Capítulo 59

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• Maiara •

Marquei um encontro com Fernando na praia de São Sebastião, próximo a Orla, ao pôr do sol. Se eu pensar bem, de fato jamais fiz nada romântico, não no padrão Fernando Zorzanello.

Segundo ele, não havia valor no que ele fazia, não havia sentimento... era o ato carnal e puro em obter prazer. Ele adora sussurrar que eu o transbordei e isso parece significar muito, pois ele o diz em meio à sua dureza tão inerente, a testa franzida e sempre pensativo.

Ele segue o mesmo que eu conheci e, ainda tão diferente. As vezes ainda sinto o gosto do tabaco, o qual ele evita por me deixar parecendo um coelho. Engraçado que a fumaça me incomoda, mas não o sabor, que nunca é puro tabaco. Talvez seja único porque é dele e por eu não entender nada de charutos. Noto que ele aprecia o ato e nunca o obriguei a parar, senão a quantidade de álcool. Por vezes, quando Bernardo vai à empresa, noto seus olhos mais brilhantes e o sabor da sua boca adocicado com notas e aromas específicos.

Mas nada disso afasta o fato de que ele mudou e mereço tudo o que eu posso oferecer. Minha insegurança, que tantas vezes disfarcei por precaução, me travou e impediu de fazer por ele o que ele faz por mim.

Elaborei um pequeno vaso de papoulas e com uma fita amarrei-o à carta, unindo-os. Optei pelo vaso e não por um buquê, pois ele precisa durar e as coitadas não mereciam isso. Arranjei uma toalha de piquenique xadrez e fiz uns biscoitos adocicados que aprendi com minha mãe. Coloquei um pouco de mim em cada detalhe, para que ele entenda que me entrego completamente.

Ele já tem meu corpo e o meu coração. Nossas almas já decidiram se unir e a certeza disso tive naquela gruta.

Hoje, dou-lhe o que foi mais difícil: a minha confiança.

Encaro a pequena medalhinha que comprei como símbolo. Ela é de ouro e o seu formato é de âncora. Seu objetivo está descrito na carta. Espero que ele leia em casa, sozinho e tenha tempo de assimilar o que significa esse passo para mim.

Acho graça sobre como foi simples para ele entregar-se para mim. Ele me considera quase a encarnação da bondade e não vê as mil falhas que possuo. Ele me vê com um olhar único e isso é de uma preciosidade que eu não sei mensurar.

Espero que esse olhar nunca se quebre, pois provavelmente eu me romperia junto.

Estou ajeitando tudo, quando ouço passos lentos sobre a areia, a praia já está mais vazia e ao longe vejo Marquinhos zelando por nossa segurança e contra fofoqueiros.

Fernando: Eu devo me preocupar em ser tão mimado assim? — Ele se aproxima e o cansaço é nítido em seu rosto, eis que trabalhando além do devido. Sorri e me furta um beijo lento. — Estava com saudades. Achei que estava fugindo de mim. — Direto.

Maiara: De mim, para ser mais específica. Não tem como fugir de você.

Ele se senta e dobra a perna, apoiando o braço. O sol reflete em sua pele e sua expressão é serena, como se descansasse ali comigo.

Fernando: Tudo bem se não estiver pronta... — a distância que sem querer impus o deixa reticente.

Maiara: Estou. Serei honesta aqui e precisa entender que não fujo de vocês. As coisas que Felipe falou e tudo referente ao seu avô...

Fernando: O que?

Maiara: No dia em que você foi preso, ele me ofereceu um milhão de reais para eu sair da sua vida.

O choque e a dor no rosto de Fernando me fazem querer engolir as palavras de volta. Suas narinas inflam e ele não sabe exatamente como reagir.

Fernando: Ele queria comprar você! — A raiva arranca suas palavras. Fernando acreditava não poder ficar mais decepcionado com Bernardo.

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