• Maiara •
Por alguns segundos senti-me como a própria criminosa, tamanha a arrogância com a qual fui tratada. Tive essa sensação algumas vezes na vida e normalmente ignorava, mas foi difícil justamente hoje, pois da minha palavra dependia a estadia de Fernando naquele lugar.
O inspetor falava altivo e foi necessária a intervenção de Sorocaba algumas vezes para que eu conseguisse me expressar e, eventualmente, não ser presa por desacato.
Perguntas como "mas você tem certeza de que foi contra a sua vontade?" ou "o senhor Luiz teria motivos para atuar dessa forma?" e a pior de todas "mas por que a senhorita deixou-o entrar?".
A forma que me tornava culpada por ter sido surpreendida por Luiz, ter sido beijada contra a minha vontade e tudo o mais, me desestabilizou. Nesses casos é mais fácil culpar a mulher.
Agora estou sentada nessa maldita recepção, pois não posso sair sozinha já que a mídia acampou no local. Encaro a tela do meu celular e tem diversas ligações de Stella, mas o que direi a ela, senão o fato de que não tenho informações e que me sinto um lixo?
Maiara: Posso vê-lo? — Sorocaba finalmente reaparece.
Sorocaba: Não, Maiara. Eles precisam da declaração de Fernando antes, para que vocês não possam alinhar os depoimentos. A dele demora algumas horas... parece que um dos seus vizinhos se prontificou a depor e um paramédico.
Maiara: E por que essa demora? Sorocaba, estamos aqui há horas!
Sorocaba: Fernando será o último e está preso por segurança. Acham...
Maiara: Que ele queria matar Luiz. — Completo infeliz.
Sorocaba: Eu vou resolver, tudo bem? Ele pediu que você vá para casa. Dê notícias a Stella.
Maiara: Velho cretino! — Resmungo. — Eu não posso acreditar que ele quis se aproveitar da situação, é tão ridículo!
Sorocaba: Sobre isso, vamos evitar comentar com Fernando por agora.
Maiara: Ele não precisa ser avisado sobre isso nunca. Já tem problemas o bastante com Bernardo, para acrescentar mais esse. Ficarei aqui esperando e... — o telefone toca mais uma vez.
Sorocaba: Melhor atendê-la. Fique com ela, Maiara.
Maiara: Um segundo... alô? Dona Stella?
Stella: Querida... — a voz dela some.
Maiara: A senhora está bem? Stella?
Sorocaba: O que foi? — Sorocaba intervém.
Maiara: Eu não sei... ela... Stella?
Agda: Maiara! — A voz de Agda surge para meu alívio. — O Marquinhos está chegando até você. Encontre-o — Sua voz soa tensa e começo a me preocupar.
Maiara: Agda, o que está acontecendo? — Sinto meu coração acelerar em uma ansiedade crescente.
Sabe o segundo que nos separa da boa e má notícia? Aquele momento de antecipação em que ficamos em suspenso, torcendo para que o tempo desacelere lentamente, a fim de que a parte ruim não chegue. É nesse segundo que me encontro.
Agda: Áurea. Maiara, sua tia acaba de ser levada ao Hospital e precisam de você.
Meu coração se parte em dois e, atordoada, começo a caminhar para a primeira saída que vejo, desconsiderando as vozes ao meu redor, apenas ansiando em encontrar Marquinhos.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Um Contrato de Noivado
Hayran KurguIntrigas de família. O que você faria por dinheiro? Ela precisa de dinheiro para quitar suas dívidas. Ele precisa fechar um contrato bilionário com a nata do automobilismo e, para isso, requer uma noiva. Ela tem sonhos. Ele cumpre objetivos. E...