Capítulo 91

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• Fernando •

Encaro o jardim recém recuperado de vó Stella, ainda na área externa da mansão, lembrando-me quando ela me deu a mão ignorando minha fúria latente quando ainda éramos crianças.

"Tio Bernardo é que nem papai, às vezes briga, mas é para o bem". Ela me disse aos seus doze anos, quando me desentendi com Bernardo por alguma besteira que ele achava que eu devia fazer. Agda sempre o amou, sempre o adorou e nós somos mais sua família do que aquela que ela deixou.

"Família em primeiro lugar", ela sempre dizia, quebrando os conceitos equivocados de Bernardo e agora, percebo, sempre esteve em concordância com ele. Quando escolho Maiara em detrimento dos negócios, viro as costas para a família. Mas o que dizer dela que prejudica a própria família pelos negócios?

Stella: Fernando, querido! — Vó Stella sorri tão levemente que gostaria de poupá-la de tudo e, em situação rara, deixo-me ser abraçado — Se chegou é porque tem alguma notícia. Oh, Deus! Maiara?

Fernando: Sei que ela está bem, mas ainda não sabemos onde.

Stella: Aconteceu alguma coisa?

Fernando: Gostaria que nós dois tivéssemos escapado dessa família. — Assumo odiar ter esse sangue agora.

Stella: Uma coisa que os Zorzanello sempre foram hábeis é nos deixar sem escapatória. — Lamenta. — Mas por que estamos aqui debatendo o óbvio?

Fernando: Agda está?

Stella: Sim, esteve doente desde ontem e pediu para não ser incomodada.

Fernando: Eu vou... — a garganta parece doer. — Vou conversar com ela a sós, tudo bem?

Stella: Você está me assustando.

Fernando: Confiamos nela, certo? — Pergunto, tentando entender que a cegueira não foi apenas minha.

Stella: Ela nunca deu motivo contrário, mas que raios de pergunta é essa?

Fernando: Certo.

Stella: Fernando!

Fernando: A sós, vó. Por favor.

Subo os degraus de dois em dois e amaldiçoo essa casa ser tão grande, enquanto o quarto de Agda parece cada segundo mais distante. Dou uma leve batida na porta.

Agda: Tia Stella, por favor, não insista...

Abro em um rompante, surpreendendo-a bem saudável andando de um lado para o outro em seu quarto, roendo as unhas nervosamente, enquanto encara a tela do celular.

Agda: Eu já disse... — me encara. Séria por milésimos de segundos, até que se recorda de agir naturalmente e sorri, lembrando-se de ser minha pequena Agda. — Primo, você esteve sumido. Sabe de Maiara?

Fernando: Não... não fale o nome dela. — Tento me recompor, pois não é momento de ceder a ira. De novo. — Eu quero saber de você.

Agda: De mim? Tive uma virose, mas estou bem...

Fernando: Queria tanto assim ser uma neta de Bernardo? Ser eu?

Agda: Fernando, não sei o que você andou ouvindo, mas não se atreva a me tratar como fez com aquela coitada e...

Fernando: Então negue. Simples assim.

Agda: Eu não sei do que você está falando! — Ela começa a demonstrar sinais de nervosismo e exalta a voz, em um claro descontrole. — Se é alguma mentira que Raquel...

Um Contrato de NoivadoOnde histórias criam vida. Descubra agora