Capítulo 84

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• Maiara •

Biah faz perguntas às quais não consigo responder por puro desespero, enquanto elabora uma bagagem improvisada. O sorriso de Luiz, a doçura de sua voz e a aparente calma ainda repercutem no meu interior com a ironia em sua voz falando sobre... parasitas.

Parasita. Chamou o meu bebê de parasita, como se fosse uma infecção que ele precisa eliminar para o meu bem, apenas por ser filho de Fernando. Não me recordo desse descontrole e não compreendo o que o desencadeou. Não me lembro se alguma vez ele deu sinais e... caramba! Ele foi embora e agora volta me fazendo sentir exposta.

Biah: Maiara! Maiara! — Uma voz penetra a minha mente e me desperta do surto. Biah esfrega meu pulso, como se ajudasse o sangue a circular e me entrega um copo de água.

Maiara: Ele sempre esteve perto. Soube o minuto exato em que eu estaria sozinha.

Biah: Calma, respira! Podemos chamar a polícia, conseguir uma medida restritiva...

Maiara: Até lá ele é capaz de tudo, amiga. Se fosse... se fosse apenas eu, Biah. Se eu estivesse completamente sozinha eu te juro que o enfrentaria. Pegaria a primeira pá que aparecesse e enterraria o corpo no quintal. Mas nunca o deixaria me ameaçar assim...

Biah: Mas?

Maiara: Ele ameaçou meu bebê... — minha voz some ao final da frase, tamanho nó que se forma na minha garganta. — Eu sei que pode parecer estupidez eu amar tanto uma coisinha que não tem o tamanho de uma cereja. Eu sei, racionalmente eu sei, mas... é meu. Um pedacinho minúsculo da única lembrança boa do que eu vivi. Penso a cada instante como ele receberia a notícia, como celebraríamos e nos amaríamos por toda a noite. Imagino como ele seria protetor e como minha raposinha teria tudo nessa vida, mãe doida, pai paranoico que o faria andar de bicicleta de rodinhas até os quinze anos... — eu rio e logo choro.

Biah: Maiara...

Maiara: E agora Luiz ousa ameaçar isso. A única coisa boa que Fernando me deixou e não dilacerou completamente. Não faz ideia do quanto eu amo essa criança.

Biah: Sim, eu faço... consigo imaginar, Mai. Mas fugir nunca adianta.

Maiara: Fala como se soubesse.

Biah: Acredite em mim, não adianta. E aonde iríamos?

Maiara: Nós? Nem pensar! Você fica. Faz sua vida e não vai se tornar uma fugitiva como eu. Tem Sorocaba e...

Biah: Sorocaba? Amiga, nosso casamento foi apenas burocracia...

Maiara: Biah Rodriguez, vai realmente jogar essa em cima de mim? Não se atreva! Eu não vou tirar isso de você e não importa o quanto peça. Tia Áurea e eu vamos nos virar.

Biah: Eu não vou deixar você sair se não me disser aonde vai.

Maiara: E deixar rastros para ele? Não, sinto muito.

Biah: Sua tia não vai concordar. — Ela bate os pés.

Áurea: Concordar com o que? — Ela aparece nos surpreendendo e encarando as malas ao meu lado. — Vai se mudar com ele? Maiara...

Maiara: Tia Áurea...

Áurea: Pode me explicar? — Ergue a sobrancelha, severa.

Maiara: Eu tive um pesadelo. — Basta dizer isso e noto-a atenta.

As Pereira acreditam em sonhos no inconsciente, sejam sonhos ou pesadelos. Acreditamos que o universo dá sinais sobre determinadas coisas, não tudo, mas nos impele à sobrevivência. Tantas vezes os ignorei, assim como minha mãe que se tornou cética sobre eles, talvez por excesso de segurança e não ouviu Tia Áurea quando lhe pediu que não saísse no dia da sua morte.

Um Contrato de NoivadoOnde histórias criam vida. Descubra agora