Capítulo 39

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• Fernando •

Estamos todos sentados à mesa do belíssimo restaurante escolhido pela família Giordano para unir Zorzanellos, Giordanos e Almeidas, que a todo instante encara a porta, enquanto mantém o humor e os assuntos agradáveis a todos, ao contrário do meu óbvio mau humor.

Assim que chegamos nessa manhã recebi uma ligação urgente de Sorocaba, pedindo que eu buscasse um lugar privado, pois certamente não reagiria bem. No momento meu sangue gelou, mas disfarcei enquanto assistia Maiara para lá e para cá se preparando para o café da manhã.

Quando ela saiu do quarto, parecia que jogaram uma bomba no meio do que já estava caótico o bastante. E a cereja do bolo foi encontrá-la conversando com Felipe Almeida.

Difícil saber se foram honestos ao afirmarem que não se conhecem, quando ele mesmo disse querer revê-la quando nos encontramos na Itália. E agora isso faz o absoluto sentido, o que significa que, talvez, ela esteja mentindo.

Difícil ter certeza sobre como, dentre milhares de mulheres, minha avó selecionou especificamente, Maiara Pereira, que parece estar mais imiscuída em tudo que anda acontecendo.

As palavras do meu avô amaldiçoando-me a ser usado por uma florista voltaram a galopes e é difícil prever tudo sem mais informações. Mantive-me afastado ao longo do dia, precisando compreender e filtrar as informações.

Encaro-a adormecida, semelhante a uma fada, que fica em meio a suas flores, em meio a terra, tal como uma divindade grega. Parece-me incompreensível essa versão ser mergulhada em tanta sujeira, como a linha dos fatos parece sugerir.

Foi me permitindo ter essa dúvida, que me deitei ao seu lado e velei seu sono vespertino, tentando sondar apenas com o olhar porque maldição estou tão incomodado com a mera hipótese de que Maiara pudesse mentir, quando tudo em nós baseia-se justo em uma mentira. Quando confessou ter sido traída, fiquei aliviado, pois a ignorância e a traição são um bom indício e expiam seus pecados.

Eu poderia tê-la questionado, mas a necessidade em saber a verdade me fez colocá-la em uma situação em que será tudo ou nada. Maiara tem um rosto absurdamente expressivo. Ele não mente, não dissimula e fala assustadoramente sem parar. Se eu a preparasse, talvez conseguisse agir com alguma normalidade. Ou pior, fugisse como fez quando encontrou Andressa.

Engraçado eu não ter suspeitado de suas reações, o nervoso e a raiva latentes. A dor. Essa foi excruciante e eu pude ouvir, enquanto ela a derramava no chuveiro em meu apartamento na noite do lançamento da Janus.

Por um minuto, penso que seria ideal chamá-la e contar tudo, correndo o risco de eu ser o enganado da história. Mas noto seu sorriso na mesa de jantar, os olhos brilhantes enquanto assistem casais dançando e a música preenchendo nossos sentidos em batuques compassados e locais.

Chamo um garçom, oferecendo-lhe uma quantidade razoável de notas e fazendo um pedido em especial. Logo, a música muda e uma salsa preenche o ambiente. Praticamente posso vê-la arregalar os olhos, como se buscasse de onde vem.

Fernando: Vamos? — Eu a convido, saciando minha vontade dela e evitando a conversa intragável de Almeida, Giordano e meu avô.

Maiara: Dançar? Claro.

Ela aceita minha mão dando pequenos pulinhos de alegria, como se tivesse encontrado um presente debaixo da árvore na manhã de Natal. O vestido que ela usa é sensualmente trabalhado em sua pele, em um tom que brinca entre o nude e o dourado, brilhando com detalhes que não sei do que são feitos. Ela usa apenas os brincos e seu busto resta adornado com o decote em V que a deixa... deliciosa.

Um Contrato de NoivadoOnde histórias criam vida. Descubra agora