Capítulo 55

324 48 17
                                    

• Maiara •

Por alguns segundos senti-me como a própria criminosa, tamanha a arrogância com a qual fui tratada. Tive essa sensação algumas vezes na vida e normalmente ignorava, mas foi difícil justamente hoje, pois da minha palavra dependia a estadia de Fernando naquele lugar.

O inspetor falava altivo e foi necessária a intervenção de Sorocaba algumas vezes para que eu conseguisse me expressar e, eventualmente, não ser presa por desacato.

Perguntas como "mas você tem certeza de que foi contra a sua vontade?" ou "o senhor Luiz teria motivos para atuar dessa forma?" e a pior de todas "mas por que a senhorita deixou-o entrar?".

A forma que me tornava culpada por ter sido surpreendida por Luiz, ter sido beijada contra a minha vontade e tudo o mais, me desestabilizou. Nesses casos é mais fácil culpar a mulher.

Agora estou sentada nessa maldita recepção, pois não posso sair sozinha já que a mídia acampou no local. Encaro a tela do meu celular e tem diversas ligações de Stella, mas o que direi a ela, senão o fato de que não tenho informações e que me sinto um lixo?

Maiara: Posso vê-lo? — Sorocaba finalmente reaparece.

Sorocaba: Não, Maiara. Eles precisam da declaração de Fernando antes, para que vocês não possam alinhar os depoimentos. A dele demora algumas horas... parece que um dos seus vizinhos se prontificou a depor e um paramédico.

Maiara: E por que essa demora? Sorocaba, estamos aqui há horas!

Sorocaba: Fernando será o último e está preso por segurança. Acham...

Maiara: Que ele queria matar Luiz. — Completo infeliz.

Sorocaba: Eu vou resolver, tudo bem? Ele pediu que você vá para casa. Dê notícias a Stella.

Maiara: Velho cretino! — Resmungo. — Eu não posso acreditar que ele quis se aproveitar da situação, é tão ridículo!

Sorocaba: Sobre isso, vamos evitar comentar com Fernando por agora.

Maiara: Ele não precisa ser avisado sobre isso nunca. Já tem problemas o bastante com Bernardo, para acrescentar mais esse. Ficarei aqui esperando e... — o telefone toca mais uma vez.

Sorocaba: Melhor atendê-la. Fique com ela, Maiara.

Maiara: Um segundo... alô? Dona Stella?

Stella: Querida... — a voz dela some.

Maiara: A senhora está bem? Stella?

Sorocaba: O que foi? — Sorocaba intervém.

Maiara: Eu não sei... ela... Stella?

Agda: Maiara! — A voz de Agda surge para meu alívio. — O Marquinhos está chegando até você. Encontre-o — Sua voz soa tensa e começo a me preocupar.

Maiara: Agda, o que está acontecendo? — Sinto meu coração acelerar em uma ansiedade crescente.

Sabe o segundo que nos separa da boa e má notícia? Aquele momento de antecipação em que ficamos em suspenso, torcendo para que o tempo desacelere lentamente, a fim de que a parte ruim não chegue. É nesse segundo que me encontro.

Agda: Áurea. Maiara, sua tia acaba de ser levada ao Hospital e precisam de você.

Meu coração se parte em dois e, atordoada, começo a caminhar para a primeira saída que vejo, desconsiderando as vozes ao meu redor, apenas ansiando em encontrar Marquinhos.

Um Contrato de NoivadoOnde histórias criam vida. Descubra agora