Capítulo 95

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• Maiara •

Maiara: O que é isso? — Questiono, finalmente compreendo o curso que estamos fazendo. — Marquinhos essa é a entrada errada.

Fernando: Essa é a certa. — Fernando afirma de forma a não deixar questionamento.

Maiara: Não, não é. Minha casa é do lado oposto da cidade ou já esqueceu?

A viagem de Goiânia a São Paulo foi feita em silêncio, algumas paradas para minha pequena bexiga e meu sono profundo de fuga. Covarde, eu sei. De início achei que voltaríamos de avião, mas Fernando prefere evitar qualquer registro sobre onde eu estou indo. Ao contrário de Lucas que exibe suas viagens para que Luiz siga o rastro errado.

Tia Áurea e Marquinhos conversavam sem parar e às vezes a risada de um deles me despertava. E em todas as ocasiões eu o encontrei olhando para mim, pelo retrovisor, impedindo-me de desviar, como se fosse induzida por um feitiço. O olhar castanho lançado contra mim é visceral, escancarando e dizendo tudo o que é possível. A dança das palavras não ditas, baila ao lado daquelas cuspidas e que não se podem retomar.

É possível amar, mesmo que odiando? Fernando me odiou, isso é certo. Ainda que o efeito da cegueira tenha sido dissipado, ele me odiou, por alguns momentos, mas mesmo quando isso aconteceu, seu olhar denuncia que ele me amou. E é isso que piora tudo como agora.

Fernando: A casa na qual Luiz quase entrou?

Maiara: Você mesmo disse que ele não me procuraria justamente na minha casa.

Fernando: Sim, eu disse. — Encaro-o esperando que constate o óbvio. Se concorda comigo, basta dar meia volta e pronto.

O carro entra no condomínio de Fernando e eu sinto minha pele arrepiar, arredia, como se rechaçar a ideia fosse uma coisa quase física.

Maiara: Marquinhos, dê meia volta. — Digo dura. Assim que o carro para Fernando desce. Marquinhos ajuda tia Áurea e Fernando abre a porta ao meu lado.

Fernando: Não seja teimosa, Maiara. Aqui é muito mais seguro.

Sinto minha pele formigar e a agonia parece tomar meu corpo. Eu não consigo sequer me mover e a única coisa a qual eu pareço ter consciência é meu coração batendo forte.

Ótimo momento para se ter uma crise de ansiedade, Maiara.

Excelente!

Fernando: Maiara! — Ele se ajoelha no chão ao lado do carro, ficando na minha altura. Sinto sua mão quente esfregar o frio das minhas, para em seguida segurar meu rosto e me obrigar a concentrar em seus olhos. Nos encaramos perto, muito perto.

Maiara: Eu não quero. — Falo com o pouco fôlego que resta. — Desculpe.

Fernando: Não se desculpe , por favor. — Roga. Sinto-o me soltar e logo se sentar ao meu lado no banco, encerrando-nos ali no estacionamento. — Lembra do que a médica disse?

Maiara: Eu preciso respirar.

Fernando: Isso é só uma crise de ansiedade. — Concordo, encarando meus pés. — Mas algo deve ter sido o gatilho... foi...

Maiara: Fernando. — Digo seu nome pela primeira vez. — Eu fui expulsa da vida de Luiz. — Começo. — Eu fui expulsa da sua empresa, da sua casa e da sua vida...

Fernando: Amor, não...

Maiara: Não me chame assim, por favor. — Peço suave, porém firme. — Não sou seu amor, Fernando, eu não posso ser. Eu sempre sou expulsa, porque no fim das contas nada me pertence. No fim de tudo eu perco tudo, porque eu não tenho o que seja apenas meu.

Um Contrato de NoivadoOnde histórias criam vida. Descubra agora