Capítulo 56

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• Maiara •

Felipe escarnece o quanto pode em cada segundo, diferente daquele que conheci nas Maldivas. Aquele que parecia tudo, menos irmão de Luiz. O olhar superior, a ironia constante e a ameaça velada em seus olhos são os primeiros sinais, antes dele minar completamente minhas forças.

Eu estava sobrevivendo a esses dias, mas por um segundo, quis apenas desistir. É como nadar contra a corrente com todo o ímpeto e às vezes paramos para boiar e recuperar as forças. Mas naqueles minutos eu quis só me entregar à correnteza.

Nunca soube da existência de Felipe até dias atrás e de repente sou jogada cara a cara com uma realidade na qual ele traçou minha vida até aqui sem qualquer pudor. Sua dureza e crueldade ilimitadas refletem a mesma que vi no olhar de Bernardo hoje.

Tudo aconteceu apenas e simplesmente porque ele descobriu a minha existência na vida de Luiz.

Maiara: O que quer aqui?

Felipe: Eu sempre soube que Luiz iria se prejudicar por sua culpa. — Ele ergue as sobrancelhas como se constatasse o óbvio. — Claro que nunca esperei que terminaria em um hospital.

Maiara: Sabia de mim?

Felipe: Não no início. Sabe, Luiz não é a ovelha preferida da família, mas é da família. Um bon vivant por natureza, sempre esbanjou nossa fortuna, melhores viagens, melhores mulheres e nenhum objetivo, enquanto eu estava lá trabalhando duro para dar continuidade ao nosso patrimônio. Mas com o tempo, percebi que ele sumia sem deixar rastros e foi quando descobri você.

Ele caminha e segue até a janela, como se fosse admirar a vista.

Felipe: Uma mulherzinha de São Paulo, sem nome, sem fortuna e apenas mais uma despesa para ele. Sabe que eu exigi que te deixasse? Ele recusou. Você deve ter uma buceta de ouro porque...

Maiara: Olha aqui... — Começo a me defender, mas suas próximas palavras me surpreendem.

Felipe: Então cortei absolutamente toda a sua renda e só voltaria a custear suas farras se ele garantisse o negócio com Giordano.

Maiara: O que?

Felipe: Ele precisava conquistar Andressa, sabe, uma mulher fina e de gostos caros. Como ele a conquistaria sem um centavo no bolso?

Maiara: O empréstimo. — Sinto uma tontura me afligir, quando compreendo para onde meu dinheiro foi. Custeou a maior traição... — meu Deus! — Coloco a mão na boca.

Felipe: Exatamente. O dinheiro. O resto você já sabe, não é? Ele convenceu Andressa de sua riqueza, conseguiu envolvê-la, você descobriu. Até mesmo ela soube de você, mas juntar-se com um Almeida seria um benefício e tanto.

Maiara: Mas ela quis Fernando... isso não faz sentido!

Felipe: Sim, quis, quando soube que ele daria muito mais vantagem do que o filho rejeitado dos Almeida. Não a julgue, é uma mulher ambiciosa, apenas isso. De repente meu irmãozinho estava sem nenhuma das duas, sem nada.

Suas palavras são propositais com o intuito de ferir. Remoer tudo que aconteceu não é tão ruim quanto descobrir o motivo pelo qual tudo aconteceu. Saber que a intenção dele era manter-se comigo e Andressa é simplesmente nojento. Inacreditável que enquanto ele me tocava, suas mãos... ele estava com nós duas ao mesmo tempo.

Felipe: Está imaginando? Ele indo foder você na sua casa, depois de estar com ela? — Felipe consegue ser tão cruel, que não consigo encontrar minha voz. — Ele comparando vocês, dizendo que te amava e querendo filhos! Bastardos! Como você pode ser tão ingênua em achar que alguém como nós iria querer uma mulher como você para apresentar por aí... sabe, Fernando teve coragem. Acha que não falam de vocês pelas costas? Não questionam por que ele a apresenta como noiva, quando serve no máximo para amante?

Maiara: Vai para o inferno!

Felipe: Hei! Fala baixo, não quer acordar a pobre mulher... — zomba. Meu corpo parece dormente tamanha humilhação. — Bem, se não sabia, agora sabe. Se um dia Fernando não a quiser mais, saiba que sempre terá uma cama para aquecer na residência Almeida. Eu mesmo estou curioso...

Ele diz se aproximando perigosamente de mim e eu me afasto de supetão.

Felipe: Acalme-se. É apenas curiosidade, pois quase invejo o fascínio deles por você. A ponto de quase se matarem. É poder demais para uma mulher, não acha? A vida e a liberdade de dois homens na palma de suas mãos. Confesso que achei um talento. Pena que Luiz descobriu da pior forma quão esperta você mesma é. Quem sabe nosso querido Fernando também não descobre?

Eu entendo a intenção de Felipe, mas é impossível minha mente não absorver suas palavras. De repente estou no meio dessa guerra entre famílias, para a qual eu fui tragada muito antes de conhecer Fernando.

Tudo aconteceu e eu sempre estou no meio, todos odiando-me, detestando-me e vendo-me apenas como algo, uma coisa reutilizável. Eles não têm qualquer remorso em lançar-me de um lado para o outro, oferecendo-me dinheiro, objetificando-me e agindo como se eu não tivesse nenhum resquício de dignidade, apenas porque a deles é negociável.

E Fernando. O quanto ele já não se prejudicou, quando apenas me convidou para ajudá-lo? Céus, eu deveria ser a noiva que o ajudaria a ter o maldito contrato e não a mulher que o faz perder bilhões, ganhar má fama e ir preso. Eu deveria ser quem traz a cor que ele tanto diz e não quem mina de vez quem ele é.

Tia Áurea e Biah amam jogar na minha cara que eu tenho problemas de confiança. Mas é possível confiar-se quando se deixa um rastro de caos por onde se passa?

Maiara: Eu vou chamar a segurança! — digo, saindo, apesar do medo de deixá-lo sozinho com minha tia.

Felipe: Estou de saída, não perca seu tempo. Só vim lembrá-la que é tão culpada de tudo isso, quanto nós.

Maiara: Ele é responsável por cada coisa que aconteceu.

Felipe: Concordo. Mas pelo menos a sua burrice tirou Fernando Zorzanello do páreo. No fim das contas vim te agradecer, Maiara, pois graças a você consegui o maior contrato que a Almeida & Co. poderia ter. Basta apenas esperar Luiz acordar. Você é a benção e maldição dos Almeida e dos Zorzanello. Sinta-se privilegiada, florista. Não diga que eu não avisei quando Fernando afundar de vez.

Maiara: Vá embora. — Digo, no limite.

Felipe: Ah! Antes que eu me esqueça. Agora que Fernando Zorzanello não é um problema, você pode voltar a brincar de casinha com meu irmão. Quem sabe eu também não participe? — Ele solta uma piscadela, mas eu engulo as palavras ao ver Fernando entrar no quarto.

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Maratona 2/6

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