Capítulo 23

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• Maiara •

Ainda sem estar completamente pronta para interagir novamente com ele, um carro imenso e um sorridente Fernando param em minha porta pela manhã.

Seguimos silenciosos até o seu condomínio, cada um preso em seus próprios pensamentos e apenas uma música suave ao fundo. Quando a porta do elevador finalmente se abre em seu andar, antes que eu siga para o "meu" quarto para colocar a roupa de rica, paralisamos ao ver Raquel sentada no sofá com um café em mãos, sorrindo.

Fernando: Raquel?

Raquel: Fernando, quer... desculpe. Como vai, Maiara?

Maiara: Estou ótima! Não é muito cedo para você?

Raquel: Fernando, me desculpa. Não sabia que estaria com visitas. Eu apenas precisava conversar com você uma coisa urgente. — Eu rio tão falsa e ironicamente, que vejo as narinas da mulher segurarem o fôlego para não romper minha cabeça.

"Visita". Sério, se não fosse um contrato eu certamente já teria perdido o meu pouco glamour e arrastado a samambaia para dentro do elevador, apertando o botão com força, apenas para garantir.

Não por ciúmes, mas pelo ultraje.

"Visita"! Até parece. Ela está tão elegante como sempre e eu nos meus queridos vestidos, pois a visita chegou antes de eu trocar de roupa.

Maiara: Conversem! — Digo tão animada que a testa de Fernando franze em minha direção. — Querido preciso me trocar. Adorei nosso passeio, mas não posso me atrasar para o trabalho. Vou te deixar com a visita.

Saio pomposa com a minha maturidade do jardim de infância e me tranco no quarto. Pode-se chamar de recalque, mas toda mulher tem que saber cuidar muito bem do seu orgulho.

Escolho o melhor vestido para o dia e coloco sandálias que gritam "rica" aonde eu for. Passo uma suave maquiagem e o perfume, e, sinceramente, eu me pegava! Encaro o resultado no espelho e uma pontada de mágoa me atinge.

Se eu estivesse exatamente assim um ano atrás, Luiz não teria feito um terço do que fez. Não teria buscado uma socialite. Ainda fere meu ego saber que a escolha dele não se pautou no que sentia, senão em um número na conta corrente.

Fere meu orgulho ele ter deixado um saldo bem negativo na minha. Ouço a porta bater e encontro Nete me olhando admirada.

Nete: A senhorita está maravilhosa!

Maiara: Obrigada! — Sorrio em gratidão. — A visita já foi?

Nete: Sim, acabou de ir embora. O Senhor Fernando mandou chamar.

Maiara: Claro que mandou. — retruco.

Fernando: Finalmente! — ele exclama sem me olhar, com a sua paciência de milhões. Noto as suas narinas inflarem suavemente e a sua testa franzir. Quase me farejo, pois cogito estar fedendo.

Maiara: Algo errado?

Fernando: Nada demais. — Responde duramente, não sei se pelo mau cheiro hipotético ou pela conversa com Raquel. — Nete, jamais permita que uma visita entre aqui sem minha presença. Apenas Stella e Maiara tem essa autorização.

Maiara: Eu? — Questiono, pois o que faria ali sem ele?

Fernando: Sim, pois, agora, essa é também a sua casa. — Ele simplesmente decide, sem me perguntar motivado por seja lá o que. Não combinamos partilhar o teto!

Maiara: Eu perdi parte dessa conversa, imagina...

Fernando: Depois conversamos, querida. — Ele me silencia e encaminha para o elevador, com aquela mão possessiva na minha cintura. — Que tenha sido a última vez, Nete. — Finaliza com uma indignação que, se fosse para mim, me demitia.

Um Contrato de NoivadoOnde histórias criam vida. Descubra agora