Capítulo 113

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• Maiara •

A maior lição que eu tive há quatro anos é que o princípio que rege a vida é a sua inevitabilidade. Ela segue apesar de nós, implacável. Ou eu aceito isso e luto para fazer dela a melhor coisa possível ou eu me rendo.

Jamais me rendi e me congratulo internamente por ter abraçado tudo com voracidade e determinação, ciente de que precisava ser completa comigo mesma para poder ensinar isso aos meus filhos. Sim, filhos no maravilhoso plural de meu Deus, cumprindo com o famigerado apelido de coelha que meu queridíssimo esposo admirador de charutos me deu.

Entre meus compromissos profissionais como filantropa, florista, jardineira, esposa, sobrinha e irmã, tenho aprendido com a beleza e a dureza de ser mãe.

Nos primeiros meses, a minha inexperiência gritava na minha cara e Fernando também não passou muito longe, mas foi definitivamente mais paciente. Na segunda vez eu já me sentia uma espécie mirabolante de expert maternal, pois lidar com o meu pequeno Lucas foi bem mais fácil.

Alice é mais semelhante a Fernando, analítica, mas um doce quando chega perto dos seus. Não oferece muita abertura a estranhos, sempre desconfiada, mas resolve um grande problema, digno dos seus quatro anos e meio como ninguém. Seus cabelos e os olhos mais semelhantes aos meus, a deixam uma pequena versão de mim que será CEO um dia.

Bem, não sei se será sobre carros ou sobre flores. Ou sobre nenhuma destas coisas, mas o que for, ela já põe o seu coraçãozinho, mesmo quando é a criança mais mandona que eu conheço.

Meu caçula parece uma versão mais espevitada de mim mesma, lançando coisas quando está indignado e se apegando sem piedade quando quer se sentir amado. A beleza dos seus dois anos de idade revela muito sobre o homem que será. O meu tem cabelos escuros e olhos de infinito como o pai. Mas, teve o azar de contar com a minha bondade desmedida, a ponto de se tornar uma espécie de lacaio da irmã, um pouco megera às vezes, assumo.

Eles transformaram a minha vida e o êxito que eu sinto não seria nada sem o desespero de catar coisas pela casa ou perder um projeto de paisagismo para as mãozinhas inquietas e cheias de tintas, comidas e coisas suspeitas.

Ouço-os correr pela casa no auge da sua animação, sempre tentando fazer silêncio quando se aproximam de mim. Finjo dormir e Lucas imita a irmã com perfeição, com seus passinhos miúdos zanzando como coelhinhos por aí. Uma mulher no auge dos seus seis meses de gestação precisa dormir. Pois é, Fernando tem levado a sério essa coisa de coelho.

Apoio-me na poltrona e assisto Fernando perder de forma humilhante a guerra de travesseiros, a qual não participo por segurança.

Encaro o celular fazendo uma vídeo chamada com Biah, confirmando nossa última viagem antes do meu terceiro bebê. Ela faz uma careta engraçada quando me atende e sinto satisfação em ver essa leveza nos seus olhos.

Os últimos anos foram pesados para ela e a vida exigiu muito além do que deveria ser permitido a uma pessoa. Eu duvido que teria sobrevivido sob a pele de Biah. Lembro-me dos olhos vazios de Sorocaba por um tempo, a forma ainda mais mecânica com a qual encarou o trabalho e a aflição de não saber onde minha irmã estava. Tempos sombrios que eu odeio recordar.

Hoje, depois daquele inferno, temos um pacto: se ela matar, eu enterro. Um exagero, mas precisei dele para que ela entendesse a profundidade do meu amor por ela. Tia Áurea diz que somos irmãs de alma e não se desfaz um laço desse tão facilmente.

Biah e Sorocaba foram tão intensos que somente deram um pulo nas outras estações, e moram definitivamente em um estado de verão. Seja com sol ou em meio a tempestades épicas e destruidoras.

Um Contrato de NoivadoOnde histórias criam vida. Descubra agora