cada vez mais difícil, apesar da questão financeira não ser mais um problema, pois o depósito que Fernando fez no início do contrato está sendo muito bem utilizado.

Essa é uma questão sensível, pois por mim devolveria tudo e fingíamos que esse contrato nunca existiu. Mas não posso recusar o tratamento que ela precisa agora e ele mesmo jamais tocou no assunto. É um ponto nevrálgico que eu não sei exatamente como abordar. Mas, no momento, me resta aproveitar para cuidar dela e deixar em suspensa minha eterna dívida no banco, pois não tenho a mínima intenção de cobrar a segunda parcela que, conforme o contrato, eu receberia ao fim de tudo. Bem, não vamos ter fim, certo?

Áurea: Ficarei bem sem você aqui, porque a sua cabecinha já está na França, não é menina? — Ela diz rindo.

Maiara: Desculpe.

Áurea: Não se desculpe por voltar a sonhar, minha linda. Essa viagem fez muito bem a você.

Maiara: Foi melhor do que eu imaginava. — Assumo.

Áurea: Para você ver, nem aquele outro lá conseguiu te abalar.

Maiara: Acha que eu não era apaixonada por ele? Por Luiz?

Áurea: O que sente por Fernando é diferente?

Maiara: Não sei. Não sei se existe uma medida certa para definir se amamos mais ou menos alguém. É diferente, isso é certo.

Áurea: Só fica destruída quem amou, não é? — Aceno positivamente. — Acho que o amou sim. Aquilo entre vocês era calmo e sem pressa. Não posso dizer pelo cretino, mas sim por você. Não tinha afobação e sobrava paciência. Com Fernando, vocês têm pressa. Tudo com vocês é apressado, como se o tempo não contivesse horas suficientes para estarem juntos. Acho que você e aquele outro se esbarraram no caminho e se amaram naquele tempo. Bem, ao menos você o amou. Mas não estavam destinados a estarem juntos.

Maiara: Acredita em destino? Quer dizer, que se estamos destinados, será inevitável?

Áurea: Oh não! Acredito em destino, mas não que ele seja inevitável. É como sua mãe. Ela amou uma pessoa na juventude e seu coração se rompeu quando ele a deixou nesta vida. Mas ela se reencontrou em seu pai. Ela estava destinada a ele, mas se continuasse com seu antigo amor provavelmente Almira e Marco César jamais teria cumprido sua história.

Maiara: Isso parece triste. — Comento, lembrando que minha tia possui uma história sem fim.

Áurea: Não é querida. Almira teria sido feliz ao lado do namorado e provavelmente teria construído uma bonita vida juntos. Mas não seria um encontro de almas e não seria completo. Seria feliz, mas sem o frenesi das almas que se encaixam.

Maiara: E como saber se a alma está onde deve estar?

Áurea: Uma se entrega pela outra. Certa vez eu li uma história sobre um pirata antilhano que se casou com uma noviça. Ela abandonou sua vida e entrou no convento, depois de ter sido deixada pelo noivo e trocada pela irmã. Ela fugiu da vergonha. O pirata era apaixonado pela irmã da noviça e correu o mundo fazendo riquezas para desposá-la. Quando voltou, assistiu-a de noiva indo de encontro ao homem rico. A vida jogou e o pirata se casou com a noviça...

Um Contrato de NoivadoOnde histórias criam vida. Descubra agora