Capítulo 112

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• Maiara •

Enquanto meus pés sentem a terra sob eles, lembro-me que eu, definitivamente, fiz tudo o que tinha em minhas mãos para viver em plenitude essa sensação de transbordamento.

Aceitei um estúpido contrato, vivi uma montanha russa ao lado desse homem, fui extremamente feliz e acreditei que iria morrer. Vi-me praticamente sem escolhas. Mas Luiz me provou que, mesmo no fim, sempre há escolhas. Ele poderia ter cedido à sua loucura e acabado comigo. Com meu bebê. Ele podia e eu sei que ele chegou a cogitar isso. Mas, quando a linha chegava ao fim e ele precisou tomar uma decisão, ele me escolheu, mesmo que isso me levasse para Fernando. Eu prefiro encontrar certa redenção nisso.

O inferno que ele viveu não foi justo, então que ele tenha encontrado alguma paz naquele salto. Ele não pertenceu a ninguém, nem ao sangue, nem ao coração. Ele tentou provar tudo a todos, assim como Agda. Essa necessidade extrema de provar alguma coisa ao mundo nos deteriora de uma forma sutil, causando danos cada dia mais irreversíveis.

Para que provar? Para que homens e mulheres como Bernardo, no topo da sua ganância e soberba decidam sobre nossas vidas? Que espécie de deuses esses julgadores são para se colocarem em tão alto pedestal?

Mas foi nesse pedestal que ele decidiu o sim e o não, tornando Agda uma mulher que tinha tudo para ser brilhante, a mais infeliz que eu conheço, longe de nós e da família que ela dizia amar. Foi de lá que decidiu a forma como Luiz viveria e como Fernando agiria e até mesmo o quanto Stella sofreria. Foi entendendo-se como senhor do Olimpo, que Bernardo matou o próprio filho e destruiu a vida de Filomena.

Filomena. Lembro-a reclusa em seu mundo de cura, longe de nós depois que sua tentativa de retorno se mostrou enganosa e frustrada. Ela merece uma segunda chance, o que começamos a ofertar quando não a denunciamos pelo roubo do projeto.

Mas, antes, precisa entender que o pedestal de Bernardo não pertence a mais ninguém. Ninguém tem nada a provar. Ninguém tem nada a julgar.

A mão de Fernando toma a minha com tanta devoção, que creio que posso rir para sempre. Eu não sou mais a mulher que ele contratou, definitivamente. Não há mais o desespero da desconfiança, senão a liberdade de se entregar permitindo errar e acertar o quanto for preciso. A vida é um risco e eu me lancei nele e farei isso até o último pulso.

Ninguém me pagará por isso, me fará assinar papéis ou irá me ludibriar. O risco é meu e eu vou aceitá-lo. E como forma de jogarmos tudo no esquecimento, devolvi o cheque de cinquenta mil reais para Fernando que, por óbvio, não aceitou.

Ele bailou entre nossas coisas até que, enfim, decidimos. Eu não o queria, pois não recebia qualquer valor por amá-lo. Ele não o aceitava, pois achava besteira.

Um dia, no auge da minha teimosia, simplesmente fui ao banco e doei para um centro comunitário de apoio a mulheres empreendedoras. Um centro pequeno e sem muita atenção no meio social, mas que garantia que mulheres pudessem se aperfeiçoar em diversas profissões e ganharem autonomia.

Muitas iam para aprender algo novo, mesmo que jamais fossem exercer, mas pelo simples prazer do conhecimento. Elas amavam ficar em suas casas e cuidarem dos seus e queriam apenas a chance de aprender, caso decidissem mudar de ideia.

O centro comunitário se tornou uma das minhas paixões que compartilho com Stella. Ela reverteu boa parte dos milhões para aquele lugar, nos tornando verdadeiras benfeitoras da sociedade de São Paulo. Hoje, intercalo os dias entre organizar a floricultura, na qual diversas mulheres que eu mesma treinei trabalham, aprimorei-me no designer e reclamo da barriga enorme que carrego.

Reclamo, mas sou apaixonada até pela voltinha da circunferência que o nosso bebê dá. Nosso bebê.

Penso com orgulho sobre o fato de existir nesse pequeno espaço a minha vida toda. No dia em que tudo aconteceu, precisei ficar internada, pois além das feridas mais expostas, a gravidez colocou-me, mais uma vez, em uma situação complicada.

Um Contrato de NoivadoOnde histórias criam vida. Descubra agora