Capítulo 110

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• Maiara •

O carro sacodia e Bernardo e Luiz não cessavam a sua discussão, pois eles têm apenas a mim para utilizar de barreira para que a polícia não dispare contra eles.

Luiz foi contra, pois aparentemente ele "apenas" queria se livrar do parasita, mas não de mim e, em acordo, cada uma deteve o seu refém, por meio do meu Fernando.

E é justo nesse momento que eles enlouquecem. Luiz está fora de si há tanto tempo que não sei se enfrenta corretamente a realidade. Bernardo é diferente, pois sua exaltação é pura fúria que contrasta com sua usual frieza. Ele analisa, observa e encara a realidade óbvia de que é impossível fugir.

Ao contrário de Luiz, a velha raposa compreendeu que é o fim da linha, mas não parece perturbar-se com isso. Pelo contrário, parece exultante em saber que perde tudo e leva tudo consigo. Ele me leva com ele e não há vitória em sua morte para aqueles que ficam. Nem para Luiz e Fernando, desgraçadamente irmãos. Sempre soube que o olhar de Filomena me provocava arrepios, mas vê-la abrir mão dos dois sem lutar, nos faz questionar se alguma vez ela esteve realmente disposta.

Sérgio se foi após o baque de saber que em vão lutou para tentar ser alguém digno de admiração, abandonando tudo ao ver-se traído por quem ele ansiava imitar.

Flores amarelas. As flores amarelas voltam em meu sonho e me recordo dos crisântemos, símbolo da morte. O amarelo é a forma como o pai de Fernando se foi. A morte está entre nós, palpável, enquanto irmãos sem qualquer vínculo prometem seu próprio sangue. Enquanto Bernardo sequer se importa e a própria Filomena me sujeita à oferta como a solução dos seus problemas.

A minha existência na vida de Luiz e Fernando apenas trouxe à luz os seus próprios pecados. A mulher afogada em seu ódio desgraçou os próprios filhos e a sua consciência a acusa de que essa pena não pode exigir de Bernardo. Ela se entregou a ele, a Pedro e abandonou Luiz e Fernando porque quis. Poderia ter lutado, fugido, levado ambos para qualquer lugar.

Mas o desejo de sujar a imagem de Sérgio foi maior. Eu sei que foi, pois ela não teve qualquer pesar em colocar a culpa em mim. A culpa é sempre do outro, jamais a sua própria.

Os pecados que a condenam são apenas seus e ela não aceita isso.

Busco o mínimo de alívio, dando e recebendo, em Fernando. Ele parece compreender, ignorando suas mãos enfaixadas e sanguinolentas, o olhar em seu rosto dizendo que ele não vai me soltar.

Ele não diz e não precisa dizer, mas eu entendo a promessa, o pacto selado nos seus olhos castanhos, tão distintos, tão infinitos e tão cheios de amor que parecem me tocar, mesmo ao longe. Eu queria correr para ele, mas Bernardo segura firme em meu braço, o cano da arma na base da minha coluna.

Letal.

Bernardo: Espero que tenha se despedido. — Ouço a voz sombria.

Ele faz um movimento brusco e eu me afasto em efeito reflexo, meu braço agarrando-se à lataria amassada do carro. A sensação da minha pele rasgando é sem igual, mas eu apenas respiro fundo, pois se esse for o meu maior dano colateral, estarei grata. A pele queima e o sangue quente começa o seu trabalho de me sujar inteira, dominando o meu vestido de carmim.

Luiz: Meu amor! — Luiz exclama tentando se aproximar, mas Bernardo dispara, atingindo-o no braço e me fazendo gritar. Ele rosna.

Fernando segue silencioso, olhando os passos de Bernardo, sem a preocupação de que Luiz possa atingi-lo. Filomena atrapalha a visão da polícia, impedindo que atinjam Luiz e tudo é confuso.

Bernardo afasta-se abruptamente de ambos, empurrando-me para longe, finalmente chegando à beira do buraco que o carro fez na ponte.

Maiara: Bernardo... por favor... você não está pensando! — Digo arfando.

Um Contrato de NoivadoOnde histórias criam vida. Descubra agora