Capítulo 28

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• Maiara •

Beijar Fernando foi um erro.

Ignorá-lo, outro erro maior ainda, pois parece que apertei os botões errados para o homem armar o cerco. Sim, o cerco, para não deixar ar para eu respirar, saída para eu fugir e qualquer espaço para eu pensar em respostas espertas o bastante para que ele não acredite que seu negócio esteja ameaçado por Tadeu.

Estou morrendo de medo dele cancelar essa porcaria de contrato, pois se eu estava endividada antes, Tadeu veio decorando com a cereja do bolo. Fernando ficou dias a fio tratando-me de forma indiferente e acho que nunca me senti tão parte de uma mentira.

Para alguns momentos achei que ele falaria comigo por meio de um memorando. De repente ele parece se incomodar por eu tratá-lo exatamente igual e me trancafia naquele maldito quarto.

Naquela maldita boca!

Lembro-me com detalhes de cada pedacinho de mim que ele tocou e a exata sensação na minha pele quando seus lábios pareciam me incendiar. Até a maldita mordiscada nos meus lábios, como se eu fosse comestível. Bem, naquele momento eu era!

Sem saber como encará-lo, pois, entre beijos e contratos, eu ainda poderia levar uma rescisão vergonhosa por fazer a única coisa que ele me exigiu: não pôr nada em risco.

Encontrar Agda depois que eu saí do quarto, ou melhor, fugir de Fernando como se estivesse sendo caçada, foi um alívio. Ela era a primeira ponta que eu precisava pôr no lugar, pois o desastre entre nós dois começou justamente por isso. Não lhe contei tudo, mas pincelei a situação, torcendo para ela ter alguma solidariedade feminina.

Contei-lhe sobre a necessidade de Biah em começar uma vida bem longe do namorado e sobre como Tadeu a ameaçava para ligar para a imigração. Ela não sabe sobre a dívida, sobre o passado de Biah ou nada disso. Mas sabe que minha amiga poderia ser deportada e voltar a uma vida de miséria, não fosse a ajuda de Fernando e Sorocaba.

Ela parou de olhar Biah como uma mera ilegal e compreendeu que denunciá-la colocaria toda a vida dela no lixo. Não apenas dela, mas da mãe e irmã que contam com o seu apoio e com o dinheiro que ela envia. Apelei para toda a empatia possível, e graças a Deus, Agda tem menos dos Zorzanello que eu esperava.

Agora, Fernando segue com o olhar interrogativo. Nem pensar que ele irá me interrogar de novo! Há minutos eu estava dependurada em uma parede apoiada nesse homem só porque ele quis questionar algo. Como aquilo foi bom!

Áurea: ...com essa modernidade, não é minha filha? — Minha tia pergunta algo sobre o qual conversavam e eu não faço ideia.

Fernando: Mas a senhora não precisa confiar em mim, dona Áurea. Basta confiar nela.

Áurea: Bem, Maiara sempre foi muito sensata, mas nunca saiu do país.

Stella: Que bom que ela poderá conhecer coisas novas, não é? — Stella parece notar minha distração. — Essa viagem será muito proveitosa e prometo cuidar dela, Áurea.

Áurea: O que você acha, Maiara? — Ela me pergunta.

Maiara: Gostaria de ir tia. Sabe que é importante. — Eu apelo descaradamente. Estamos na casa de Fernando, jantando com sua família e ele me convida para uma viagem. Luiz jamais fez qualquer dessas coisas comigo e ela sabe o quanto sou ressentida.

Ainda que seja um contrato, para que ele exista, Fernando e Stella não podem ter vergonha de mim. Se tivessem, teriam escolhido outra mulher, mais fina, elegante e não eu, atendendo o padrão podre de quem se acha poderoso.

Um Contrato de NoivadoOnde histórias criam vida. Descubra agora