Depois da Chuva

3. Como tudo começou

Chego na escola no primeiro dia de aula, estou atrasado como sempre, pois não é nada fácil para meu pai cuidar de uma criança de cinco anos, Maitê passou a noite com febre, o que fez  nós nos atrasarmos hoje pela manhã.

Entro na classe e vejo que tem apenas um lugar disponível, bem no meio da sala, peço licença a professora que já estava se apresentando e me sento, logo em seguida, olho para o lado, e nesse momento meu mundo para, pois vejo a garota mais linda que já vi na face da terra, seus olhos tem uma mistura de castanho com verde e brilham lindamente quando ela me olha sorrindo e diz sussurrando para não atrapalhar a professora.

— Oi. Sou Nicole.

— Oi Nicole, sou Noah. — Paro de falar, pois a professora nos olha torto, e eu faço um sinal de que conversamos no intervalo.

Pouco presto atenção no que a professora diz, a todo momento me pego olhando na direção de Nicole, reparo em seus longos cabelos castanhos e acompanho suas mãos delicadas e os pequenos sorrisos que ela dá enquanto desenha ou escreve algo em seu caderno, eu não consigo ver o que é, e quando finalmente chega o intervalo, eu fico em minha carteira esperando para ver se ela sairá com alguém, mas ela logo fala.

— Noah, sou nova na escola, não conheço nada e nem ninguém, tentei puxar conversa com as  meninas que sentaram perto de mim, mas elas não me deram muita atenção. — Ela para de falar e eu sorrindo digo.

— Bom, eu não sou novo aqui, para falar a verdade, sempre estudei nesse colégio, você quer lanchar comigo?

— Se você sempre estudou aqui, deve ter seus amigos, não quero te atrapalhar.

— Imagina, claro que conheço todo mundo, mas amigo mesmo, só tenho um, o Daniel, ele também será da nossa classe, mas só virá na semana que vem, ainda está viajando com a família. Vamos comer?

Vamos juntos à cantina e assim que compramos o lanche nos sentamos.

— Sinto que as meninas estão falando de nós, acho que não gostaram muito de me ver conversando com você Noah.

— Eu não ligo, só espero que isso não seja um problema para você, e então Nicole, você também tem quinze anos?

— Não, eu acabei de fazer quatorze, mas entrei adiantado na escola, e vim para essa  daqui, Porque a diretora da minha antiga escola sugeriu a minha mãe, dizendo que aqui é melhor. O que foi? Disse algo errado?

— Não, apenas lembrei da minha mãe, faz pouco mais de cinco anos que ela morreu. — Nem sei porque disse isso tão facilmente, normalmente não falo sobre minha vida particular com ninguém.

— Nossa, sinto muito, eu só tenho a minha mãe, não conheço o meu pai e não temos outros parentes, pois minha mãe não é daqui, ela é do Brasil.

— É quase como eu, mas além do meu pai, tenho uma irmãzinha, a Maitê, ela tem cinco anos, minha mãe morreu quando ela nasceu. — O sinal toca e eu e Nicole voltamos para a sala.

Na saída já trocamos telefones e vamos embora conversando,  nos próximos dias eu sempre ia ansioso para a escola, pois não via a hora de estar com Nicole, mesmo com a chegada de Daniel, ela rapidamente se tornou minha melhor amiga.

O primeiro mês de aula passou assim, Nicole até fez amizade com algumas garotas da nossa classe, mas a maior parte do tempo, passamos juntos, eu, ela e Daniel. Estamos indo embora quando eu resolvo falar com ela.

— Nicole, você quer ser minha namorada?  Eu gosto de você e não é só como amiga.

Ela me olha e sorri, concorda com a cabeça e quase que em um sussurro responde.

— Eu também gosto de você.

Eu então levo minha mão ao rosto dela, e sem saber muito bem como, pois nunca nem fiquei com ninguém, colo nossos lábios, minha língua instintivamente adentra a boca dela e por poucos segundos eu  exploro o interior de sua boca. Quando nos afastamos eu sorrio para ela e pego em sua mão, continuamos caminhando assim até o ponto de ônibus, e assim que ela embarca eu sigo para a minha casa.

Mais um mês rapidamente passou, estou combinando com Nicole de apresentá-la ao meu pai e ela também quer que eu vá conhecer a mãe dela, planejamos fazer isso na próxima semana. Hoje tenho jogo de futebol, e minha princesa vai estar na arquibancada.

Como preciso estar antes, vamos nos encontrar só após o jogo, chego para o jogo que é as quatro, por volta das três, tudo segue normal, até que quando já estamos aquecendo, Cibele que é uma das poucas garotas da nossa sala que fala com Nicole, chega me chamando, dizendo que minha princesa quer me dar um beijo de boa sorte, mas ficou com vergonha de vir aqui e pediu para eu ir encontrá-la atrás do vestiário.

Peço permissão ao treinador para sair por um momento, estranho pois ao chegar lá, não encontro Nicole, quando dou por mim Cibele está na minha frente.

— Onde ela está? Eu não posso — Sou interrompido por Cibele que rapidamente cola nossos lábios e me segura pelo pescoço, antes que eu consiga me soltar dela, escuto.

— Noah?

Empurro Cibele ao ouvir Nicole me chamar, assim que me viro, só consigo ver os olhos de Nicole cheios de lágrimas, ela sai correndo, tento ir atrás, mas dou de cara com Daniel dizendo que o treinador o mandou para me chamar.

Suspiro tentando me acalmar, Nicole deve ter entendido tudo errado, mas sigo para o jogo, durante todo o tempo procuro por Nicole na arquibancada, mas não a encontro. Mal consigo jogar, e assim que o jogo termina eu corro ligar para ela que não me atende, para o meu azar, não sei o endereço dela, sei o bairro, mas a rua e a casa ainda não sei. Não consigo dormir, e passei o fim de semana todo tentando falar com Nicole, mas ela não me atendeu.

Na segunda feira, minha esperança desceu pelo ralo, ao constatar que Nicole não veio para a aula, tentei descobrir se alguém sabia o endereço, mas  todos disseram que não, até na secretaria da escola eu fui, mas lá disseram que não podem passar dados de alunos. Cibele não se atreveu a chegar perto de mim, ainda mais depois que eu ouvi ela dizendo que fez aquilo para Nicole ver e terminar comigo.

O restante da semana Nicole não foi para a aula, e recusou todas as minhas tentativas de contato, por fim no domingo, depois de não sei quantas ligações, finalmente o telefone dela foi atendido e uma mulher que disse ser a mãe dela, pediu para eu não ligar mais, disse que Nicole não queria falar comigo e para  meu desespero...