9. Esclarecendo o passado...

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Nicole encolhida no canto do cômodo  vazio, com a cabeça abaixada enquanto abraça seus joelhos. Paraliso por um instante, mas não demoro a correr até ela, que ou não percebeu minha presença ou não quis levantar a cabeça para ver quem era.

— O que aconteceu Nicole? — Questiono enquanto me abaixo em frente a ela, apensar de minha vontade ser tomá-la em meus braços e dizer que tudo ficará bem, eu respiro fundo, levo minhas mãos aos ombros dela e a observo atentamente.

— Droga! Vai embora Noah, porque está aqui? — Ela diz sem levantar a cabeça e em meio ao choro. 

— Vim trazer o cadeado, mas isso não importa agora, o que aconteceu? Me deixa te ajudar? Vêm? Vamos levantar desse chão... — Pego na mão dela que no mesmo instante me olha.

— Não aconteceu nada, vai embora, por favor...

— Nick, não vou te deixar aqui sozinha nesse estado. Além disso, eu preciso conversar com você, sei que se lembra exatamente quem eu sou e o que vivemos. Não sei o que aconteceu com você nesse tempo, mas por favor? Me deixa te explicar o que aconteceu naquele dia... — Digo praticamente suplicando, Nicole fica mais um tempo de cabeça baixa, mas ao começar a falar, ela me olha.

— Não há nada para explicar, aquilo ficou no passado, erámos crianças, nossas vidas seguiram e está tudo bem...

— Então porque você está nesse estado? Porque te incomodou tanto me reencontrar? — Droga! Questiono sem pensar, e não era isso que eu queria, não queria pressioná-la, mas ao mesmo tempo que estou preocupado com o rumo das coisas, triste e quase desesperado por vê-la chorar desse jeito, eu estou ansioso, pois se ela reagiu dessa maneira, é porque não me esqueceu e  ainda sente algo por mim.

— Porque eu sou uma idiota! Por favor, Noah, vai embora... — Ela fala me empurrando e se levantando em seguida, mas antes que ela consiga andar eu seguro novamente sua mão.

— Será que você pode pelo menos me ouvir? Prometo que depois eu vou embora se você quiser.

Ela suspira olhando para nossas mãos que agora estão entrelaças.

— Seja rápido, estou aguardando a entrega de alguns móveis.

— Tudo bem, senta aqui. — falo e me ajeito sentando no chão, Nicole senta ao meu lado e tenta puxar sua mão, mas eu não solto e me ajeito ficando de frente para ela. — Olha para mim, quero falar te olhando. 

Nicole permanece de cabeça baixa, suspira algumas vezes enquanto deixa escapar mais algumas lágrimas, e pela minha cabeça nesse momento fica a pergunta de o que ela está pensando ou sentindo. Após alguns minutos de um silêncio esmagador, ela finalmente volta a me olhar, eu respiro fundo e falo.

—  Não chora, me dói ver você chorando sem saber o porquê e sem poder fazer nada. — Suspiro, enquanto seco as lágrimas dela, que fica estática me olhando. — Como eu disse, não sei o que aconteceu com você nesse tempo, mas uma coisa é certa, se não tivesse acontecido aquilo no colégio, nós dois provavelmente ainda estaríamos juntos, eu nunca te esqueci Nicole, eu...

— Duvido disso, já que sua intenção sempre foi me namorar apenas até conseguir transar, a menos que ainda não tivesse conseguido isso, certamente já teríamos nos separado.

— O que? De onde tirou uma maluquice dessas?

— Não é maluquice, a Letícia me contou todo o plano, achou que se eu soubesse de toda a verdade sofreria menos por ter visto você aos beijos com a Cibele.

— Nicole não faço ideia do que você está falando, e outra, eu não estava aos beijos com Cibele, ela me beijou de surpresa, contra a minha vontade, justamente para que você visse e nós terminassemos. — Quem a interrompe dessa vez sou eu, mas que merda de história é essa?

— Para que mexer num passado que está morto e enterrado Noah? Segue sua vida e me deixa em paz.

— Morto para quem? Porque eu nunca te esqueci, e quero esclarecer aquele mal entendido, e pela sua reação ao me reencontrar, não posso garantir que você já tenha me esquecido... Por favor, me ouve e me conta o que aconteceu naquele dia. Eu juro para você, fui pego de surpresa por Cibele, eu jamais te trocaria ou te enganaria, o que eu sentia por você sempre foi verdadeiro, eu fui atrás de você, mas nem me ouvir você quis, me conta o que aconteceu, por favor? — Digo muito nervoso me controlando para não começar a chorar e Nicole suspira.

— Letícia me disse que você queria um beijo de boa sorte antes do jogo, mas para não levar bronca do treinador era para eu te encontrar atrás da quadra, quando fui para lá, te vi com Cibele. Sabe, te ver beijando outra não foi uma surpresa, algumas garotas já haviam me alertado sobre seu jeito pegador. Mas fiquei muito mal por ter me deixado levar pelos meus sentimentos e caído na sua lábia. Me senti uma idiota por ter pensado que comigo seria diferente, já que imaginei que nossa amizade e amor eram sinceros e recíprocos. Por isso sai correndo...

— Nunca fui pegador antes
do nosso término, você foi a primeira garota com quem fiquei, a única com quem namorei, essa história é mentira Nick, elas armaram para nos separar. Por favor, acredita em mim? — Ela me olha por mais um tempo, então prossegue.

— Para piorar a minha humilhação, tive que ouvir Letícia me contar naquela tarde, que você sempre ficava com Cibele, que costumava ficar com todas as garotas da escola, mas que Cibele era sua ficante fixa, e que aceitava isso porque gostava de você e sabia que sempre depois que você conseguia transar com a garota que estava ficando, você voltava para ela, e que você só começou a namorar comigo, pois disse que eu não aceitaria apenas transar com um ficante, então você teve que namorar para conseguir o que queria.

— Nicole, isso jamais aconteceu, eu nunca menti para você, fui sincero em tudo, inclusive quando te contei que era virgem também.  Como eu tentei te encontrar para te explicar, você sabe que liguei muito para você, até que sua mãe pediu para que eu parasse, ninguém quis me dar notícias sua, então não tive mais o que fazer. Respeitei sua vontade de não querer nem falar comigo, e depois disso sim, eu virei o pegador da escola, a única menina do colegio com quem não fiquei foi a Cibele, justamente porque ela armou para me separar de você. Me perdoa, por favor? — Suplico e sem pensar a puxo para meus braços, mas então...

Depois da ChuvaOnde histórias criam vida. Descubra agora