Capítulo 43

433 47 23
                                    

• Fernando •

"Você é minha, Maiara". Desde que essas palavras saíram de forma inconsciente da minha boca, meus olhos não cedem ao sono. A exaustão que sinto após tomar tudo o que podia da florista parece esmaecer diante do meu próprio choque.

Nunca fui adepto ao sentimento de posse de uma pessoa pela outra. Meu avô sempre nos tratou assim e o meu pai o fez com minha mãe. Nunca foi agradável. Nunca foi adequado e muito menos jamais nos fez bem. Eu nunca testemunhei um sentimento de posse que tenha sido efetivamente bom, justo por isso, jamais entregaria minha vida a outra pessoa.

Contudo, o fato de ter saído de forma inconsciente não muda minha óbvia vontade em dizer aquilo. Não é como se eu fosse o meu avô ou como se fosse sujeitar Maiara a situações que apenas as mulheres Zorzanello conhecem. Eu apenas quis dizer que ela era minha e ponto. Sem aprofundar ou buscar lógicas que eu mesmo não sei explicar.

O pronome "minha" significa que ninguém mais poderá fazê-la passar o que ela passou. Significa que Luiz pode tentar e lutar arduamente quebrá-la como ventania inevitável. Pode vir com sua inveja, sua fúria e o desejo que pouco disfarçou em seus olhos. Eu vi naquele tremendo cara de pau que ele se recorda em detalhes o que significa estar com Maiara e agora que eu sei, ele jamais chegará um centímetro que seja perto dela.

Ele pode ser a tempestade feia que a atormenta, mas eu serei seu quebra vento. Sorrio apenas em pensar que eu conheço nomes específicos do plantio por conta da florista. Enquanto ajeitava o jardim da minha cobertura, ela me explicou que o quebra-vento é essencial para que as plantas não fiquem desprotegidas das ações dos ventos fortes.

E Luiz é como um vento forte para ela, enquanto para mim ele não pode causar dano algum.

Dizer "você é minha" foi apenas a minha forma torta de esclarecer para mim mesmo que não consigo voltar atrás. Sinto a vontade de acender um charuto, mas não o faço porque a irrita. Seu nariz fica avermelhado e ela aprece a porra de um coelho, sacudindo-o. Coelho!

Sinto vontade de beber um drinque, mas já perdi uma ligação sua por estar bebendo na solitude do meu apartamento. Minhas válvulas de escape parecem começar a fugir das minhas mãos. Nunca fui um ébrio, mas eu precisava daquele breve entorpecimento quando as lembranças chegavam. Quando minha memória me tomava de assalto na data do seu aniversário ou porque, por milagre, minha mãe decidia me ligar.

Eu sempre quis fugir para algum lugar. Primeiro as brigas constantes, depois alguns desfalques para Bernardo e, quando a maturidade veio, os vícios que suavizaram a minha crescente consternação.

Eu sabia que Maiara Carla era caminho sem volta e assumi o risco. "Faça o que tem que fazer" não incluía me apaixonar por ela. Nada disso inclui essa certeza que martela bravia na minha mente, contra a minha natureza. Raposas não podem andar em pares, pois arruínam os seus.

Mas, minha mente me forçava a ignorar o óbvio enquanto eu a tocava, possuía e arremetia contra seu corpo quente e sedento. Eu a estava marcando. Basta olhar as marcas em sua pele. Não fizemos apenas sexo e isso assusta como o inferno. Mas precisei fazê-lo para que ela entenda que é absoluta e irrevogavelmente minha.

Eu lutei contra os sentimentos que anunciavam a minha ruína enquanto a ignorava na Itália. Lutava quando palavras duras saltavam, mas muito mais forte que a luta foi o medo de não ter guerra a travar caso Maiara estivesse em conluio com os Almeida.

O alívio que senti por estar enganado, contrasta com a lembrança da sua reação ao apenas ouvir a voz de Luiz. Ali, eu soube que precisava quebrar o vento. Precisava abrigá-la e recuperá-la. Mostrar-lhe que, em mim, poderia ter terra fértil.

Um Contrato de NoivadoOnde histórias criam vida. Descubra agora