Capítulo 17

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• Maiara •

Meu tempo com a dona Stella foi multitarefa. A mulher me levou para um salão de beleza, no qual apenas sai após quatro horas, com uma fome absurda. Um corte sutil nos meus cabelos e alguma mágica o deixaram brilhando como se eu fosse participar de um comercial de xampu.

Minhas unhas delicadamente feitas me deixam distante da moça que anda por aí de bicicleta. Mas um horror foi a sessão de depilação. Não sei bem por que eu fiz isso, mas dona Stella é uma negociadora ímpar.

Ela consegue tudo, eu nada. Coisa de família.

Quando percebi, uma mulher que deve ter pego uma chama do inferno para criar o seu próprio, me torturava lentamente levando pelos e minha alma. No fim, o resultado foi espetacular, porém o caminho até eu me sentir uma deusa foi cruel.

Contudo, estranho mesmo foi entrar no Shopping Iguatemi onde apenas o luxo, o poder e a riqueza entram, compram e usufruem. É justamente aqui que eu entrei como Maiara, a florista, e agora saio uma noiva Zorzanello. Sigo usando meus adorados vestidos, mas agora com uma boa etiqueta, como disse Sorocaba.

Tudo bem, talvez os modelos sejam mais refinados e valorizem absurdamente o meu corpo. Nesse momento, quando encaro o resultado, sinto-me a verdadeira Cinderela ao lado da fada Stella. Sem príncipe, mas com um cabelo de arrasar.

Ela diz que as coisas serão entregues em sua casa até resolvermos como eu apresento um guarda-roupa novo para a minha tia. Bem, minhas roupas novas vão adorar morar na mansão.

***

Chego à floricultura e minha pele iluminada, unhas feitas e cabelo de revista não passam despercebidos por Tia Áurea e Biah. Finjo costume e agradeço por ter me lembrado de voltar com a mesma roupa.

Áurea: Você está diferente.

Maiara: Apenas esmalte e uma hidratação. Dona Stella quis que eu a acompanhasse hoje.

Áurea: Minha filha, não abuse da boa vontade dela. Às vezes Stella exagera.

Maiara: Pode deixar. — Rio sem graça. — Vamos fechar a loja?

Mudo de assunto e começo a colocar os sacos de terra e adubo no lugar, repondo material para os arranjos no dia seguinte e verificando algumas plantas que recém chegaram na entrega desta manhã.

Uma vez por semana vou até o distribuidor e reponho as plantas que não consigo cultivar na nossa estufa. Fecho o caixa e vejo que as vendas foram ainda mais baixas que o normal, mas não comento nada.

Maiara: Tudo certo! Vamos? Estou cansada, melhor chamar um táxi só dessa vez.

Áurea: Filha, estamos economizando. Ônibus é mais barato. — Minha tia afirma, enquanto passo a chave na porta.

Estou pronta para retrucar, quando assisto uma quantidade considerável de fotógrafos, câmeras e repórteres vindo em nossa direção. Olhamos ao redor em busca de alguma celebridade perdida naquela área, mas em nossa direção só tem isso mesmo: Nós.

Puxo Tia Áurea para trás de mim e noto o nervosismo de Biah, pois tudo o que um ilegal não quer é atenção. Coloco a chave de volta e giro correndo a fechadura.

Áurea e Biah: O que está acontecendo? — As duas questionam exaltadas e sinto meu coração bater mais depressa que o normal. Sequer tenho tempo de responder, quando recebo uma mensagem e fico sem reação.

"Não saia da loja. Vou dar um jeito.".

Não preciso ser um gênio para saber quem é o remetente. Mas preciso ser para entender a gravidade do que ele diz, quando um clarão ilumina meus olhos, quase me cegando e Biah começa a gritar com alguém na porta.

Um Contrato de NoivadoOnde histórias criam vida. Descubra agora