Capítulo 26

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• Fernando •

Desde que Agda descobriu que eu, aparentemente, pareço não me importar com a empresa, já que comecei a ajudar ilegais, minha vida virou um caos. Deixar Agda saber sobre Biah foi uma desatenção imensa de Maiara e só me fez descobrir uma coisa: eu mesmo andei desatento.

Tudo isso começou pelos negócios e me deixei levar para afazeres inúteis por conta dela. Jantares com Áurea, passeios em cumprimento do contrato e tudo o que minha avó entende necessário.

Perdi o foco e uma coisa deu errado. Sempre me orgulhei de ser nada menos que excepcional no que eu acho, sem erros e, quando existem, Sorocaba e eu somos implacáveis em contorná-los. Mas sempre há erros inevitáveis e esse não é o caso.

Mas, meu maior incômodo nunca foi esse. Disfarcei-o, pois olhar para dentro é complicado. Maiara cheira a flores, na maioria das vezes lavandas. Flores, tal como o jardim da mansão cheirava, quando eu era pequeno.

"Vamos plantar um girassol junto com a sua vó. Ela reclama que não tenho tempo para ela, então vamos mimá-la juntos, amigão! Mas, deve prometer cuidar! Se ele crescer sem falhas, vamos viajar juntos, Fernando. Juntos, sem trabalho ou o ranzinza do seu avô".

Ele prometeu e eu cuidei. E destruí.

O cheiro ainda é apegado à minha memória e ela parece trazer à tona cada vez que se aproxima. Eu odeio essa memória, mas parece que tenho perdido o foco dela também. Ela me lembra do que eu me tornei e não quero esquecer disso, como tenho feito.

E, tentando me lembrar, reforçar em minha mente, consegui fazê-la recuar em resposta a minha atitude. Há dias que trocamos poucas palavras para desespero de vó Stella. Ela acha que não percebo suas desculpas para manter nós dois no mesmo ambiente. Visitas aleatórias no meio da tarde e agora um jardim no meu escritório.

E na minha casa.

Maiara terminou o projeto da minha avó e agora comanda uma equipe para implementá-lo, o que a deixou com mais tempo para inventar outros espaços para cultivar. Minha avó arranja desculpas para justificar o salário dela, pois entendi que ela voltaria para floricultura.

Não era o combinado, mas no momento eu agradeceria a distância. Que pensem que a noiva de Fernando Zorzanello trabalha em uma floricultura! Dos males, o menor. Mas a super Stella protetora das floristas junta dois mais dois e daqui a pouco terão flores no meu elevador.

Bem, já existem na minha sala, assim como almofadas coloridas e fotografias de um casal apaixonado que não existe. Eu a busco, ela se troca no meu apartamento, levo-a para jantar às vezes, ela me obriga a andar de bicicleta e quando volto para descansar, adivinha? Mais dela.

Não sei em que momento essa mulher literalmente dominou tudo, mas agora não há espaços que não tenham a imagem, o cheiro ou uma marca de Maiara. O contrato parece ter ganhado vida e vem uma vez por hora me assombrar.

Estou sentado no meu terraço olhando uma rede de crochê e, ao fundo, plaquinhas indicando espécies de flores que ainda serão plantadas, tentando apreciar um drinque. Apenas ele, pois meus cigarros sumiram. De novo.

Sinto o gosto entorpecente me obrigando a concentrar no que não deveria: uma foto na qual minha mão está na cintura fina da mulher parece ser sexy demais para meu gosto.

Levanto-me com indignação e recorro à geladeira descobrindo algo para o jantar e, quando penso em pedir uma pizza, vejo uma maldita vasilha florida na minha geladeira.

Flores!

Sempre flores!

Analiso o estranho conteúdo da vasilha. Quando isso veio parar aqui? É então que eu noto um bilhete com uma letra desenhada e pequena.

Um Contrato de NoivadoOnde histórias criam vida. Descubra agora