Capítulo 41

419 50 10
                                    

• Fernando •

Testemunhar o poder de Luiz ao conseguir tirar Maiara de seu eixo fez de mim mesmo um louco. Eu poderia ter socado o maldito, mas precisava afastar Maiara e eu não conseguiria isso desfigurando o sujeito.

O sorrisinho de vitória, a pose de quem tem razão e todo o conjunto que compõe um Almeida apenas me deu mais energia para vencê-los nesse negócio. O que antes era apenas uma rivalidade negocial tornou-se pessoal, pois por mais que eu mesmo tenha um negócio com ela, não teria coragem de deixá-la de uma forma que não seja, no mínimo, decente.

Almeida jogou baixo. Jogou sujo e levou consigo alguém que ele sequer era digno de ter tocado. Sinto queimar quando penso que ele a provou e desdenhou em igual medida. Sinto queimar, quando me lembro que ela se entregou para um homem que sequer existia. Luiz Rodrigues jamais existiu e, ainda assim, Maiara o amou.

E essa constatação me toma de assalto, quando minha mente grita uma e outra vez que ela é "minha noiva". É como se outro não tivesse o direito de reclamá-la, de tomá-la e de fazê-la mulher uma e outra vez.

Minha mente me acusa apenas por achar que sou o único que tem o direito, quando na verdade apenas a culpa nos trouxe até aqui. Um engano manteve Maiara Pereira na minha vida, quando eu desfiz o empréstimo que ela obteve no banco. Quando eu omiti a presença de Luiz.

O que me torna mais digno do que ele em estar aqui com ela? Mesmo a resposta óbvia não tem o poder de me fazer recuar um passo que seja.

A maldita fada feiticeira me atrai com seus olhos quentes, sua língua solta e o humor tão dela. Com sua fala rápida e às vezes ininteligível, que a torna apenas única, assim como seus silêncios tão perturbadores.

Vê-la se destacar em uma multidão, ainda que seja com sua odiosa bicicleta, é surpreendente de uma forma desconhecida. Em tão pouco tempo eu a conheço tanto, que deveria me assustar.

Ela é forte.

Maiara é força. E eu jamais a tinha visto tão fragilizada. O silêncio no carro me mostra que o preço da minha desconfiança foi o transtorno dela.

Minha vontade única é fazê-la esquecer de tudo o que aconteceu até aqui. Secar suas lágrimas deixando-as em uma lembrança distante e apagar do seu corpo cada memória de Luiz Almeida.

A verdade é que eu não mereço e apenas não desisto no último minuto, porque ela se apega a mim e me implora que a faça esquecer.

Como eu poderia dizer não?

Como poderia negar tê-la para mim?

Maiara é um contraste no meio em que Luiz e Fernando vivem. Ela se destaca e não se mistura, como água pura que foge do escuro e fétido óleo.

Eu queria ser corajoso e ousado o bastante para dizer não, pois cada célula do meu corpo me diz que ela é caminho sem retorno. Eu reconheço isso pela primeira vez na minha vida e não consigo olhá-la e imaginar que teremos apenas sexo.

Resumi-la a isso parece errado, como se eu a comparasse às outras que já estiveram em minhas mãos. As outras que queriam o sobrenome, o golpe de sorte e a loteria que um Zorzanello representa. Maiara quer apenas esquecer.

Ela parecia não perceber como seu corpo tremia e o seu olhar parecia perdido enquanto Luiz dizia-lhe sabe-se lá que coisas. Não notou quando apertou o vidro em suas mãos. Enquanto sua carne era cortada, ela pouco notava, pois sua mente foi entorpecida pela raiva. Pela dor. Desesperada.

A agonia em sua voz pedindo que eu a tirasse dali tocou em uma parte desconhecida em mim. Maldita semente. A florista está fincando raízes onde não deveria, e ao invés de me afastar, estou aqui olhando-a e exigindo-a para mim.

Um Contrato de NoivadoOnde histórias criam vida. Descubra agora