Capítulo 53

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• Fernando •

Sorocaba: O que deu em você, Fernando? — Sorocaba ralha como se fosse meu pai, mas a aflição em seu rosto denota preocupação genuína. — Sua avó está desesperada, pois aparentemente o neto decidiu voltar às colunas de fofoca por agressão!

Fernando: Perdi a cabeça! — Digo, exasperado. — Onde ela está?

Sorocaba: Como assim aonde ela...? Você pode pensar em você por apenas um minuto, pois é por causa dela que está nessa enrascada! — Implora. Vendo que eu sigo questionando, seus ombros caem em rendição. — Está com sua avó e a tia, ambas em pânico, mas eu não ia aguentar lidar com todas juntas. Lá em cima, Fernando!

Ele aponta para o segundo piso da mansão, para onde nos trouxe assim que chegou à casa de Maiara. Sorocaba garantiu que Luiz fosse atendido, afugentou curiosos e a imprensa que chegou primeiro e nos trouxe para um lugar com menor acesso a curiosos.

Fernando: Obrigado. — Agradeço, pois ele faz muito por mim, para além de um advogado. Faz como um irmão.

Sorocaba: Agradeça quando eu conseguir colocar panos quentes em tudo. Felipe não para de ligar, e por sorte, seu avô está dormindo.

Fernando: Sabe que esse é o menor dos problemas.

Sorocaba: É o maior, se considerarmos que você deu razão a ele. Precisamos virar isso ao seu favor.

Fernando: Legítima defesa de terceiro.

Sorocaba: Andou estudando, espertinho? Para isso você teria que estar defendendo alguém.

Fernando: Ele tentou agarrar Maiara, a atacou...

Sorocaba: As coisas aconteceram assim mesmo? Fernando, tenha em mente que, se ele prestar queixa, o depoimento dele valerá muito.

Fernando: Eu não sou responsável pelo que ele irá alegar!

Sorocaba: Alguma chance de dizer que foi atacado sem motivo?

Fernando: Não, Maiara tem um machucado enorme na testa que diz o contrário.

Sorocaba: Tudo bem. Por segurança, vou pedir um exame pericial e toxicológico para você e ela. Assim, teremos provas cabais de que não estavam desprovidos do discernimento de vocês no momento.

O celular dele toca e revira os olhos, indicando que é Felipe. Estendo a mão e, receoso, me entrega.

Fernando: Felipe. — Digo de forma dura.

Felipe: Fernando, que surpresa! Nunca imaginei que a raposa de São Paulo tivesse inclinações de agressor. — Ele provoca, mas eu apenas respiro. Já fiz besteira demais para uma noite só.

Fernando: O que quer?

Felipe: Avisar que espero que seja um homem de sorte e Luiz acorde, seu infeliz! Juro que vou até o inferno para colocá-lo atrás das grades como o homicida que é. Ah! E dê adeus ao seu valioso contrato!

Fernando: Te vejo no inferno.

Digo, desligando o aparelho. É óbvio que ele utilizará isso como uma tremenda vantagem no acordo com Giordano. O que me choca é ele lembrar disso enquanto o irmão está no hospital.

Fernando: Apenas ameaças. — Digo, encarando Sorocaba.

Sorocaba: Se ele ligou, acaba de envolver a polícia.

Fernando: Eu sei. Deixa que eu lido com Bernardo...

Sorocaba: E Maiara... a mulher está se culpando até dizer chega pelo que aconteceu.

Sua frase me aperta o peito, pois essa não era a intenção. Na verdade, nunca existiu intenção, somente instinto. O celular de Sorocaba não cessa e ele busca informações junto ao hospital e a polícia. Deixo-o trabalhar, pois minha mente não me permite ser de grande ajuda e vou em busca das três mulheres.

Quando apareço no jardim, Maiara está sentada, seus joelhos dobrados, servindo de apoio aos braços e à cabeça. Seu olhar preocupado demonstra alívio ao me ver, e antes que se levante, vou até ela. Posso ouvir as mentes das duas mulheres maquinando perguntas e as encaro, suspirando mais tranquilo.

Fernando: Perguntem. — Afirmo como se liberasse o sinal verde.

Áurea: Ele ficou mal mesmo? — Áurea é a primeira e seu tom não tem condenação. Posso dizer que está quase admirada.

Stella: Áurea, não seja boba! Meu filho, sabe que o que fez foi errado, não é? — Stella interrompe.

Áurea: Você não conhece aquele lá, Stella! Cobra traiçoeira.

Maiara: O que vai acontecer agora? — Maiara questiona, apreensiva.

Fernando: Sorocaba acha que Felipe envolveu a polícia. Provavelmente esperarão Luiz acordar para prestar depoimento.

Stella: Você pode ir preso? — A voz esgoelada e assustada de Stella me faz ter a primeira nota de arrependimento da noite.

Fernando: Ainda não sabemos, mas fiquem tranquilas...

Maiara: Minha culpa! Eu deveria estar atenta e...

Áurea: Não diga bobagem, Maiara! — Áurea ralha. — Luiz levou o que mereceu ou acha que não entendi o que ele fez com você? Se Fernando errou foi apenas pelo excesso...

Maiara: Tia, não defenda uma coisa dessas!

Fernando: Todas vocês, calma! Por favor, vão descansar. Logo cedo, Sorocaba terá notícias e eu juro que não quero ninguém mais preocupada que o necessário.

Áurea: Vou rezar... Stella, qual o santo vingador?

Stella: Isso não existe, Áurea. São Estevão é o do perdão.

Áurea: Então será ele mesmo. Que Deus perdoe aquele Luiz, porque a gente não é obrigada.

A mulher com ideias mirabolantes sobre a própria religião sai arrastando Stella, dando-nos privacidade.

Fernando: Está mais calma?

Maiara: Eu que pergunto.

Fernando: Senti raiva. — Assumo. — Primeiro por achar que você... — condeno-me por pensar em tamanha besteira.

Maiara: Eu também pensaria. Essa não é a questão... Fernando achei que você não iria parar.

Fernando: Eu não queria. Não consigo suportar a ideia de ninguém fazendo nada contra você.

Maiara: Eu estou segura Fernando. Por favor, não se arrisque mais. Nem mesmo por mim.

Fernando: Como se isso fosse possível. — Sorrio, admirando-a. — Você despertou o melhor de mim.

Maiara: E o pior. — Ressente.

Fernando: Essa parte sempre esteve aqui e por motivos bem menos nobres.

Maiara: Fernando, me prometa que nunca mais fará nada parecido. Eu entendo, eu juro que entendo o motivo que te levou a isso, pois é o que eu queria ter feito. Mas uma coisa são as consequências virem atrás de mim.

Fernando: Se for para te deixar tranquila, eu prometo. Agora, será que podemos, por favor, deixar tudo isso para trás e buscar um quarto no qual eu possa amar você a noite inteira?

Maiara: Como consegue pensar nisso agora? — Ela ri, quando eu a abraço e aspiro seu cheiro.

Fernando: Eu penso o tempo todo. Basta olhar para você, mulher. — Mordo o lóbulo da sua orelha e logo beijo sua nuca, tentando relaxá-la, pois, ao contrário do que aparento, eu sei que as coisas não são tão simples.

Tomo Maiara como um desesperado, ciente de que nossos planos, que Marselha e os passeios em meio aos campos de lavanda terão que ser postergados. Em um misto de tensão e placidez, faço-a minha várias vezes naquela noite, demonstrando-lhe que passe o que passar a única forma de eu deixá-la seria deixando de viver.

E provavelmente nem mesmo depois disso.

Um Contrato de NoivadoOnde histórias criam vida. Descubra agora