Capítulo 35

403 54 14
                                    

• Maiara •

Ligo para Biah logo cedo para dividir a fofoca, pois sei que irá xingar tanto o Luiz que ficarei animada. Ligar para ela significa ligar para Sorocaba, mas ela sempre consegue furtar o celular do pobre homem.

Biah: Espera. — Diz sussurrando do outro lado da linha. — Você está dizendo que não rolou nem uma faísca com o belga?

Maiara: Biah, você ouviu o que eu te contei?

Biah: Sim, você conheceu a dona Jiló, a prova viva de que chocolates e jilós não coexistem, já que você é a noiva. Nada mesmo?

Maiara: É sério? — Reclamo ao mesmo tempo que rio.

Biah: Olha, eu sei que foi chocante. E triste. O racional comandou alguém alguma vez na beira de uma traição? Acha que não me lembro como você ficou meses atrás? Amiga, parecia que um vendaval passou e deixou só a casca. Mas olha você aí, inteira! Ela é uma lembrança amarga que passa se você come a porra do chocolate!

Maiara: Deixa eu ver se entendi o seu conselho. Quanto piores forem as lembranças...

Biah: Mais você se lambuza. Exato! Não estou dizendo que não vai doer e muito menos minimizando a sua dor, você sabe disso. Só você sabe o quanto doeu e o quanto dói, principalmente, considerando as consequências das ações dele. Mas só você pode se reerguer e ser melhor que Luiz. Sabe como eu sei disso?

Maiara: Porque esse conselho é meu.

Biah: Exato. Você me deu esse exato conselho e foram essas palavras que eu decidi atender meu último cliente. Você disse isso, enquanto eu chorava até vomitar, pois tudo doía e eu tinha nojo de mim. Mas eu não sou responsável pelo que me aconteceu, apenas lidei com as circunstâncias. Lide com as suas, pois não te define.

Maiara: Você é incrível.

Biah: Eu sou. — Ela ri. — Não se esqueça do conselho da sua mãe. Quando doer, chore tudo o que puder e siga adiante. Ninguém te impede de viver seus traumas e lamber suas feridas. Mas sempre continue a caminhada. E a sua te leva para as Maldivas!

Maiara: Ok, prometo levar tudo com o máximo de leveza possível.

Biah: Tenta, mas sei que sua veia dramática impede. Qualquer coisa me liga. Agora preciso desligar, pois Sorocaba está de cara feia querendo o celular dele.

***

Tento sair de fininho, pois minha tia certamente quer cortar a minha cabeça por ter dormido fora, na casa de Fernando e na véspera da viagem, mas qual não é a minha surpresa quando vejo Raquel no elevador, chegando durante a minha fuga.

Maiara: Só pode ser brincadeira!

Raquel: Bom dia, Maiara. Desculpa, não sabia que estaria aqui.

Maiara: Raquel, querida, eu meio que moro aqui. Até onde eu verifiquei você não. — Acabo sendo grosseira, pois esse povo desconhece limites.

Raquel: Vim entregar esses documentos para Fernando. Meu Pai...

Maiara: Você é office boy do seu pai?

Fernando: Bom dia... — Fernando perde a fala quando encara a cena. Ele está de terno e acho incrível a coragem de trabalhar às vésperas de uma viagem. — Raquel?

Maiara: Fernando, meu amor, você alugou um quarto aqui? — Desde quando eu sou cínica assim? Ele me encara interrogativo. — Bem, aparentemente ele não se lembra, então porque você está aqui às seis da manhã, Raquel, se não vive aqui e nem é boy do seu pai?

Um Contrato de NoivadoOnde histórias criam vida. Descubra agora