Você quer?

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Noah

Acordo com Nicolas chorando, levanto com cuidado, para deixar Nicole dormir mais, vou ao quarto dele, e após trocar sua fralda, desço para fazer uma mamadeira, Nicolas ao contrário das gêmeas, pode mamar no peito, mas com dez meses ele parou, sempre foi preguiçoso e para sugar o peito. Ao chegar na cozinha, encontro minha irmã fazendo café.

— Má, me perdoa por ontem, não quis te ofender te chamando de criança, é que é difícil pra mim aceitar que a minha garotinha está virando uma mulher...

— Tudo bem Noah, espero que Josh não desista de ser meu amigo por sua causa.

— Se ele desistir, é porque não merece sua amizade.

— Você vai deixar eu ir ao cinema com ele?

— Nicole não convidou ele para almoçar aqui? —  Termino de preparar a mamadeira e me sento com Nicolas para ele tomar.

— Sim, mas eu quero ir no cinema se ele ainda quiser, pode ser no fim da tarde.

— Vamos ver, deixa o almoço acontecer, e aí nós vemos tudo bem?

Ela concorda, acabo tomando café com ela, pois Nicolas não voltou a dormir. As gêmeas acordam, eu as arrumo e dou café, perto das dez, acordamos Nicole.  Ela desce ainda sonolenta, ajeitando o cabelo enquanto olha para a mesa ainda organizada com o café da manhã.

— Bom dia. — Ela  diz a minha irmã e sorri ao ver as gêmeas correndo ao redor da mesa, enquanto coloco Nicolas no cadeirão. — Josh já está a caminho?

— Deve chegar em uns vinte minutos. — Maitê responde, mas parece um pouco nervosa.

Quando Josh finalmente chega, o clima no almoço é tranquilo, para minha surpresa. Ele é simpático e tenta me agradar a cada oportunidade, mas isso só me deixa mais desconfiado. Nicole, por outro lado, parece satisfeita em como as coisas estão indo, e as crianças adoram Josh, o que, de certa forma, me incomoda ainda mais.

Depois do almoço, Josh vira para Maitê, hesitante.

— Então... você ainda quer ir ao cinema? — Ele pergunta, acho que está  um pouco receoso da minha reação.

Maitê olha para mim, esperando a minha resposta.

Suspiro, cruzando os braços. — Voltem antes das dez, sem exceções.

Ela sorri radiante e me abraça rapidamente antes de correr para se arrumar.

Os dois saem, e, por mais que eu tente me distrair com as crianças e com Nicole, a ansiedade não me abandona até que voltam, como prometido, antes das dez. Josh se despede e vai embora, Nicole não me deixa fazer muitas perguntas, e sobe com Maitê.

Vou para o nosso quarto, e quando ela entra, diz que Maitê gostou muito do passeio, pergunto se Josh tentou algo além da amizade e ela diz que não. Mas não sei se acredito muito nisso, ainda não consigo me conformar com o fato de minha irmã estar saindo com um homem. Mas decido não insistir nisso com Nicole, pelo menos por enquanto.

Duas semanas passam com nossa rotina um pouco mais tranquila, já que o evento que fez Nicole entrar numa correria já tinha acontecido, porém, todos os dias Josh esteve aqui em casa, e nos fins de semana Maitê saiu com ele, mesmo eu não querendo, Nicole sempre me fez autorizar.

Hoje é terça-feira, e como já está virando costume, Josh passou por aqui e acabou jantando conosco. Logo que ele foi embora, Nicole e Maitê ficaram arrumando a cozinha e eu subi colocar as crianças na cama. Depois que os três dormem, eu desço para a sala de televisão, vejo minha irmã e Nicole subirem, mas continuo assistindo ao jogo, até que Nicole chega e me pega desprevenido, como sempre.

— Noah, eu tenho pensado sobre Maitê e Josh... — Ela começa, sentando-se ao meu lado no sofá.

Eu já sei onde essa conversa vai parar, e meu peito aperta.

— Nicole, nem começa. Eles são só amigos.

— Não, Noah, eles não são mais só amigos. — Ela suspira, calma, mas firme. — Eu acho que está na hora de você aceitar que eles se gostam, estão namorando.

— O quê? — Levanto do sofá, o calor subindo pela minha nuca. — Você tá falando sério? Ela tem 16 anos, pelo amor de Deus!

— Josh tem sido um bom rapaz, Noah. Ele respeita a Maitê, e você viu como ele é com as crianças. Não podemos mantê-la numa bolha para sempre.

— Eu não quero que ela cometa erros, Nicole. Ela ainda é muito nova pra isso e ele muito velho para ela.

— Todos cometem erros, mas eles precisam viver, Noah. E se for para Maitê ter um relacionamento, prefiro que seja com alguém como Josh, independente da idade dele, o que conta é o caráter. Você precisa confiar nela. — A voz de Nicole soa conciliadora, mas minha mente já está em outro lugar, alimentada por raiva e medo.

Depois de muita discussão, com Nicole sendo a voz da razão, eu cedo. Ela consegue me convencer, mas meu peito continua apertado. Maitê agora estava oficialmente namorando Josh, e eu mal consigo lidar com a ideia.

Aos poucos vou me acostumando com o namoro dos dois, mas sempre estou questionando Nicole e pedindo para que ela fique atenta, minha irmã não conversa comigo sobre o namoro, mas sei que ela conta cada detalhe a Nicole, e isso me deixa um pouco mais tranquilo.

Os meses vão passando e começamos a fazer alguns programas os quatro juntos, e agora já consigo ser mais amigo do Josh, ele é tranquilo e  frequenta bastante nossa casa, já que não tem família, e o fato de estarem sempre por aqui, me faz ficar mais relaxado com o namoro dos dois.

Nossa vida segue tranquila e mal posso acreditar que chegou o aniversário de 18 anos da Maitê, a festa está animada. As gêmeas correm pelo salão e Nicolas tenta acompanhar com seus passinhos trôpegos.

— Noah, posso falar com você? — Josh se aproxima de mim no canto da festa, enquanto Maitê dança com as amigas.

Respiro fundo e assinto, sem ter certeza do que esperar.

— Eu fui transferido para o Brasil pela empresa, é uma excelente oportunidade, vou gerenciar todas as concessionárias de lá. — Ele começa, cauteloso. — E eu gostaria que Maitê fosse comigo.

Minhas mãos se fecham em punhos automaticamente. O que ele está sugerindo?

— O quê? — Minha voz sai baixa, mas carregada de raiva. — Você quer levar minha irmã para outro país?

— Eu a amo, Noah. Quero construir uma vida com ela.

A raiva toma conta de mim, e antes que eu perceba, estou marchando para fora da festa. Nicole me chama, mas eu não respondo. Tudo o que consigo fazer é sair dali.

Vou direto para a academia, onde posso despejar minha frustração nos pesos e no silêncio, longe de qualquer discussão. Mas, no fundo, sei que essa luta ainda está longe de terminar.

Depois da ChuvaOnde histórias criam vida. Descubra agora