Capítulo 87

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• Fernando •

As linhas do relatório parecem ganhar cada vez mais força, quando noto que, próximo a data na qual o projeto foi anunciado, a presença de Luiz aos arredores da casa se tornou cada vez maior. Não achamos que seria um problema, se ela estava protegida à época.

Mas, como conseguiu segui-la e saber quando e onde ela estava? E, se ele a seguiu novamente? Por mais que eu busque na minha memória, não consigo imaginar a quem ela recorreria, se essa pessoa tem consciência do perigo que Luiz representa para Maiara e o bebê.

Eu odeio ficar no escuro. Ouço a campainha tocar e autorizo a entrada. Minha mãe surge com o olhar preocupado e eu apenas consigo bufar.

Fernando: O que faz aqui?

Filomena: Preocupada com você. Todos estamos, Fernando.

Fernando: Todos quem? O avô do ano? Tsc! O coração dele é forte.

Filomena: Não me importa o que ele sente. Mas, Deus, eu odeio concordar com ele... Fernando, o que ela te fez...

Fernando: Ela não fez nada! Você sequer se esforçou em conhecê-la e age como se me conhecesse! — Afirmo indo ao bar e pegando a minha garrafa de Bourbon.

Filomena: Eu sou a sua mãe e...

Fernando: Nunca foi! — Esbravejo, afundando no esquecimento as palavras de vó Stella. — Você quis tanto se curar e agora vem aqui me quebrar com os seus medos sobre ela? São seus, mãe. Agora quem corre o risco de viver uma vida longe de um dos pais é o meu próprio filho! — Rio ironicamente. — A maçã não cai longe da árvore.

Filomena: Você sabe que eu precisava! Nunca questionou...

Fernando: Nunca questionei, porque não estava no seu lugar. Nossa vida era um inferno, mas até o meu pai sabia estar ali para mim! Agora eu sei que deixaria o mundo cair sobre mim, se meu bebê estiver bem. Eu me deixaria quebrar mil vezes, mãe, se tivesse certeza de que ele está seguro!

Filomena: Bebê?

Fernando: Pois é! A mulher que eu humilhei com crueldade está esperando um filho...

Filomena: Como tem certeza de que é seu?

Fernando: Eu fui estúpido o bastante para questionar se não era de Almeida.

Filomena: Luiz.

Fernando: O próprio. Mas, minha tolice apenas aumenta. Maiara não cresceu em meio a essa podridão. Mesmo que fosse uma traidora, jamais mentiria sobre a paternidade do próprio filho.

Filomena: Você a conhece a pouco tempo, não tem como saber... — encaro-a severo. — Quer dizer que serei avó?

Fernando: Agora acredita que é meu? Não, não será. Para isso você deveria ter sido mãe antes.

Filomena: Não tem o direito de me julgar...

Fernando: Eu não sabia o quanto precisava de você. Eu terminei sendo do mesmo material que ele e despejei a minha loucura sobre ela. Eu não sabia que precisava... Maiara não seria o meu mundo, pois teriam mais pessoas nele quando ela chegou aqui.

Filomena: Não me culpe por suas suspeitas. Você não sabe de nada!

Fernando: Não, eu sou tão responsável quanto, e certamente não sei de nada. Você simplesmente decidiu chegar aqui aos meus trinta anos atuando como se fosse presente por toda vida. Esfregando na minha cara a falta que fez. Então, não. Você não será avó no que depender de mim, até porque para isso eu preciso ser pai. Mãe, volte de onde veio. Viva sua vida feliz, suas viagens e seus romances. Viva como sempre quis desde que a família te aprisionou, desde que eu te aprisionei.

Um Contrato de NoivadoOnde histórias criam vida. Descubra agora