Capítulo 19

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• Maiara •

O trabalho na jardinagem da mansão é impressionante e acolhedor. Tenho me dado muito bem com os empregados de dona Stella, todos impressionados com o fato de que quem conquistou o homem não foi uma ricaça mimada.

Eles sempre garantem se não estou muito tempo no sol, se já comi e se já não passei muito da hora. No início acreditei que fosse por ser "a noiva", como se carregasse um título honorífico. Mas não, eles genuinamente gostam de mim.

Sei que é muito pouco tempo para avaliar isso, mas todos se soltaram bastante quando me viram revirar os olhos para Bernardo. É aquela aliança contra o mal comum.

Concentrada na planta do jardim, analiso o clima, o tipo de solo, a direção da luz do sol e tudo mais, a fim de escolher o melhor projeto ao espaço que Agda chama de matagal. Estou literalmente com a mão dentro da terra, quando dona Stella me surpreende.

Stella: Você é a prova de que não basta gostarmos de plantas, mas é preciso cultivá-las em detalhes. Na minha velha cabeça, bastava terra, luz e água. Agora, vitaminas? Tipos diferentes de adubação? Céus! Definitivamente me identifico como uma mera apreciadora.

Maiara: Eu amo fazer isso. Sentir a terra em contato com minhas mãos, ver a vida acontecer em uma ótica menos acelerada que a nossa realidade e apreciar a beleza que sai disso. Somos tão apressados em tudo e a natureza faz coisas muito mais lindas apenas porque ela tem a paciência que nos falta.

Stella: Aplica isso à vida?

Maiara: Sempre. — Sorrio. — Aprendi com minha mãe. — Confesso que me dá certa tristeza ver um espaço verde assim tão...

Stella: Sem vida. — Ela lamenta. — Essa terra já viu coisas demais e não resistiu... — ela encara um canto específico. — Ali tinham girassóis antigamente.

Maiara: Deviam ser incríveis.

Stella: Ah! Eles eram preciosos..., mas morreram de tristeza. —  Ela sorri, sem que isso alcance seus olhos. — Você tem vontade de fazer isso e eu perdi toda quando perdi meu filho. É bom ver essa terra germinando e saindo desse inverno no qual está há anos.

Maiara: Ainda tem Fernando.

Stella: E você, querida. Mesmo quando tudo acabar, seguirá sendo a fadinha fazendo sua magia nesse jardim. Em nós. Quem sabe não faça florescer por aqui também? — Ela diz e já não sei se fala do meu trabalho ou deles mesmos.

Maiara: Stella, é fictício. — Sinto a necessidade de lembrá-la.

Stella: Até mesmo as obras de ficção deixam suas marcas, meu bem. Ou não aprendeu nada com as coisas que lê?

Maiara: A senhora é muito sábia ou muito espertinha. Ainda estou pensando.

Stella: Não pense muito. A terra aqui é árida e o trabalho é grande. Você chegou no outono e as folhas já estão caindo. Chegou para nós quando minha família está a um passo de se tornar um inverno completo. Ficção ou não, obrigada por vir. Você pode terminar o contrato e partir, mas eu tenho certeza de que deixará algo novo para nós.

Maiara: Muitas expectativas. — Digo receosa. Ela apostou alto em mim e em uma relação inexistente.

Stella: Com você eu sei que Fernando pensará em sua vida, além do trabalho. Nem que seja para se esforçar em ser o falso noivo perfeito. Mas o foco já foi desviado e eu só precisava disso para tentar trazê-lo ao juízo e não o perder como meu filho ou Bernardo.

Um Contrato de NoivadoOnde histórias criam vida. Descubra agora