Quanta coisa...

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Meu coração dispara, ao mesmo tempo que sinto um enorme orgulho da minha mulher, sinto uma profunda tristeza por tudo que estou ouvindo. Fico olhando fixamente para o celular, enquanto ele ainda tenta argumentar:

— Você está blefando, duvido que teria coragem para fazer algo assim.

— Pode acreditar, eu fiz, e agora estou indo embora, adeus Daniel, tomara que tenha algum jeito de você apodrecer na cadeia.

Nicole então sai do quarto, enquanto ele fica chamando por ela. Quando fecha a porta, ela caminha para fora do hospital, ainda transmitindo, somente quando encontra com o advogado é que ela encerra a transmissão.

Eu permaneço parado olhando para o celular, não consigo falar nada, Nicole me abraça, e nesse momento eu começo a chorar. Me sentindo um otário por não ter percebido que ele nunca foi meu amigo.

— Está tudo bem amor, o advogado apresentou o vídeo da live como prova e por isso você foi considerado inocente e solto, já que Daniel vai se recuperar bem e realmente você agiu em um momento de alto estresse e para me defender.

— Me perdoa? — Olho para ela.

— Não tenho do que te perdoar, só quero que você fique bem, quero ir para casa com você e seguir nossas vidas com nossa família. Se alguém tem que pedir perdão, sou eu, fiz você sair de casa, você não pode acompanhar a gestação das meninas como deveria e quase pedi o divórcio...

— Olha quanta coisa aconteceu por que eu não percebi o canalha que o Daniel sempre foi. Todo seu sofrimento foi culpa minha. Desde a nossa adolescência, ele causou tudo, e eu sempre o mantive em nossas vidas, achando que ele era meu amigo.

— Você não tem culpa de nada, ele te enganou tanto quanto enganou a mim. Você não é responsável por ele não ter caráter e ter fingido ser teu amigo. — Ela seca minhas lágrimas e me dá um beijo. — Agora acho melhor você descansar.

— Você também não tem culpa, eu não quero deitar.

— Então se encosta aqui, quero ficar quietinha nos teus braços um pouquinho.

Me ajeito no sofá, Nicole se aconchega em meu peito e eu fico acariciando o braço dela até que meu almoço chega. Como devagar, mas consigo comer tudo e não sinto vontade de vomitar.

Perto das três da tarde, o médico me libera, como estamos sem carro, Nicole chama um carro de aplicativo e assim que entro em nossa casa, corro abraçar minha irmã.

— Como você está minha princesa?

— Bem, e você? Senti sua falta.

— Estou melhor agora, estava morrendo de saudades. — Dou um beijo nela e então me aproximo do carrinho onde minhas filhas estão. — Como estão lindas, parece até que cresceram, estou louco para pegá-las no colo.

— Está esperando o que para fazer isso? — Minha sogra pergunta.

— Preciso de um banho antes...

— Vai lá amor, vou preparar um lanche para nós.

Dou um beijinho rápido em minhas filhas e subo. Quando entro em meu quarto, percebo que a cama foi trocada. Suspiro ao lembrar daquele verme em cima da minha mulher, mas vou para o chuveiro, tentando não pensar mais nele.

Desço e minha esposa preparou uma mesa enorme na sala de jantar, mas antes de sentar para comer, eu pego minhas filhas no colo.

— Elas estão dormindo tão tranquilas, tem certeza que não tem problema elas não estarem mais mamando no peito?

— Tenho Noah, fica tranquilo, lembra que eu disse que ia pedir ao médico um complemento mesmo. Está tudo bem, estamos dando o leite que o pediatra recomendou, elas estão bem, mas sentiram sua falta nesses dias, principalmente durante a noite.

— Papai nunca mais vai sair do lado de vocês. — Beijo a cabecinha de cada uma delas e as coloco novamente no carrinho.

Tomamos café conversando, e fico chateado quando escuto que nesses dias minha irmã não foi para a escola, ela já está com treze anos e não acho bom ela ficar faltando, mas entendo que além de todo o estresse, a demanda aqui em casa ficou complicada, então apenas digo que está tudo bem.

— O que quer fazer agora, amor?

— Quero subir com vocês e assistir um filme, vamos?

— Vão sim, filha, você não quer aproveitar que ainda estou aqui e tomar um banho? Eu arrumo as coisas na cozinha e fico de olho nas meninas enquanto isso. — Minha sogra pergunta e com isso, sei que ela quer me falar algo longe de Nicole.

Minha esposa concorda e sobe, eu aproveito e mando Maitê também tomar banho e assim que ela sobe, eu olho para Branca.

— O que aconteceu?

— Calma, como você está com tudo que aconteceu?

— Puto, por não ter percebido que tinha um inimigo ao invés de um amigo, mas preciso esquecer esse desgraçado, quero riscar ele de vez das nossas vidas.

—  Noah, vocês vão precisar trabalhar o emocional e o psicológico de vocês com o que aconteceu. Acho bom voltarem as seções com a psicóloga.

— Branca, o que está acontecendo.

— Noah, Nicole foi abusada, ele pode não ter concluído o ato físico, mas pscicólogicamenfe, ele a agrediu. Nicole reagiu, durante o dia e enquanto está ocupada, tudo parece bem com ela, mas a noite.

— O que aconteceu, Branca? — Já fico ansioso e preocupado.

— Ela ainda não dormiu no quarto de vocês, mesmo eu tendo trocado a cama, ela tem passado as noites no quarto das gêmeas, está dormindo pouco e tendo vários pesadelos, acorda chorando e gritando, mesmo com o remédio que está tomando.

— Talvez ela só precise que eu esteja ao lado dela para dormir tranquila, não vi nada disso acontecer no hospital.

— Será que ela dormiu lá?

— Não sei te dizer, acho que pelo menos um pouco deve ter dormido, mas eu vou ficar atento a ela, não se preocupe, amanhã ela me disse que marcou médico pra mim, vou tentar falar com ela para marcarmos com o psicólogo.

Ajudo minha sogra a ajeitar a mesa e guardar as coisas, ela se despede ele vai embora. Pego minhas filhas do carrinho e subo com elas, as coloco em minha cama e vejo que minha esposa está no banheiro, passando creme em seu corpo, mas assim que entro, ela...

Depois da ChuvaOnde histórias criam vida. Descubra agora