Capítulo 29

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• Maiara •

Quem teve a louca ideia de ir para a Itália? Eu não estava no meu estado normal quando agi com tamanha naturalidade. Stella segura minha mão firme, quando eu pareço uma criança no parque com minha primeira viagem internacional.

O voo durou pouco mais de dezesseis horas, uma vida inteira enlatada, mas valeu a pena todos os segundos quando os Alpes Suíços se desvendaram diante dos meus olhos. Imensidão. Gosto da sensação, mas não compartilho, pois pareceria o discurso de uma louca.

Nosso destino é Monza e as palavras GP de Monza não saem dos meus ouvidos. Fernando já falou em três idiomas distintos e a sua testa franze cada segundo mais. Paramos brevemente em um hotel que eu não posso admirar, com tempo suficiente para trocar de roupa e fingir disposição, quando saímos com destino ao Autódromo Nazionale di Monza, deixando Stella descansar.

Mal consigo aproveitar a breve viagem de carro, Fernando falando sem parar, esbravejando e dando ordens. Minha cabeça começa a latejar pelo cansaço e o som ensurdecedor dos veículos na pista não é muito agradável para uma alma cansada.

Ele cumprimenta uns homens engravatados e me arrasta para uma zona muito próxima de onde ocorrem os pit stops. O lugar está vazio e os veículos em período de testes, mas nada disso importa quando toda a atenção é de José Giordano.

José: Não os esperava aqui! — Comenta animado. — Veio analisar a concorrência?

Fernando: Apresentar o seu país para Maiara. Ela estava ansiosa. — Sonso. Visitar a Itália, sem ver a Itália. — E o maior fornecedor de óleo está por aqui. — Fernando fala uma espécie de palavra-chave, pois o homem quase se emociona.

José: William Chaves, o presidente da Chaves Oil está aqui?

Fernando: Sempre descubro tudo antes da concorrência.

José: Impossível que Almeida tenha perdido essa! Soube que estaria aqui também para a fase de testes, na verdade, enviaria um representante, o irmão mais novo.

Fernando: Estou sempre a frente. — Fernando ignora os tais Almeida como se fossem vermes. — Gostaria de comparecer à reunião com ele?

José: Um investidor da GP sentar-se à mesa com o puro óleo que pode me fazer ganhar fortunas? Óbvio!

As horas se arrastam absurdamente em conversas sobre negócios, enquanto eu e mais uma mulher que não lembro o nome assistimos e perdemos tempo. E depois dessa via eterna, ainda temos um jantar de negócios à noite.

Estou exausta e esse homem é um robô que bebe muitos drinques, fala muitas línguas e me ignora brutalmente. Tudo bem, ele não precisa me dar atenção, mas quase esquecer que eu o acompanhei ao autódromo?

***

Já no hotel, Fernando bate à porta do quarto que divido com Stella e, Cristo misericordioso, o homem e pecado se confundem. Ele arregala os olhos como se me visse pela primeira vez e me analisa de cima abaixo, apreciando a escolha do vestido azul marinho escuríssimo e aveludado que amolda meu corpo. Pareço outra pessoa em meio ao luxo.

Stella: Fernando! — Stella o chama furiosa, enrolada em um roupão. — Eu vim até aqui para que Áurea não criasse caso, mas agora eu crio! Pelo amor de Deus. A menina sequer descansou e...

Fernando: Ela sabia que deveria me acompanhar desde o início. — Seus olhos se mantêm em mim, engolindo-me como ondas. Homem bipolar, meu Deus.

Maiara: Sim, sei, agora vamos. — Saio arrastando-o para que siga regendo sua orquestra de lacaios. Ouço-o soltar um pigarro.

Fernando: Tente interagir com a mulher de William e fazê-la se sentir confortável e... — Ele segue falando e minha cabeça dói, sem descanso algum. Como ele consegue? Os olhos não imploram para fechar cinco minutos?

Um Contrato de NoivadoOnde histórias criam vida. Descubra agora