Capítulo 66

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• Maiara •

Fernando trabalhou como um insano nos últimos dias dizendo que precisava adiantar, pois precisava viajar. Viajar! No meio desse caos. Bem, ele simplesmente nos colocou em um jato e nos levou para o Estado de Washington, para a cidade de Sequim, conhecida como a cidade dos campos de lavanda.

Saímos pontualmente e chegamos próximo ao pôr do sol. Desde a estrada, os campos já podiam ser vistos e uma emoção sem fim tomou conta de cada célula do meu corpo. Pode parecer besteira, mas a lavanda sempre foi simbólica na minha família, especialmente para minha mãe.

A lavanda possui diversos significados pelo mundo, sendo originalmente conhecida como nardo, o perfume mais caro. Minha mãe me contava como Maria Madalena lavou os pés de Jesus com ele e como os egípcios espalhavam seu aroma denotando riqueza e limpeza.

Mas o significado mais especial entre nós era a calma. Lavanda é calmaria, é paz e vida tranquila. É certeza de lar, alma e coração tranquilos. É a furiosa calmaria que, por mais contraditório seja, faz sentido quando a encontramos.

Mamãe sempre narrou sobre a furiosa calmaria. Com seus cristais e flores, ela construía uma narrativa mágica para mim. Lembro-me quando dizia ver o futuro em suas pedras, que eu deveria ter a sabedoria para trazer a calma. E por isso, lavandas.

Sempre me lembrando de quem eu devo ser e quem minha mãe me criou para ser. Eu sou aquela que joga vasos e toma decisões precipitadas. Que dá basta na vida quando algo machuca e decide com base na raiva.

Meu temperamento indócil era trabalhado pela mulher com mais sabedoria que conheci. Parecia saber que eu optaria pela solidão do que sentir a dor que a perda de Luiz me causou. Sabia que eu precisaria de calma para aceitar que estava amando de novo.

As Pereira são tempestade e bonança e delas depende a decisão sobre quem vence. Quem ouvisse mamãe falar, a acharia completamente louca, mas ela realmente acreditava nisso. O destino pode estar traçado, mas nós temos que estar dispostos a segui-lo.

Se minha mãe estivesse viva, diria que encontrei o meu destino e que, uma vez atada a ele, não importa quantos desenlaces ocorram. Sempre voltarei ao exato lugar em que eu devo estar.

Diria que a gentileza e o bom humor de outro homem jamais poderiam esmaecer a ferocidade do que eu sinto por Fernando.

Ela deixou-me sábios conselhos antes de partir, como se soubesse que eu precisaria deles um dia. Almira Pereira compreendia que não importa quão distintos sejam os caminhos, se eles estiverem destinados, a vida os fará caminhos cruzados. E assim foi com ela e meu pai, unidos contra todas as probabilidades.

Agradeço mentalmente à minha mãe, quando entramos na fazenda mais linda que já vi na vida. Entre os campos banhados com o sol da tarde, pequenos coretos se espalham com pessoas degustando um café da tarde, diante da vista quase etérea. Não consigo evitar as lágrimas que me invadem.

Fernando: Hei, tudo bem? — Fernando pergunta preocupado.

Maiara: Essa é a vista mais incrível que eu já vi. — Suspiro.

Fernando: Quer andar?

Maiara: Entre elas? — Ele confirma e aponta para duas bicicletas encostadas na lateral, nos esperando. — Não acredito! Meu Deus!

Corro em direção delas, pois tenho pressa de viver esse momento. Chegamos em uma pequena colina que nos oferta um pôr do sol surreal. Sento-me na grama mesmo, sentindo-a em contato com minha pele, naquela troca de energia com a terra que eu amo, apoiando-me nele, admiradores do pequeno espetáculo. Sinto-o mover-se e remexer-se e o encaro.

Maiara: Tudo bem?

Fernando: O que achou?

Maiara: O que eu achei? Fernando essa é a experiência mais incrível que eu já tive na minha vida. Não sabe o que esse campo representa para mim. É quase a herança mais marcante que tenho da minha mãe e a sinto muito próxima. E a minha vida profissional, mas é absolutamente pessoal. Se eu pudesse escolher um momento na minha vida para viver para sempre, seria esse.

Fernando: Por que as ama tanto?

Maiara: As flores? Essas, especialmente, eram um símbolo para minha mãe, de equilíbrio e amor. Era o que ela usava para dosar o temperamento em situações necessárias e não tomar decisões equivocadas, com base na raiva. Era a brisa que soprava nos momentos bons.

Fernando: Como agora?

Maiara: Como agora. Obrigada por isso.

Fernando: Maiara... — ele parece genuinamente nervoso. — Você é tudo, menos calmaria. Sua mãe a conhecia bem, definitivamente. — Sua expressão é séria, quase tensa, mas seus olhos sorriem. — Você é brisa que apenas segue, sem pausas para decidir o curso que irá seguir. Você me mudou e isso é bom, apesar de eu nunca ter achado que uma pessoa mudar a outra fosse saudável. Mas me trouxe apenas qualidades, sem anular quem eu sou. Eu entendi que posso ter cores diferentes das suas, mas não posso esquecê-las no escuro. Sua bondade revela bondades e eu a admiro por isso.

Maiara: Fernando...

Fernando: Passava o tempo imaginando o sabor da sua boca ou querendo colocar os braços ao seu redor. O aroma que eu mais odiava passou a ser o meu favorito. Quis que se apaixonasse por mim, assim eu poderia senti-lo em você, sem precisar esperar por esmolas da sorte. Quis que se apaixonasse por mim para que eu pudesse te oferecer mil recordações que te fizesse apenas sorrir. Quis que se apaixonasse por mim, porque eu já estava completamente rendido a você.

Eu apenas sorrio, os olhos embaçados por lágrimas.

Fernando: E depois que tive a sorte de ter você, não me pareceu o bastante, pois sou um covarde que morre de medo de perder. Medo de que perceba que alguém melhor pode atravessar o seu caminho a qualquer instante. Não sei muito sobre os outros, mas posso entregar uma vida inteira ao seu lado, se você me aceitar. Maiara Carla Pereira, você aceita se casar comigo?

Pisco dezenas de vezes completamente enfeitiçada pelo castanho dos olhos de Fernando. Tão atraída, que não noto suas mãos estendidas, ali naquele gramado em uma colina de lavandas. É como se minha mãe estivesse nos abençoando naquele momento e dissesse que me rendi ao meu destino.

O anel em suas mãos se abre em uma pequena flor, com minúsculas pedras incrustadas, em uma delicadeza que eu jamais havia visto em uma joia. A luz do sol que se põe reflete, tornando-a um ponto de luz. Fernando sorri, em seus raros momentos e eu apenas consigo sentir gratidão por ele ter juntado as peças que haviam sobrado de mim e dado o pulso que faltava para eu sentir de novo.

Maiara: Eu jamais poderia dizer não ao homem que me fez inteira de novo e me ensinou a ser forte em meio aos ruídos e ao caos. É claro que eu aceito, meu amor.

Eu me jogo sobre Fernando, fazendo-o deitar-se sobre a grama, apoiando-me sobre ele. Minha mão delineia seu rosto, como se eu precisasse ter certeza de que isso está realmente acontecendo.

Minha mão esquerda está apoiada em seu peito e ele a toma, deslizando a joia em meu dedo anelar, garantindo-lhe que sou irrevogavelmente sua.

Fernando:Eu amo você.

Maiara: Em qualquer circunstância, Fernando, sempre tenha certeza de que amarei você.

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