Capítulo 52

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• Fernando •

Declarar-me para Maiara da forma em que tudo aconteceu não estava nos meus planos. Na verdade, o plano era apenas permitir que ela encerrasse o ciclo com Luiz e levá-la até a França e lá deixar tudo acontecer. Mas a mulher cria em mim uma afobação que o meu "eu negociador" acha terrível.

Quando percebi as palavras já tinham saído e ela me olhava com seus olhos quentes e arregalados, sem palavras e somente a surpresa.

Como se recebesse alguma dádiva do universo, a linda disse as palavras que acreditei demoraria uma vida para extrair dela. "Eu te amo". Ao contrário de mim e contra as suas habituais falações, Maiara foi concisa e simples ao declarar-se. Mas a carga de significados em ouvi-la dizer tal coisa foi infinita.

Eu não esperava, dedicado demais na tarefa de amá-la, receber o mesmo. Não esperava que ela me abraçasse com sua alma e me tocasse da forma que nunca pensei. Ela ama a mim e apesar de mim. Apesar das minhas claras falhas e apesar daquela pessoa que ela cansou de ler nas notícias. Ela se despiu do seu conhecimento prévio e se permitiu conhecer-me de fato. E ela ama essa pessoa.

Minha viagem à França não poderia ser mais oportuna. Resolverei o que for preciso no GP de Le Castellet, antes da abertura oficial dos circuitos, mas meu destino almejado é Marselha e Provence, em um legítimo campo de lavandas na Abadia de Sénaque e depois Sault, um vilarejo medieval que tem uma vista privilegiada destes campos. Inclui um tour de bicicleta pelas Calanques de Marseille, algo que eu, propositadamente, jamais faria.

Mas foi impossível não pensar em como ela seria feliz nesses lugares ou apenas cogitar como a minha deusa solar se sentirá conectada com aquilo que mais ama: Lavandas.

E é lá que pretendo construir a confiança que ela tanto precisa. Ofereço-lhe o mundo, ofereço tudo e entrego a mim para fazê-la feliz. Em tão pouco tempo, ela deixou em mim uma marca de eternidade. Seu toque não é fugaz, seus beijos não são passageiros e o seu amor não possui bordas. A sensação de infinitude que eu jamais pensei existir, encontrei apenas com ela.

Saio mais cedo do trabalho e, tecnicamente, essa noite não é "nossa". Na verdade, desde que voltamos das Maldivas muitas noites não são nossas e eu tenho furtado todas elas mesmo assim. Ela tem passado um tempo com Áurea e Biah, resolvendo pendências e fofocando. Sim, elas adoram fazer isso.

Vou em meu próprio carro e quando chego a rua dela, estranho o carro da segurança não está no local habitual, tal como determinado. Eles são pagos para garantir a segurança dela e não para tirarem folgas sem aviso.

Piso mais fundo no acelerador e desço, sem mesmo olhar ao redor e sinto um arrepio na espinha quando ouço um tom de voz mais exaltado. Não consigo entender o que falam, mas a mera possibilidade de vê-la em risco mais uma vez me desperta instintos homicidas.

Escancaro a porta sem sequer bater e a cena que eu vejo, me corrói. A palavra mais exata e perfeita é corroer, pois Luiz tem Maiara em seu aperto, seus lábios colados ao dela e a raiva me impede de entender se ela o faz voluntariamente ou não.

Dizem que o ciúme é um monstro de olhos verdes e loucura escancarada. Algo que nunca precisei pensar sobre ou talvez existisse tangenciando minha vida. Mas compreendo a verde loucura de Otelo, quando noto que preferiria morrer mil vezes do que vê-la voluntariamente nos braços de outro.

O sabor amargo que sobe em minha boca e parece contaminar com destreza meu sangue. Ódio queima minhas veias e destempera minhas entranhas quando grito, encarando mais a ela do que a ele.

Como uma gata arisca, vejo-a lançar-se raivosa sobre o homem. Em essência, Maiara é calmaria e, no máximo, joga uns vasos. Mas sua raiva não é letal, ao contrário do que vejo. Ela cerra seus punhos e soca sem sequer mirar, apenas visando livrar-se do invasor.

Um Contrato de NoivadoOnde histórias criam vida. Descubra agora