Capítulo 64

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• Maiara •

Há dois dias, recebi um projeto imenso em uma residência na mesma área em que fica a mansão de Stella. Elizabete Freire entrou em contato de modo formal e exigiu um projeto semelhante ao dos Zorzanello, com um prazo ínfimo de execução.

Considerando as despesas que terei com pessoal, cobrei um valor considerável e até mesmo acreditei que ela fosse desistir. Ledo engano. Agora, em 15 dias, preciso fazer um verdadeiro milagre.

Utilizando-me dos conselhos de Tia Áurea e muita pesquisa, assim como nada de sono, apliquei-me em tornar o projeto real. Marquinhos foi designado a me levar e hoje já nem me importo, pois, a quantidade de materiais que carrego, tornam inviável o uso da bicicleta, agora esquecida na floricultura. Saudades.

A mansão é apenas menor do que a de Stella, no que tange a extensão do terreno, mas é mais opulenta e um tanto exagerada. De luzes apagadas, certamente se filmaria algum filme de terror, pois as janelas imensas e o estilo vitoriano destoam da modernidade das residências da área.

Um homem engravatado que minha mente logo batiza de José, tal como um mordomo, me atende de forma gentil e põe fim à piada ao informar que seu nome é Pedro.

Fico alguns minutos na sala, aguardando, quando ouço passos na enorme escadaria atrás de mim. Eles diminuem e sinto-me observada.

Lucas: Maiara? — A voz familiar chama minha atenção, fazendo-me levantar de surpresa, deixando minhas pastas caírem.

Maiara: Doutor Lucas? — Minha mente tenta processar tudo e logo me recordo que o seu sobrenome é Freire. — Você é... — Aponto ao redor da casa, como se questionasse se ele é parte da alta sociedade de São Paulo. Minha expressão incrédula me delata.

Lucas: Sim, moro aqui. — Ele sorri.

Maiara: A senhora Elizabete me contratou...

Lucas: Você é a moça do jardim? Que coincidência! — Ele se aproxima e começa a me ajudar com o material.

XX: Lucas, ainda em casa? Não tinha horário, meu querido? — Uma mulher de aproximadamente sessenta anos, com uma figura impecável e ares de quem acaba de sair do cabeleireiro, desce as escadas como se fosse da realeza.

Lucas: Desmarquei minha última consulta e o plantão será apenas mais tarde. Relatório entregue, dona Elizabete.

Elizabete: Olá, Maiara, seja bem-vinda. De onde se conhecem? — A senhora pergunta sem compreender.

Maiara: O doutor Lucas cuidou da minha tia recentemente. É o médico dela. — Justifico.

Lucas: Lucas. — Ele me recorda. — E como está a paciente mais teimosa que já tive?

Maiara: Teimosa e irritantemente irresponsável. Mas estou fazendo meu melhor, garanto.

Lucas: Preciso vê-la na próxima semana, não se esqueça. — Aceno.

Elizabete: Bom, vamos ver o jardim?

Concordo e caminhamos pela extensa área. Apesar de ares de rainha, Elizabete me trata com educação e respeito.

Elizabete: Maiara, seu trabalho é simplesmente surpreendente. Já recebi tantos projetos lindos, mas nada que tocasse a alma como o seu. Você parece entender não apenas sobre flores, mas a alma delas. Deixou-me impressionada de verdade. Deveria se especializar, pois esse talento é único.

Maiara: Tenho pensado, na verdade, mas a correria e as preocupações com Tia Áurea me obrigam a deixar tudo para mais adiante.

Elizabete: Bem, trabalhos não irão faltar, pois se você concretizar o que está nesse projeto, me sentirei em um paraíso e recomendações não irão faltar. Garanto. —Diz com expectativa, alagando-me e me fazendo sentir que estou no caminho certo.

Um Contrato de NoivadoOnde histórias criam vida. Descubra agora