Capítulo 54

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• Maiara •

Incrível como Luiz consegue minar cada mísero pedacinho de felicidade que surge diante de mim. Eu estava pura cólera quando vi os olhos de Fernando se quebrarem ao presenciar a cena patética daquele cretino me beijando.

Não compreendi a intenção de Luiz, mas sequer tive tempo quando senti minha cabeça chocando contra a parede. Fiquei atordoada e zonza demais para assimilar a cena que se passava diante de mim e tive que fechar os olhos, receosa que minha visão se obscurecesse.

Mas ao abri-los vi Fernando parecendo um animal enjaulado que acabara de ser liberto, uma raposa faminta, arremetendo com ferocidade quando um Luiz que se mostrava frágil e débil. Meu ex não teve sequer chance e eu vi como ele tentou, mas Fernando parecia acometido por ódio cru.

Mas, agora, essa raiva sem medida pode colocar a vida do homem que eu realmente amo em uma zona de caos. Mas não vai! Nem que eu tenha que implorar a Felipe ou ao próprio Luiz! Seria o fim dos planos de Fernando se ele se envolvesse com a polícia agora.

O negócio com Giordano... Jesus! Eu jamais me perdoaria se ao invés de ajudá-lo, como prometido desde o início, colocasse tudo a perder. Pego o celular e abro o navegador, buscando notícias. Aparentemente Luiz está bem e a imprensa me culpa por ter enlouquecido o mundo das quatro rodas. Melhor. Melhor que me culpem, afinal, em uma semana nem lembrarão quem eu sou.

Mas logo as notícias ruins surgem, indicando que Luiz acordou e prestou depoimento à polícia, cujo teor se encontra em sigilo. Bem típico dele, fazer sigilo para obter benefício.

Ainda são cinco da manhã quando ouço uma batida na porta. Corro para atender, enrolando-me como posso no lençol, dando de cara com Sorocaba.

Sorocaba: Acorde-o. Ele precisa descer com urgência. Não temos tempo. — Aceno sem questionar, em pânico pelo semblante de Sorocaba.

Fernando, está sentado à beira da cama olhando o celular. Ele engole em seco e faz um bico que seria engraçado em outra circunstância.

Maiara: Já sabe o que é? — Digo, aflita.

Fernando: Ele apresentou uma queixa e agora preciso comparecer para prestar declarações. São apenas declarações, amor.

Maiara: Eu vou trocar de roupa. Não acho minha calça. Onde está minha calça? — Ando de um lado para o outro, ciente que usarei a roupa do dia anterior, mas Fernando cessa o meu passo.

Fernando: Você vai para casa, cuidará dos seus projetos e logo eu passarei lá, depois que tudo se resolver.

Maiara: Até parece que você vai encontrar algum Almeida enquanto eu brinco com flores em casa. Nem pensar e isso não está em discussão. Troque de roupa, pois Sorocaba tem pressa.

Digo, trancando-me no banheiro e tomando o banho mais rápido do mundo, sob o olhar de Fernando, que discorda da minha ida com ele. Apenas ignoro.

Quando descemos encontramos o olhar duro de Bernardo sobre nós, sua feição demonstrando que acaba de inteirar-se do ocorrido. Ele encara o neto com certo prazer, como se a desgraça do neto fosse seu benefício. Mas pouco consigo perceber dele, quando meus olhos pousam em dois policiais próximos a entrada, e o que mais me afeta é Fernando não demonstrar qualquer surpresa.

Estaco de forma quase imperceptível na escada, mas ele prossegue, segurando minha mão e dando uma suave carícia.

Maiara: O que é isso? — Não controlo a boca e pergunto a Sorocaba, porém olhando para o policial.

Sorocaba: Os senhores vieram acompanhar Fernando, Maiara. Você também precisa ir, na condição de testemunha.

Fernando: Esse não era o combinado. — Ele vocifera ao meu lado. — Ela fica.

Um Contrato de NoivadoOnde histórias criam vida. Descubra agora