31. Por nós dois...

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Me abraça muito forte, e entre o choro intenso ela diz

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Me abraça muito forte, e entre o choro intenso ela diz.

— Eu não lembro o que aconteceu, mas tenho certeza de que você não tem culpa de nada, não se culpe, certamente se alguém tem culpa disso, sou eu, cai porque não devo ter prestado atenção onde estava pisando, sou eu que tenho que pedir desculpa, por culpa minha, nosso bebê se foi...

— Amor, olha para mim... Nicole, você não caiu por descuido seu, foi uma fatalidade...

— Desculpa interromper, mas nenhum dos dois tem culpa, aliás, ninguém tem, como seu esposo disse, a queda foi uma fatalidade, que infelizmente resultou na perda do bebê. Mas nenhum dos dois fez nada de errado em todo o processo. — O médico entra e diz nos interrompendo. Nicole o olha, mas não se solta do meu abraço.

— Obrigado doutor, ela acordou e não se lembra do que aconteceu, mas percebeu que o bebê nasceu, e eu expliquei tudo o que aconteceu. — Fico acariciando as costas da minha mulher, enquanto ele se aproxima.

— Essa falta de lembrança é comum em pacientes que sofrem traumas, vou examiná-la.

Rapidamente ajudo Nicole a se ajeitar na cama e me afasto, o médico a examina, faz algumas perguntas e após alguns minutos minha esposa questiona.

— Posso ir para casa? Vou poder ir no enterro do meu bebê, certo? Você marcou para amanhã, Noah?

— Calma senhora, pela cesárea a senhora já poderia receber alta amanhã cedo, a cirurgia foi realizada ontem a noite, mas pelo quadro neurológico e o tempo que ficou desacordada, por precaução, prefiro mantê-la aqui por mais quarenta e oito horas. — O médico tenta tranquiliza-la e ela volta a perguntar.

— Eu quero ir na despedida e sepultamento, podemos esperar todo esse tempo? Se não, pode me trazer o papel que eu assino, vou sair sem alta mesmo. — Minhas lágrimas rolam ao ouvi-la, ela em momento algum parou de chorar e mesmo tentando me apoiar e consolar, consigo ver a dor em seus olhos.

— Amor, eu sinto muito, não será possível, como você estava  em coma e os médicos não sabiam quanto tempo poderia demorar para você acordar, fui orientado a proceder com o sepultamento. Eu sinto muito, mas enterrei nosso anjinho hoje cedo. — Fico segurando a mão dela que não diz nada, apenas olha para o médico que volta a falar.

— Sinto muito senhora, mas esse é procedimento em casos como o de vocês, aconselho permanecer no hospital, vou pedir que uma enfermeira venha retirar as sondas, a da bexiga, foi colocada para realização da cesárea, que é procedimento padrão em qualquer cesariana, a nasogástrica, foi para podermos alimentá-la e mantê-la nutrida.

Nicole não o responde, apenas vira o rosto para o lado e segue chorando. O médico sai, e eu fico meio sem reação, então permaneço apenas acariciando a mão dela, não sei o que ela está sentindo ou pensando, tenho medo de ser invasivo e dizer ou fazer algo errado. Não quero que ela sofra ainda mais.

Logo a enfermeira entra e realiza a remoção das sondas, na sequência ela diz que Nicole pode tomar banho se quiser. Durante todo o processo, Nicole não diz nada, apenas segue as orientações da enfermeira. Eu agradeço e assim que ela sai eu falo.

— Vem amor, tomar um banho vai ser bom para você. — Vou até a bolsa e pego tudo o que é necessário. Após deixar no banheiro, volto e novamente falo. — Vem, eu te ajudo.

Pego a mão dela e a ajudo a levantar, ela permanece em silêncio, apenas chorando e eu faço tudo, retiro a camisola que ela está, dou banho, a seco, somente quando vou vesti-la, ela diz sem me olhar.

— Não vou vestir isso, não tenho quem amamentar, não vou usar essa camisola para amamentação... — Ela começa a chorar muito e eu a abraço.

— Está tudo bem, não precisa vestir, aqui, deixa eu colocar minha camiseta em você.

Coloco nela minha camiseta que eu tirei para poder dar banho nela, então voltamos para o quarto, eu a ajudo a sentar no sofá, penteio o cabelo dela, coloco outra camiseta e resolvo ir pedir a enfermeira uma camisola de hospital para deixar Nicole mais confortável. Dou um beijo nela e digo que já volto, quando retorno, ela está do mesmo jeito que a deixei, apenas chorando em silêncio. Retiro minha camiseta dela, e visto a camisola do hospital.

— Quer deitar amor? — Pergunto e ela nega com a cabeça, então pego uma manta, me sento ao lado dela a puxando para se apoiar em meu peito, cubro nossas pernas e começo a acariciá-la. — Estou aqui com você e por você, eu te amo, e farei tudo o que for necessário para que nós consigamos prosseguir, apesar de toda essa dor.

— Eu sei que sim, também te amo. — Ela responde e eu agradeço a Deus por ela falar algo, continuo então a acaricia-la. — Noah, você pegou ele no colo? Viu o rostinho dele?

— Não peguei amor, fiquei tão atordoado que nem perguntei se isso era possível ou se eu poderia vê -lo aqui no hospital, fui apenas fazendo o que foram me orientando. E eu vi sim o rostinho dele, quando cheguei para o sepultamento, pedi que abrissem o caixão...  — Falo com um nó na garganta.

— Como ele é?

— Lindo, igual você, estava sereno amor, parecia que dormia como um anjo, o anjinho que ele realmente é, eu dei um beijo nele por nós dois. Sinto muito por você não ter estado nesse momento.

— Quando sair daqui, você me leva lá?

— Claro que sim, e voltaremos lá para levar flores sempre que você quiser. Agora descansa, seu corpo precisa se recuperar. Quer ir deitar?

— Não, quero ficar aqui.

Concordo e permaneço a acariciando, ela  continua chorando, e já é quase manhã quando ela adormece, em seguida eu acabo cochilando. Acordamos com a enfermeira entrando. Após ela verificar Nicole, ajudo minha esposa a tomar o café da manhã e se deitar. Pergunto a ela se tudo bem deixá-la sozinha um pouco para eu ir tomar um banho rápido, ela concorda e eu sigo para o banheiro, tento ser o mais rápido possível, pois não quero deixá-la sozinha muito tempo, estou terminando de me vestir quando...

Depois da ChuvaOnde histórias criam vida. Descubra agora