Capítulo 1

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• Fernando •

Acordo surpreso com o meu telefone fazendo uma verdadeira revolução contra a minha ressaca. O gosto alcoólico ainda permeia minha língua, com notas sutis de tabaco. Minha avó choraria de orgulho nesse instante, eu tenho certeza.

Encaro a luz da lua, fazendo um clarão interessante e entrando pela minha janela, mas ainda mais impressionante é o horário.

6h da manhã.

A segunda-feira mal se iniciou, e sequer é hora de acordar, mas aparentemente meu avô achou que seria uma ideia genial. Nossa relação não é exatamente afetiva, mas me parece beirar ao ódio nesse exato segundo.

Ok. Talvez eu tenha certa culpa nisso, pois desapareci por todo o final de semana, escapando de um compromisso ao qual eu não queria comparecer. A filha de um senhor a quem eu quero muito manter relações negociais fez aniversário e suspeito que fui oferecido em casamento.

Bem, suspeito, mas a certeza entra e invade a porta com força, quando ouço vozes na minha sala.

Que porra.

Tento me levantar, mas a cabeça gira e não me recordo bem quando o final de semana acabou e eu o trouxe para meu apartamento. Encaro ao meu redor e reconheço as paredes de um dos quartos e, aninhadas em uma sonolenta orgia, três mulheres que eu não faço a menor ideia de quem sejam.

Encaro-as e puxo na memória algum evento esportivo, álcool e... branco. Bem, nem tanto, já que eu me recordo bem da loira apoiada no meu braço, tenho uma vaga lembrança da mulher negra de cabelos cacheados que tem um cheiro cítrico bom e... eu não tenho a menor ideia de onde saiu a terceira.

Encaro ao redor e vejo as embalagens das camisinhas rasgadas, suspirando em alívio de que fiz meia merda.

Bernardo: Fernando! — Ou uma merda bem completa, considerando que o despertador ambulante que me brada é meu avô.

Stella: Será que aconteceu algo? Ele não manda notícias há dois dias!

Bernardo: Aconteceu que você criou um irresponsável, Stella! Olha isso! — As vozes se aproximam e me levanto de súbito, como se um tridente tivesse espetado a minha alma. Olhar o quê?

Stella!

Minha avó é uma santa e tudo o que ela não precisa ver... é isso. Encaro meu redor em busca de qualquer peça de roupa e não há nenhuma. Onde nos despimos?

XX: Fica mais um pouco... — a loira fala.

Bernardo: Fernando!

Levanto-me às pressas, nu, em busca do lençol salvador, mas tarde demais sou flagrado tal como vim ao mundo por um Bernardo furioso, uma Stella chocada e três mulheres soltando gritinhos assustados.

Almofada!

Vejo uma almofada e uso-a como proteção, sorrindo com a cara mais lavada possível.

Fernando: Bom dia!

***

Eu nunca serei capaz de repetir o discurso do meu avô, pois não o ouvi, meus olhos travados na notícia de capa de um tabloide famoso de fofocas. Eu, três mulheres seminuas em um conversível arrastando a reputação da empresa e da família que lhe dá o nome, por São Paulo. Sigo concentrado, ansioso por um café, pensando que agora eu estou de parabéns. Eu tinha uma missão muito simples: Manter minha postura até fechar negócio com os empresários.

Desde que me entendo por gente, Bernardo questiona a habilidade de qualquer pessoa que não seja ele nos negócios. Eu, particularmente, movimento a economia automobilística e gerei mais lucro nesses dois anos do que meu avô já viu.

Um Contrato de NoivadoOnde histórias criam vida. Descubra agora